Às vezes, sem me dar conta da profundidade do que digo, saem-me umas frases, máximas – segundo a minha mãe, "saber de experiência feito" - segundo os meus cândidos alunos, maluquices - segundo os amigos, o costume - para o manos. O facto é que deixam toda a gente ou de boca aberta – mais de sobressalto do que de estarrecimento – ou (a maior parte das vezes "e") com o desejo de ouvir novamente o que eu disse, desta feita acompanhado das devidas legendagens, traduções e explanações metafisico-sociológicas. Para o bem ou para o mal, isso acontece-me muitas vezes. Não gosto. Coro infinitamente, vezes sem conta, ad aeternum quase. Mexo-me na cadeira. Garganta seca. Mãos suadas. Pálpebras trementes. Fico envergonhada. Constrangida. É como se eu fosse uma ave-rara qualquer tornada messias pela populaça. Não gosto. Na realidade, detesto, e nunca consigo fugir da situação. Afinal eu é que dou, literalmente, o mote. Abomino. Ter mesmo que apenas dois – é como se fossem oito, dez, trinta – olhos colados em mim, sequiosos, expectantes, numa curiosidade tão gulosa me vira e revira do avesso, me devora de fora para dentro e suga a minha paz de espírito, até ao tutano, é francamente odioso.
O que vale é que falo pouco. Muito pouco.
Há dias foi com a minha mãe. E ainda hoje, há pouco, tive que fazer um esforço para me lembrar do que tinha dito, ipsis verbis, acerca da situação que ela me descrevia pela enésima vez. Voltei a dizer-lhe o que achava, nas mesmas palavras, tal como ela pretendia. Para poder meditar em cada palavrinha e saborear o pensamento na sua especificidade, na sua profundidade (relativa, acho), para se regozijar com a minha acutilância e a minha agilidade de raciocínio, é mesmo mãe, e admirar-se com tamanha inteligência e inesperada sabedoria, é mãe pois claro, e prostrar-se ante a espontaneidade iluminadora, mãe – com todas as letras.
Ontem foi com uma das minhas amizades mais próximas.
“Às vezes a vida trata-nos mal e deixamos de acreditar…”, dizia-me. “Por isso é que, para mim, actualmente na nossa sociedade o Amor, verdadeiro, grande, é uma coisa que não existe…”, continuava.
Paralisou-me; tudo parou, imutável como numa fotografia; parei, eu também, no tempo. Só minutos depois voltei a mim, esbugalhei-me para o ecrã, quase desorbitava, mas sim, ainda estava do outro lado, cocei os olhos e a cabeça. E só lhe disse: É verdade, “…às vezes a vida trata-nos mal.” E a concórdia ficou por aí.
Depois aconteceu. De chofre, sem sequer pensar, não sei de onde, saiu-me: Uma vida sem o Amor (verdadeiro, grande) é o mesmo que um homem sem Deus. E lá tive que repetir muitas vezes e tentar, na medida do possível, explicar o - até para mim - inexplicável - porque articulara escassos momentos antes, sem querer quase. Enfim, já são muitos anos... esforcei-me, a bem do próximo. Então, um homem sem deus... Oco, vazio, insípido, a preto e branco, entediante... É uma realidade INSUPORTÁVEL, literalmente INVIVÍVEL, passe o neologismo.
Não vou agora pregar que Deus é Amor mas que o Amor não deve ser nunca deus para ninguém ou fazer a apologia do Catolicismo, do Budismo, do Judaísmo ou de uma outra qualquer religião. Não me compete. Esse ministério vai muito para além de mim.
O que vale é que falo pouco. Muito pouco.
Há dias foi com a minha mãe. E ainda hoje, há pouco, tive que fazer um esforço para me lembrar do que tinha dito, ipsis verbis, acerca da situação que ela me descrevia pela enésima vez. Voltei a dizer-lhe o que achava, nas mesmas palavras, tal como ela pretendia. Para poder meditar em cada palavrinha e saborear o pensamento na sua especificidade, na sua profundidade (relativa, acho), para se regozijar com a minha acutilância e a minha agilidade de raciocínio, é mesmo mãe, e admirar-se com tamanha inteligência e inesperada sabedoria, é mãe pois claro, e prostrar-se ante a espontaneidade iluminadora, mãe – com todas as letras.
Ontem foi com uma das minhas amizades mais próximas.
“Às vezes a vida trata-nos mal e deixamos de acreditar…”, dizia-me. “Por isso é que, para mim, actualmente na nossa sociedade o Amor, verdadeiro, grande, é uma coisa que não existe…”, continuava.
Paralisou-me; tudo parou, imutável como numa fotografia; parei, eu também, no tempo. Só minutos depois voltei a mim, esbugalhei-me para o ecrã, quase desorbitava, mas sim, ainda estava do outro lado, cocei os olhos e a cabeça. E só lhe disse: É verdade, “…às vezes a vida trata-nos mal.” E a concórdia ficou por aí.
Depois aconteceu. De chofre, sem sequer pensar, não sei de onde, saiu-me: Uma vida sem o Amor (verdadeiro, grande) é o mesmo que um homem sem Deus. E lá tive que repetir muitas vezes e tentar, na medida do possível, explicar o - até para mim - inexplicável - porque articulara escassos momentos antes, sem querer quase. Enfim, já são muitos anos... esforcei-me, a bem do próximo. Então, um homem sem deus... Oco, vazio, insípido, a preto e branco, entediante... É uma realidade INSUPORTÁVEL, literalmente INVIVÍVEL, passe o neologismo.
Não vou agora pregar que Deus é Amor mas que o Amor não deve ser nunca deus para ninguém ou fazer a apologia do Catolicismo, do Budismo, do Judaísmo ou de uma outra qualquer religião. Não me compete. Esse ministério vai muito para além de mim.
De resto, acredito piamente que existem vários deuses, tal como existem vários amores, várias verdades até. Pablo Picasso é particularmente feliz quando diz algo como: "Se a verdade fosse uma só, seria impossível pintarem-se tantas telas sobre o mesmo assunto." Genial. Memorável. Iluminador.
Acho que cada um tem um Deus à sua medida e um Amor também. À medida da sua vida. Verdades, para mim, óbvias. Todos os dias comprovadas em pequenas e grandes coisas. (Foi com isto que concluí a nossa conversa cibernética, ... FOR THOUGHT.)
E adorava poder fazer com que todos vissem isto mesmo pelos meus olhos. Mas não posso. Nem tento sequer. Todos somos diferentes e a grande riqueza está precisamente aí.
Eu sou assim. Esta é a minha verdade. O meu mundo. Simples, natural, espontâneo, gratuito e maravilhoso; tão bom, tão quente e tão fresco, tão vital, como respirar, beber água, andar a pé, apanhar sol, olhar uma flor ou o mar.
Acho que cada um tem um Deus à sua medida e um Amor também. À medida da sua vida. Verdades, para mim, óbvias. Todos os dias comprovadas em pequenas e grandes coisas. (Foi com isto que concluí a nossa conversa cibernética, ... FOR THOUGHT.)
E adorava poder fazer com que todos vissem isto mesmo pelos meus olhos. Mas não posso. Nem tento sequer. Todos somos diferentes e a grande riqueza está precisamente aí.
Eu sou assim. Esta é a minha verdade. O meu mundo. Simples, natural, espontâneo, gratuito e maravilhoso; tão bom, tão quente e tão fresco, tão vital, como respirar, beber água, andar a pé, apanhar sol, olhar uma flor ou o mar.
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