Chegar a uma cidade de manhã, quando de manhã é cedo mesmo cedo, é como ter nove anos e deixar tudo para espreitar as formigas do carreiro. Tudo: os problemas, as pressões, os projectos, o Projecto com lista-de-coisas-a-fazer-neste-dia apensa, a memória: aquela música do ipod no comboio que lembra quando, tudo.
Hoje, véspera de São João, não reconheço a cidade a que chego todos os dias de olhos quase abertos por detrás dos óculos de sol. Hoje Braga sem uma única formiga, hoje, ainda há pouco, Braga uma menina de seis anos a arrastar ouros e vestes de minhotas de tempos antigos, hoje, ainda há pouco Braga uma banda aprumada de trinta gravatas roxas em trinta pescoços adolescentes, não completamente aprumados, vai lá buscar o casaco ao carro se faz favor.
Hoje, véspera de São João, se os punhos amarelos, gravata igual, não se tivessem sentado na vizinhança do que é costume, se o rapaz lá em baixo no guarda-sol ao pé do lago não fosse o rapaz de todos os dias lá em baixo no guarda-sol ao pé do lago, se a senhora que está na minha sala não fosse a senhora que está na minha sala, sempre, este mês, hoje, podia jurar, Braga silente, Braga vazia, Braga quieta, um sonho mau.
Hoje, véspera de São João. Hoje, alhos e espirros, martelos e sorrisos, e os quase beijinhos e os quase abraços, no atropelo da multidão numa noite quente que não acaba. Avenida acima, avenida abaixo. Avenida acima, avenida abaixo.
Hoje, véspera de São João, não reconheço a cidade a que chego todos os dias de olhos quase abertos por detrás dos óculos de sol. Hoje Braga sem uma única formiga, hoje, ainda há pouco, Braga uma menina de seis anos a arrastar ouros e vestes de minhotas de tempos antigos, hoje, ainda há pouco Braga uma banda aprumada de trinta gravatas roxas em trinta pescoços adolescentes, não completamente aprumados, vai lá buscar o casaco ao carro se faz favor.
Hoje, véspera de São João, se os punhos amarelos, gravata igual, não se tivessem sentado na vizinhança do que é costume, se o rapaz lá em baixo no guarda-sol ao pé do lago não fosse o rapaz de todos os dias lá em baixo no guarda-sol ao pé do lago, se a senhora que está na minha sala não fosse a senhora que está na minha sala, sempre, este mês, hoje, podia jurar, Braga silente, Braga vazia, Braga quieta, um sonho mau.
Hoje, véspera de São João. Hoje, alhos e espirros, martelos e sorrisos, e os quase beijinhos e os quase abraços, no atropelo da multidão numa noite quente que não acaba. Avenida acima, avenida abaixo. Avenida acima, avenida abaixo.
Pensava nisto, na única vez que fui ao São João de Braga, já lá vão quase dez anos, pensava nisto, nas barraquinhas, nas farturas e nos amigos de então, pensava nisso quando há dias encontrei as ditas barraquinhas a milhas da avenida, pertíssimo do sítio onde almoço, pensava nisto há dias quando de passagem depois do almoço, pela avenida, agora renovada, agora jardim, agora mar de amores-perfeitos e violetas, olha, nem de propósito, para ti que acreditas num amor único, não, nada disso, eu acredito é num amor-perfeito-único, a perfeição é que é única, não o, ou isso, como queiras, ora, quantos amores-perfeitos temos aqui?, começamos a contar?, oh, és mesmo, perfeitos, perfeitos, só aqueles, amarelos e castanhos, não, perfeita perfeiiiiiiiiiiiiiita, só a Super-bock sem alcóol, aiiii, és mesmo totó!.
Hoje, véspera de São João, tomei o pequeno-almoço no sítio do costume, os meus livros apertados entre o café e o sumo e um manjerico pequenino, sem cheiro, e a pretender graças de rimas entre ervas de chá e ervas de namorados. Seria um bocadinho triste se não houvesse por todo o lado fitas e balões, luzes e cor. E um Bom São João! a cada despedida. Tal como a avenida, agora sem barraquinhas, agora só flores, um pouco triste, não houvesse luzes e cor. Luzes e cor. Acho graça. Acho graça a tudo o que brilha. No fundo a festa é isso. Tudo o que brilha.
Hoje, véspera de São João, temos uns amigos madeirenses a jantar lá em casa no Porto, acho graça a tudo o que brilha e àqueles amigos madeirenses que vêm jantar lá em casa no Porto, porque sempre brilham quando nos enchem a casa de grandes risos, acho graça, e doces recordações de outros tempos e outras casas, luzes e cor. Hoje, véspera de São João, logo, quando estiver a preparar o jantar, acho graça, quando ajeitar a rima ao manjerico da bancada, luzes e cor, quando lhe sentir o aroma vivo na cozinha, sempre brilha, hoje, logo, no Porto, Braga, daí a nada noite dentro, acho graça, uma avenida inteira de amores-perfeitos, lá longe, quando me despedir dos amigos e dos irmãos, tudo devidamente munido de martelos e sorrisos para uma noite quente que não acaba, luz e cor; hoje, logo, no Porto, Braga, à secretária noite dentro, uma avenida inteira de amores-perfeitos, lá longe, até quinta.
Quando se tem nove anos e nos deitamos de barriga para baixo, pernas cuzadas em cima, o brilho está em todo o lado.
4 comentários:
ai menina que isto não se faz! lembrei-me do s. joão de mão dada pela avenida abaixo. das barraquinhas que vendiam anéis secretos e manjericos. e dos amores perfeitos. :) tantas saudadinhas...
mas pronto - hoje, véspera de s. joão - porto. porto. porto.
beijinho*
Engraçado..acho que nunca fui a nenhuma noite de S.Joao! Aqui é o Santo António, e o S. Pedro! MAs hoje vou a Braga, ao final do dia, não pelas melhores razões (-leia-se: fazer uma frequencia) e pode ser que sinta qualquer coisinha..se bem que acho que para aqueles lados da minha Universidade não se deve passar grande coisa! Ai como eu gostava que ela fosse no centro =))
Um beijinho Joana. E diverte-tee =))*
A começar por ti.
Toma lá uma porrada d'alho
Bjs
Vanessa,
Porto, Porto, Porto, eu também. :))))
Frida,
Nem que seja no movimento das pessoas, no trânsito, verás/sentirás a diferença. Comigo foi assim esta manhã. :D
Erecteu,
Alhada devidamente retribuída. :P
Jinhos a todos.
Enviar um comentário