E isso não vale, miúda. Porque é que és assim, pá?! Olha, mesmo agora, acabaste de o fazer. Pronto, agora não, agora o famoso quatrocentos e quarenta e três, mas mesmo antes, ainda agora, há bocadinho, antes do silêncio e, não faças isso, deixa os sapatos, ouve, naquele milésimo de segundo em que me olhaste nos olhos com um começo de pergunta, nesse instante, como um tomate, vermelha como um tomate!, porquê?. Porquê, o quê?, é assim, sou assim, não controlo, é imediato, anterior a qualquer tipo de racionalização, não consigo, controlar, entendes? Consegues, faz um esforço. Porquê, há quem até lhe ache graça, sabes? Ninguém acha graça a quem cora assim, Joana, não uma graça boa, não uma que dure mais que dois segundos, aquele tempo exacto antes de te arrancarem a aorta. Arrancarem-me a aorta, dizes cada coisa, tu! Arrancarem-te a aorta, sim!, até parece, olha o que vale é que só no-la arrancam uma vez, depois disso, que dois segundos!?: dois chapos. Dois chapos, tão nortenho!, só tu realmente! Dois chapos, sim, não corar, não olhar sapatos, não quatrocentos e quarenta e três, sim acabar a pergunta que o olhar sempre começa, sim dois chapos se a resposta não o for de facto, dois chapos sim!, mas só a arrancadores de aorta e outros que tais, vampiros!, às funcionárias das lojas que se querem mostrar prestáveis, não é preciso. Não percebi, explique-se. Esta manhã, no shopping, a menina que te queria ajudar a escolher a mala. Ah isso, não gosto, sabes perfeitamente, eu sei o que quero, sabia bem qual era e corei claro!, mas porque invadiu o meu espaço. Estava a fazer o trabalho dela. Sim, mas entende, eu já tinha. Tinhas e tens uma noção de espaço pessoal muito pouco perimetral, essa é que é essa. Perimetral!, que inspiração!, hoje estamos de uma verbosidade..., e... não tenho nada disso, só não gosto de sarilhos, ou só gosto, aprecio particularmente, o meu sossego, como queiras. Só gostas é demasiado, e sem critério, esse é que é o problema. Há outra maneira de gostar? Há claro, uma em que a culpa também é dos outros, contigo a culpa nunca é dos outros, nunca pode ser dos outros, sem hipótese, tu chegas-te sempre à frente com a estúpida da adrenalina, é sempre tua, a culpa, a sério, porquê, miúda? Oh, estás a fazer com que me sinta desconfortável. Ui!, então?, desculpa..., não é caso para tanto, faz-te bonita a adrenalina, sabes?, nem precisas de usar blush, nem nada..., só que, faz-te mal também, faz fazerem-te mal, entendes?, este telefonema, esta chamada não-atendida que nem telefonema foi, isto, isto não é nada, entendes?, não justifica essa descarga toda, nem o susto, nem o constrangimento, nem a preocupação, as coisas do costume que fazem com que, oh dá cá um abraço, vá.
Ou de como são bonitos, os feriados.
Ou de como são bonitos, os feriados.
2 comentários:
não é por nada mas este texto foi uma chapada na cara para mim também.
(e até já me imagino a corar e tudo.)
beijinho e um abraço maior*
Vanessa,
Pois é. Só agora me ocorre que tu. Também. Na perfeição... Oooops!
Metade para mim, metade para ti, não dói menos, mas.
Obrigada e para ti também. :*
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