As minhas dores são incríveis. Têm este condão especial de me levar, pairando, à mesma Farmácia, mais ou menos à mesma hora, aquele cedo antes-que-seja-tarde-demais, ou aquele tarde demais-mesmo-demais quando já me posso enfim mexer. Olá, bom dia, queria uma caixa de, sem receita, o costume.
Apagam o tempo, também têm esse poder. A última vez é sempre, incrivelmente sempre, a primeira. A última vez é uma sem par, é a única. A última vez é aquele tempo sem tempo, aquele tempo que é só presente, aquele em que o presente não acaba porque, envenenado, se demora por uma eternidade.
Se me perguntassem onde lhe dói?, nunca me perguntam onde lhe dói?, é demasiado pessoal – parece-me, é mais seguro aferir do estado, dizer, porque dizer não implica quem diz, ou implica pouco, dizem, está tão branca, Joana, vou abrir a janela!..., mas se não fossem assim, se preferissem o perguntar ao aferir, se me perguntassem, de pouco vale perguntarem, mas no entanto se... não teria mãos bastantes, nem dedos ágeis o suficiente para apontar; não teria olhos para dirigir a resposta; não teria força no pescoço, aquele mínimo de força necessário para se conseguir articular uma palavra que seja.
Às vezes acho que as minhas dores são as maiores dores do mundo – é quando acho que sou uma grande pessoa, maior do que o mundo pelo menos, grande, porque com mais ou menos lamúrias, com mais ou menos esperança, lá as vou suportando, e chego até a ficar feliz, coisas de uma memória forçadamente curta, no intervalo. A minha irmã mais nova diz que não, que não são, que não sou. Diz que é tudo uma questão psicológica. Que a dor se combate no terreno mental. Eu não quero combater nada e tenho horror à palavra mente. É feia de dizer, soa feia ao ouvido, cola-se a uma série de outras, palavras e coisas, serve de desculpa justificativa para aquilo que é quase tudo que não a tem e ocasionalmente mostra a língua à verdade, feia, feia, feia. Só queria que me deixassem sossegada, as dores. Só queria a certeza de não mais. Só queria poder arrepiar caminho.
Espere aí que ainda falta sair o talão do Multibanco e assim fica mais um bocadinho aqui comigo.
Apagam o tempo, também têm esse poder. A última vez é sempre, incrivelmente sempre, a primeira. A última vez é uma sem par, é a única. A última vez é aquele tempo sem tempo, aquele tempo que é só presente, aquele em que o presente não acaba porque, envenenado, se demora por uma eternidade.
Se me perguntassem onde lhe dói?, nunca me perguntam onde lhe dói?, é demasiado pessoal – parece-me, é mais seguro aferir do estado, dizer, porque dizer não implica quem diz, ou implica pouco, dizem, está tão branca, Joana, vou abrir a janela!..., mas se não fossem assim, se preferissem o perguntar ao aferir, se me perguntassem, de pouco vale perguntarem, mas no entanto se... não teria mãos bastantes, nem dedos ágeis o suficiente para apontar; não teria olhos para dirigir a resposta; não teria força no pescoço, aquele mínimo de força necessário para se conseguir articular uma palavra que seja.
Às vezes acho que as minhas dores são as maiores dores do mundo – é quando acho que sou uma grande pessoa, maior do que o mundo pelo menos, grande, porque com mais ou menos lamúrias, com mais ou menos esperança, lá as vou suportando, e chego até a ficar feliz, coisas de uma memória forçadamente curta, no intervalo. A minha irmã mais nova diz que não, que não são, que não sou. Diz que é tudo uma questão psicológica. Que a dor se combate no terreno mental. Eu não quero combater nada e tenho horror à palavra mente. É feia de dizer, soa feia ao ouvido, cola-se a uma série de outras, palavras e coisas, serve de desculpa justificativa para aquilo que é quase tudo que não a tem e ocasionalmente mostra a língua à verdade, feia, feia, feia. Só queria que me deixassem sossegada, as dores. Só queria a certeza de não mais. Só queria poder arrepiar caminho.
Espere aí que ainda falta sair o talão do Multibanco e assim fica mais um bocadinho aqui comigo.
7 comentários:
Mas então onde é que dói?
Já é assim uma dor "amiga" visto que já lhe conhece as manhas...ou não? Na sua idade não é "decente" ter dores e ainda por cima amigas... Isso é comigo e tenho direitos de autor...
A sério: que é isso? Fico em cuidado.
Amiga JJ,
Et je pense en "La maladie d'amour" -A pior dor será aquela em que nos sentimos sós. A dor será isso mesmo uma inexplicável sensação de solidão. De Sardou a Aznavour com "Mourir d'amour". Pior do que a dor fisica será a dor mental, a que nos magoa.
hope you feel better tomorrow... *
Querida Maria de Lourdes,
Tem razão. A dor é uma coisa indecente (e em qualquer idade, sabe?... ;) E sim já lhes vou conhecendo as manhas, feliz ou infelizmente...
Não é nada de especial, não fique em cuidados, há dias como ontem em que me custa mais um bocadinho, mas nada que os "amigos" analgésicos não matem. :D
Loo Rock,
Também tem razão. Muito embora estas dores a que me refiro são dores físicas, realmente físicas, fisiológicas... enfim.
Vanessa,
Amanhã é sempre outro dia, não é? :D
Jinhos a todos.
O que eu sinto é que só com a dor é que crescemos. Que precisamos de senti-la, experimentá-la. Tirar prazer da dor, como dizem os budistas, para a nossa mente (-sim, eu também odeio a palavra 'mente', em todos os sentidos) se desenvolver de uma forma mais capaz, mais tranquila.
Tu és fantástica :)*
Beijinhos Joana.
confesso que neste momento me doi terrivelmente a cabeça e que o zomig se esgotou. vou a correr à farmácia e também sem receita vou castigar esta dor até a vencer
Frida,
Com elogios desses, menina, quem precisa de analgésicos? :P (Obrigada, és um bocadinho de céu...)
Comboio,
Sintonia?! :)))
Jinhos a ambos.
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