segunda-feira, janeiro 29, 2007

É a mais nova, não é?

Sempre tive (e tenho) como óbvio que a idade é um fenómeno psicológico. E isso sempre foi suficiente para explicar por que razão certas pessoas, de idade que podemos até considerar avançada, que conheço, sempre me pareceram joviais (por vezes mais até do que eu própria). A minha mãe, por exemplo, é assim.
A idade é então um número apenas, o somatório de uma vida de experiências e vivências mais ou menos positivas, mas sempre marcantes.
Esta minha teoria menospreza a quantificação objectiva, a matemática do tempo, porque pura e simplesmente se centra no carácter, na força, na alegria que dimana de cada indivíduo.
Estou cá há menos de uma semana e já não posso com as confusões das amigas, das antigas alunas, das conhecidas e das desconhecidas da minha mãe.
"É a mais nova, não é?"
Não, não sou a mais nova, sou por acaso a mais velha. (!)
Verdade que há quase um ano que não vinha à Madeira, verdade que desde há oito anos sempre que cá venho é de fugida, duas semanas no máximo, verdade é que até somos parecidas - eu e a mais nova - mas ainda assim é muita gente a dizer o mesmo. Não gosto.
Reacção primeira, informar a família, vulgo os pais, da necessidade de mudar o guarda-roupa. "Vou deixar de sair de jeans e camisolas de lã. Tenho que vestir à senhora, como vou às conferências, ou como vestia quando dava aulas na Faculdade, a ver se me respeitam." A minha mãe ri-se. Diz que vou parecer ridícula. Diz que o que acontece, só acontece porque os meus vinte e cinco anos não são aparentes: "São vinte e cinco disfarçados... olha, disfarçados de dezanove ou vinte!"
Dezanove ou vinte? Dezanove ou vinte é PRECISAMENTE a idade da mais nova! Mau, mau, querem ver que as amigas da minha mãe têm mesmo razão.
Bem, andei cá a pensar, porventura demasiado para assunto tão superficial e desinteressante (pois... não tenho trabalhado quase nada...), e acho que só pareço o que pareço - adolescente, adolescente, adolescente - porque penso exactamente assim - adolescente, adolescente, adolescente.
A Maria de Lourdes é que tem razão. Pouco mundo (pouquíssimo), muito entusiasmo, demasiado ardor... tudo isso e muito mais. (E assim continua a ter a validade de sempre, a minha teoria).
O pior..., o pior é que acho que não cresço tão cedo.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Do dia


Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.


Antoine de Saint-Exupéry, Cidadela

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Casas?

Casas.
Os ingleses dizem que casa é onde está o coração - é suposto o coração estar num sítio apenas, suponho, e se calhar até está, mas... - tenho duas casas.
Uma, a primeira no pensamento e na fala. É a do Porto. Minha, minha, minha. De sempre (mesmo quando ainda vivia na Madeira). Para sempre (sei...). É a que organizo, arrumo, limpo, decoro, estimo, tenho como minha, minha, minha. Sempre. Aquela a que cheguei do outro lado do mundo, aquele que passei estes dois dias (quase) inteirinhos a limpar e arrumar - três manos universitários não terão tempo para essas minudências, pois claro! - aquela que tem o melhor sofá do mundo, os melhores dvds, os quartos mais quentinhos, a minha cama, grande, grande, grande, a (minha) almofada, perfumada, fofa, dura... melhor do mundo. A minha casa no Porto. A nossa casa, dos manos, dos quatro.
A outra é a dos pais. Reitero: não é minha, é a dos pais. Mas o coração está lá, não da mesma forma irracional e apaixonada da primeira, mas está... doce, terna, serenamente lá. Aqui. Na Madeira.
Acabo de deixar a minha mãe numa Acção de Formação, que está a ter lugar, curiosamente, na minha Escola Secundária. Nunca mais lá tinha ido, desde o final do décimo segundo ano, há oito anos atrás. Está igual. Tudo. Eu é que mudei, e tanto!...
Mudamos sempre, todos os dias, mas mais quando vamos para fora. Tenho isso como muito certo. Sinto-o em mim. Não se muda necessariamente para pior. O medo de toda a gente é que se mude para pior, eu acho que se muda sempre para melhor, nas circuntâncias que enunciei, claro. Outras paragens abrem-nos sempre os horizontes, a mentalidade e o coração. Por isso é que viajar é tão bom, aconselhável a miúdos e graúdos, em lazer ou em convalescença. A isto acresce o privilégio que constitui sempre qualquer oportunidade de viver noutro país e contactar com outras culturas.
E se no durante varias vezes nos socorremos da âncora que nos lembra do que é realmente importante, nada melhor do que no depois regressar a casa e sentir a âncora no peso, no valor e na importância que ela tem ou que lhes damos ou ambos.
Depois de cometer a proeza de deixar as chaves dentro de casa, bem ao lado da bagagem a vinte minutos de partir para o aereoporto em Houston, depois de me aperceber à saída do avião em Paris de que dispunha de vinte minutos apenas para chegar ao terminal mais longínquo do aereoporto, passar pela segurança e embarcar para o Porto, ofegante e suada (adivinho que vermelha, também yuck!!!), depois de chegar ao dito de carro (privilégios) e duvidar da mesma rapidez e agilidade por parte dos senhores que fazem a tranferência das bagagens, mas me ser assegurado o oposto, depois de chegar ao meu Porto sem malas (naturalmente!), depois de uma temporada nos Perdidos e Achados... nada melhor do que passar dois dias (quase) inteirinhos, a quatro, em casa: a arrumar e a limpar, a cozinhar, a ver dvds, a rir, a discutir, a receber as malas, a abrir as prendas, a fazer figuras tristes, a fazer figuras alegres, a não fazer nada... Ah, também fui às compras e ainda jantei com alguns amigos... ai, a felicidade é uma coisa tão simples!
Bem, ontem cheguei à Madeira, com quase uma hora de atraso, pus-me na conversa com a minha mãe até às três da manhã, acordei hoje ao meio-dia, esqueci-me de lhe fazer o almoço, esse meu atraso quase comprometia a chegada a horas à Acção de Formação, mas não...(não existem grandes distâncias na Madeira!) e sabem que mais... precisava mesmo disto!
Ter uma casa é a melhor coisa do mundo (Porto! Porto! Porto!), mas ser parte de uma (Madeira!), como eu agora, é do melhor - só mimo!...

sábado, janeiro 20, 2007

I'll be seeing you, Houston



Esta música... O sul dos EUA... A Billie... Eu... Esta música...
De sempre. Para sempre.

I'll be seeing you, Houston.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

If you wanna get angry...

Furious me (on the left) and Linda(with mega-hand, on the right)

... do it like me: Get angry with a smile!...*

* Pec inspired.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Aula das 2.30 pm, Bill... Bill, aula das 2.30 pm

Bill Clinton

THE DIRECTOR OF THE JAMES A. BAKER III INSTITUTE FOR PUBLIC POLICY RICE UNIVERSITY CORDIALLY INVITES YOU TO ATTEND A SHELL DISTINGUISHED LECTURE SERIES PRESENTATION BY THE HONORABLE WILLIAM J. CLINTON 42ND PRESIDENT OF THE UNITED STATES
THURSDAY, FEBRUARY 8, 2007 3:00 P.M.
FOLLOWED BY A QUESTION AND ANSWER PERIOD
STUDE CONCERT HALL
ALICE PRATT BROWN HALL
RICE UNIVERSITY
SECURITY MEASURES WILL BE IN PLACE.
LIMITED SEATING IS AVAILABLE, PLEASE RESERVE YOUR SEATS EARLY.


(Americanices follow...)

To obtain your reservation, please send us your name and your contact information by e-mail. Please include your name in the subject line. You may only rsvp for one person. You will receive an email confirmation if you have a reserved seat. Security measures will be in place for this event. Accordingly, we ask that you arrive early and are seated by 2:30 pm.

SPECIAL INSTRUCTIONS

Given the special requirements that this event entails, we appreciate your cooperation on the following procedures. Please note than this invitation is non-transferable and intended only for the stated recipient only. Valid photo identification will be required for admission. No briefcases, backpacks, purses, packages, cameras, cell phones, or pagers will be allowed. Guests may be asked to pass through magnetometers as part of the security measures. Parking for this event will be available in West Lots 1 and 2 across from Alice Pratt Brown Hall. Please use Entrance 18 off Rice Boulevard and follow the Baker Institute Event signs.

Bem, digam o que disserem as monikas, as hilaries, as chelseas, os gores, os kerries, os bushes, os cheneys, as condoleezas, todos esses e todos os outros - e contra factos não há argumentos -, este senhor inspira-me. Por todas as razões (humanas, políticas, económicas, artísticas, ambientais...). E sem razão (nenhuminha...).

Por falar em falta de razão... Este título... deixa muito a desejar. Esqueci-me de que a 8 de Fevereiro já não estou cá, e portanto a questão aula das 2.30 pm (ou conferência) nem sequer se põe! Não ando mesmo bem.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Para não me esquecer (e rir)

Quando cá cheguei.
- Wait, let me open the door... (...) So, I don't really know why (shouting...) she's still staying with me. (Perhaps because - only God knows why - you offered...) I guess some people are just like that. You know, Europeans...
-Monica, I'm moving out - first thing tomorrow morning.

Antes de ir para NY.
- Pum, could you give me a ride this Sunday to the airport?
- No.
- No?! Are you busy tomorrow at 2 pm?
- No.
- Oh, ok. (Big smile, daqueles que abafam tudo o mais que nos passa pela cabeça). Thanks anyway. (No, No, No... in my head.)

No America's.
- Everything is so beautiful here...
- Yeah, you know Joana, whenever Chris wants to impress somebody... He brought me here in our first 'unofficial date'. I was like...
- (... like... Me? Overwhelmed?) I see.

No Natal.
- Hi, what's your name?
- Hi sweetie, my name is Joana, but you can call me Jo, and yours?
- Hey Jo, where are your children?
- I don't have children, pumpkin.
- Yes you do, they're at your place.
- No, I don't have children.
- Yes you do, at your home!

No English Corner.
- Não, porque esta é diferente, a minha ex-namorada era de boas famílias e tal, muito certinha, esperava por mim o tempo que fosse preciso para acabar o PhD cá e tudo... Esta não, esta é toda maluca: quer viajar, conhecer o mundo, e fazer o PhD na Holanda!...
- Manu, as meninas certinhas também gostam de viajar, conhecer o mundo, e até fazem parte do PhD nos Estates e tudo...
- Pois, realmente, tu... Mas tu és tu. Tu és diferente.
- Isso sou. Mesmo.

Na festa do Raj.
- E então é isso, Manu. O pessoal do meu Departamento é assim... alternativo.
- Oh deixa lá, no meu também. Tudo maluco.
- Pois, mas não assim... ó, estás a ver?
- Não, realmente, assim... não. (...) De facto, és a única pessoa normal no teu Departamento.
- Pois...

terça-feira, janeiro 16, 2007

Ontem...


Chloe and Chris (my office mate, the organizer)


Me on the background, Linda on the foreground

Monica's hands, Gu-Jing, So-Yeon, Dave (my other office mate) and Chloe (Chris' girlfirend)

Esta semana é só festas... mas ontem, ontem foi especial.

http://www.restauranteur.com/americas/menu.htm

Festas

The cool people... dos outros não rezam as fotos!

Anteontem fui a uma festa. A festa que começou por ser a minha, de despedida, e acabou por ser uma salganhada horrorosa de pessoas estranhas, esquisitas, muito fora do comum e com as quais pouco tenho a ver.

Explico: o Raj, um dos meus fãs – não gosto, mas tenho de o admitir, a bem da verdade, acordou um dia da semana passada – enquanto eu me perdia em NY, a comer um pretzel e a sorver golinhos do frio cortante do Central Park (ou quando estacava, em choque – bom, muito bom – frente ao “The House of Nazareth” do Zubarán no Guggenheim, ou quando queimei o céu da boca, perdão o palato, sejamos científicos, à força de tentar aquecer o coração com o Chocolate quente da Starbucks no WTC… Não vão lá. O vazio do ground zero é de um abandono gritante, enlouquecedor, de uma frieza, sepulcral, corrosiva, mau demais!...) com a surpreendente ideia de me organizar uma festa de despedida. Convidou meia dúzia de pessoas que eu conheço e com as quais me dou bem – os amigos que temos em comum – e mais, partiu do pressuposto de que eu traria o Manuel comigo – verdade, verdadinha, o pessoal daqui começa a conhecer-me, ou pelo menos a registar os meus hábitos. Até aí tudo bem. Ofereceu-se para cozinhar ele tudo, desde as entradas à sobremesa, comida indiana, vegetariana e não vegetariana. Por falar em tentar impressionar uma rapariga… As bebidas ficaram por conta do Manuel, da Linda e do Pascal. E tudo se encaminhava para um sábado mais ou menos normal entre amigos.

Não estava à espera, não me dou muito com o Raj, tradução para Portugal, falo com o Raj, como falo com outra pessoa qualquer. É meu amigo? Não. Conhecido? Talvez, nem sei bem. Não sabe de que músicas gosto, que livros leio, e só há pouco se apercebeu de que sou vegetariana, mas a surpresa foi agradável. Foi, até ao momento em que de seis ou sete sete passaram a ser vinte e sete os convidados! “It got out of control, Joana, but you don’t mind, do you?” “Erh... No, Raj, I don’t mind.” A festa é tua, a casa é tua, os amigos são teus. Pensei, não disse. Claro que me importo! Quando é uma festa da Universidade podem estar milhentas pessoas que eu não conheço que não faz mal, mas na casa de alguém noblesse oblige que se entabule conversação para conhecer ou se dar a conhecer, ou ambas as coisas. E isso não é um problema, já foi, agora não. O problema é que o Raj conhece muita gente, muito alternativa, demasiado alternativa, até para uma ‘católica-vegetariana-meditativa’ como eu…

Nunca fui a nenhuma festa, quando era miúda. Quando andava no Colégio. Nunca ninguém me convidou. E a minha mãe agradecia aos céus essa infelicidade, por impossibilidades práticas de retribuir o convite, porque passava a semana a trabalhar, ia para o curso à noite, e os sábados e os domingos eram passados a lavar e a passar roupa e a preparar a semana seguinte e nunca eram grandes o bastante. E eu achava, não sei porquê, que isso era normal. Até a minha irmã ir para o Colégio e ser convidada para todas as festas possíveis. E eu começar a pensar que alguma coisa andaria mal no reino Joanino. Não teria a ver com o peso, que a minha irmã sempre foi anafadinha, muito mais que eu alguma vez; porventura teria a ver com a roupa, lá em casa nunca se ligou a marcas – a minha mãe não tinha muito tempo também; mas a minha irmã vestia mais ou menos como eu… Se calhar tinha qualquer coisa a ver com o desempenho nas aulas de Educação Física: eu era uma nulidade; a minha irmã, de uma agilidade sem comparação – e gordinha! Um dia percebi que não era nada disso (ou seria a súmula de tudo), um dia, não me recordo já se antes ou depois da festa da Sandra e do Bruno… um dia o Luís perguntou-me se ia à festa da Marta. Acho que a Natacha me tinha perguntado primeiro, enquanto fazíamos um exercício de Inglês em grupo. 9º ano, professora Suzel. Lembro-me bem. Mas o clique só se deu quando foi o Luís a perguntar.

A Marta era da minha turma no Colégio e por coincidência, nesse ano, também era da minha turma no Instituto. A Marta, como todas as meninas ‘muito’ bem do Colégio, era boa aluna; mas não se situava no meu nível, nem na escola, nem no Instituto. A Marta era infantil, pelo menos mais que eu, e chegava ao Colégio e dizia ao Luís e aos outros e aos professores com que calhava termos aulas, que eu tinha sempre os melhores resultados de todo o Instituto. Percebo por isso a naturalidade do Luís em perguntar-me da festa. O sim era quase garantido. E, pelos vistos, o fim-de-semana prometia. Ela tinha convidado toda a gente da nossa turma e alguns das outras turmas de 9º ano. Bem, quase toda a gente. Não me convidou a mim, nem a duas outras raparigas, uma que morava no campo, outra filha de emigrantes. Eu e elas, elas e eu. Minorias. Mas “eu” e as “minorias” não combinávamos, segundo o Luís: “… como vocês são amigas, do Instituto e tal, pensei…” Pensou. E travou, incrédulo e cabisbaixo (triste?), antes de me dizer o que tinha pensado. (Tinha pensado em pedir-me para o acompanhar, soube-o já nem sei por quem, na segunda feira.) Porque à festa da Marta só podiam ir casais, as meninas de vestido e os rapazes de fato, blaser pelo menos, tá?

Tínhamos catorze anos. E já aos catorze anos a menina Marta era uma sectária de primeira! E, não posso censurar o Luís, aos catorze anos a trangressão à norma instituída ainda só funciona em relação aos pais e não em relação ao mundo – se fosse aos dezassete…

Fui para casa e contei à minha mãe. E ela teve pena. E tentou consolar-me. Mas não havia consolo possível: todo o fim-de-semana a festa da Marta ocupou-me os pensamentos, adormeci e acordei a pensar nisso, e na segunda-feira, o que me arrancou da cama manhã cedo, pela primeira vez, não foram as aulas, mas o desejo de saber como tinha corrido a festa da Marta.

Um fiasco. Muito casal de catorze anos, algum álcool… as coisas descontrolaram-se. Uma festa pretensamente bem, leia-se super-exclusiva, que se tornou uma seca, só apimentada por umas hormonas que, aos catorze anos, os rapazes não controlam bem… Depreendi eu, do que dizia o Luís, à boca cheia, naquela segunda feira de manhã, lá na escola. E o disse-que-me-disse não agradou obviamente à Marta. Discutiram feio, “Tens muito a mania, sabias? Quiseste convidar só quem te caiu no goto, e olha no que deu!” “Mas tu foste, não foste? Podias ter ficado em casa.” “E ia perder aquele espectáculo ao vivo? Nem pensar.” Desde então e até ao final do ano, imperou a boa educação entre os dois, apenas.

Quando o nono ano acabou, fomos para o Secundário em escolas diferentes. Eu continuei no ensino privado, ela optou pelo público. Nessa altura estava in entre os meninos ‘muito’ bem. Ela, a prima, o Luís e muitos outros foram para o Liceu. Perdi-lhes o rasto quase por completo.

Lembro-me de uma vez, já no décimo primeiro ano, ter encontrado casualmente o Luís, acompanhado da mãe. Avistei-o ao fundo da rua, não contive o sorriso, mas achei que dois anos era muito tempo e que, quase de certeza, não me iria reconhecer. Tive uma surpresa. Reconheceu-me imediatamente! Acelerou o passo e apressou o seu melhor sorriso. E cumprimentou-me com o mesmo à vontade, a mesma satisfação e o mesmo sorriso, maroto, de outrora. E ainda me apresentou à mãe.

Acho que foi também nesse ano que a Marta, descontente com a opção escolar tomada, veio à minha escola, visitar as instalações, numa das suas tardes livres, a ver se lhe agradaria uma mudança. Nunca ouvi, na minha vida toda, maior vaia (!), bem talvez no Estádio do Dragão... É que as minorias não são estanques. Um dia, a minoria cresce e deixa de o ser. Um dia, a dinâmica das forças inverte-se. Acontece. Ela não conseguiu lá estar mais do que cinco minutos. Tive pena. Assobios, bocas, provocações, impropérios... Tive muita pena mesmo, ninguém merece um tratamento daqueles. Mas ela tinha criado um rasto de inimizade impossível de apagar. Sei que se lhe tivesse dirigido o olhar, ela teria vindo falar comigo. Não havia naquela escola mais ninguém disposto a fazê-lo, também. Mas não o fiz, estava com pressa, tinha alguma coisa muito urgente para fazer. Não me lembro o quê, mas sei que tinha alguém à espera. Para trás ficava uma vaia monumental, histórica.

Anteontem lembrei-me da festa da Marta. Porque deve haver um timing para o descontrolo, que não tem nada a ver com a idade, mas quase de certeza com o álcool: umas duas horas depois de acabarmos de jantar everybody got cozy. (E aqui come-se muito cedo!) Como se já não me bastasse fingir que não percebo certos olhares e certas insinuações, esquivar-me a certas pessoas e a certas conversas para manter a minha sanidade mental, os meus valores e algumas amizades intactas, como se já não me bastasse não conhecer quase ninguém, e agradecer a Deus alguns daqueles ‘ninguéns’ não fazerem parte dos meus conhecimentos… Bem, valeu-me o Manuel, (no, we don’t ever get cozy!), a única pessoa com quem deu para parar de assobiar para o lado e soprar para cima, e ter uma conversa decente.

É por estas coisas que nos levamos, um ao outro, às festas.

Aos catorze anos as festas tinham outro encanto.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Martin Luther King, Jr's - Day

Feriado por estas bandas. Obviamente. E ainda bem.

(Especialmente porque acordei hoje com uma dor de dentes - do siso - do tamanho do universo. E, como logo mais há fare-well dinner departamental, a minha bochechinha direita vai inchar muito, muito, muito - de certezinha - até para fazer pendant com a borbulha que achou de me aparecer na bochechinha esquerda.)... Lamúrias à parte, este senhor tinha um sonho, lindo, muito maior e mais importante que todas as minhas dores presentes. Para não esquecer.


http://en.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Day

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Para a Mariana


Confiança

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
Miguel Torga

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Remember my name: Fame!

http://www.juventude.gaiaglobal.pt/gaia/portal/user/anon/page/_PJG_B1300_E.psml?contentid=7D89809880CO&nl=pt

Mulheres...

http://en.wikipedia.org/wiki/Jealousy

Possessividade e X. Galanteria ou Boa Educação e Y.

Ontem fui ao cinema.

À saída do elevador para o parque de estacionamento, um casal adianta-se a nós. Existem duas portas. O Y do casal, a cada vez, segura a porta para eu passar. Agradeço. Normalmente. Polidamente. O X do casal não gosta da gentileza do Y: "De cada vez que ele segura a porta para ti, ela puxa-o brutamente para a frente, estás a ver?" - alertou quem me acompanhava.

Não, não estava a ver, não vi, nem me tinha apercebido.


Não sou misógina, (e o ridículo-patético da situação de ontem foi só mais uma gotinha num oceano de experiências afins), mas cada vez admiro mais (a paciência de cert-) os homens. Bolas, que animalzinho complicado que é o X!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

De regresso...

Rice university, Houston

... a Houston, com muita coisa para ultimar tendo em vista o derradeiro regresso.

Quanto a NY, uma cidade fabulosa, a que pretendo voltar, deixou inevitavelmente marcas, ou melhor, uma emoção muito grande que, como todas as emoções, leva algum tempo a amadurecer - dentro em breve escreverei sobre isso.

domingo, janeiro 07, 2007

Start spreading the news,

I'm leaving today...

Mas volto.
(A não ser que encontre, assim por acaso, o Jonathan Safran Foer*...)
So long, fair well, auf wiedersehen, good bye!/I'm glad to go, I cannot tell a lie...
I flit, I float, I fleetly flee, I fly...

*http://en.wikipedia.org/wiki/Jonathan_Safran_Foer

sábado, janeiro 06, 2007

Só me lembrei agora...

... que já e noite aí, mas podem fazer para amanhã. E uma delícia! Apaixonei-me por ela quando vivia em Paris. Desde essa altura está sempre presente na mesa deste dia.



Galette des Rois


En ce jour de l’Epiphanie, je te propose un dessert de circonstance: la fameuse galette des rois. Pas n’importe laquelle puisqu’il s’agit de la recette de ma maman! Une frangipane généreuse, feuilletée mais pas de trop, cette galette est tellement savoureuse que jamais plus tu ne l’achètera en supermarché!


Pour la meilleure galette du monde, dixit moi, il te faut:

2 disques de pâte feuilletée

100g de sucre
100g de beurre
2 petits oeufs
1 cuillère à soupe de farine
125g de poudre d’amande
Du rhum, quantité selon le goût (j’ai mis 5 cl, le goût est très pronouncé!)

1 jaune d’oeuf pour dorer
1 fève récupérée d’une précédente galette.

Dans une terrine, travaille le beurre coupé en dés afin de le ramollir (à la spatule ou du bout des doigts, c’est toi qui voit). Ajoutte le sucre et continue de travailler.

Incorpore les oeufs, la farine, le rhum et la poudre d’amande. Mélange bien. Dans la recette il est écrit "lisse et homogène", mais avec la poudre d’amande ça a une apparence plutot "grumeleuse", donc je fouette pour homogénéiser au mieux l’appareil, mais le mélange ne sera pas lisse.

Dans un moule à tarte beurré, fonce un premier disque de pâte feuilleté. Verse la frangipane en laissant sur le haut du moule 3 cm de bande que tu humidifiera avec un pinceau.

Place la fève où ça te chante, mais pas au milieu! …ça serait dommage de la découper!
Couvre le second disque de pâte, referme bien et coupe le surplus.

Badigeonne la galette avec un jaune d’oeuf battut et enfourne 20 / 25 min à 210° (th7).

A servir tiède et attention au dents au moment de déguster!

Receita retirada de um site de culinária frances, não consigo encontrá-lo neste momento, mas quando conseguir posto.

Dia de Reis


Tenho pena que de ano para ano este dia perca força, importância, valor. Este ano, felizmente, calha ao fim de semana. Espero, por isso, que as famílias - e não me refiro às espanholas - se lembrem de o celebrar, de o saborear, no seu íntimo, até ao âmago, ao máximo. O dia merece.

Esqueçam os padrinhos, esqueçam o dinheiro. Passem o dia em família. (Se pudesse, era o que faria.) Aproveitem a prenda que é a existencia das pessoas que vos querem bem e vos esperam ao abrir da porta ao fim do dia. Celebrem a vida das pessoas que partilham e caminham convosco neste percurso, nem sempre fácil, que é a vida, e que vos dão alento, esperança e confiança para continuar. É a prenda maior. Foi isso que aconteceu há mais de dois mil anos em Belém.


Lembram-se dela? Já aqui lhe dediquei um post, em Abril do ano passado. Ela é o nosso piolho, a minha Piquininha de dezanove aninhos de mimo, colo, abraços e beijos, passeios, passeiozinhos e passeatas, idas ao shopping, às compras e ao cinema, boleias (diárias e perfeitamente escusadas, se eu porventura lhe conseguisse resistir...) para a Universidade, lanches fora de horas e afins... Bem, ela, ou melhor o Trio Shostakovich de que ela faz parte, dá hoje um concerto em Gaia.

Portanto, para quem vive em Gaia, ou no Porto obviously - ou na Maia (Tiago!!!), ou em Rio Tinto, ou em Ermesinde, bem... na zona metropolitana do Porto (e arredores, se quiserem e/ou puderem); para quem gosta de ouvir um bom piano (Recital a solo - a cargo da Ana, na Primeira Parte), e para quem ainda não conhece (desconhecimento absolutamente imperdoável, mas ainda remediável...) o Trio Shostakovich, o melhor trio do mundo - o que integra a violinista mais talentosa do Universo, a minha Piquininha, claro...(!), - eis uma sugestão musical:

TRIO SHOSTAKOVICH - HOJE
Auditório Municipal de Gaia
(Rua Moçambique 4430-145 Vila Nova de Gaia)
21h30m
Entrada: 3 euros.

Acho que é uma boa maneira de terminar o dia, ou de começar a noite... como preferirem...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Ex abundanctia enim cordis os loquitur.*

Não sei se é vírus, se (imuno)depressão de Inverno, mas definitivamente algo se passa em Portugal. Algo se passa com os meus amigos, pelo menos. Como cá rareiam as correntes frias, estou livre desse tipo de neura e lembrei-me de postar o seguinte:

Red amarilis - the love flower

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. O amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.

José Luis Peixoto, A Criança em Ruínas

*A boca fala do que transborda do coração.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O melhor da blogosfera é...

... conhecer pessoas como o Rui.
http://pestanamadeira.blogspot.com/

O Rui dos comments mais doces e mais queridos e mais paternais aqui.
Por vezes penso que o Rui me acompanha por estes lados como um pai - devo ser da idade dos filhos dele - e de mansinho devoto-lhe uma estima GRANDE desse género. A blogosfera deu-me a conhecer o Rui e o Rui ensinou-me a *amar* a minha terra como antes nunca amei. Porque o Rui ama a ilha e facilmente cativa toda e qualquer pessoa a acompanhar o quotidiano insular pelos seus olhos, pela lente da sua máquina fotográfica, pelo blog fantástico que possui.


Este Natal, surpreendentemente, recebi imensas prendas; ainda hoje um caixote com as dos manos (obrigada, obrigada, obrigada, tudo tão lindo e tão bom - não era preciso!), as dos pais receberei em Janeiro (ou Fevereiro), as dos amigos adivinho que por essa altura também...

Esta, do Rui, chegou-me hoje também e emocionou-me, mais que as dos manos até, porque foi de uma generosidade, de uma simpatia/empatia sem limites... Tocou-me de um modo particular. Os sons, o ambiente, a emoção, a alegria, a família... Viajei no tempo e no espaço. Pasmei, chorei, sorri.

Os meus amigos de anos, (de coabitação, de faculdade), tardes de esplanadas, lanches, almoços e jantares e saídas, dizem que sofrem horrores para me comprar *um* presente, porque nunca sabem o que me agrada de facto. Sou muito complicada, dizem. Todos. (Eu considero que sou demasiado simples até...)

Conheço o Rui daqui. Apenas. (Tal como ele a mim.) E foi ele quem, indubitavelmente, me deu a *melhor de todas* as prendas este ano!

Tomo a liberdade de a postar aqui agora - é a homenagem que me é possível (ao Rui e ao Artur, o filho, responsável pelo video.)
Rui, mais uma vez, MUITO OBRIGADA!


quarta-feira, janeiro 03, 2007

If I..., would you?



... porque chove, muito ...

(Best 2006 song in the U.S.)

Personal countdown update


Faltam 17 dias.

Coisas que me lembram que estou nos "estates"

PLEASE FORWARD THIS MESSAGE TO GRADUATE STUDENTS IN YOUR DEPARTMENT:
The Center for the Study of Women, Gender, and Sexuality is soliciting applications for a graduate student teaching assistant position for spring 2007.
Please see below for details about the position.
Applications should be sent to *********, SWGS Center Coordinator, at MS-38, or via e-mail at *********@rice.edu. Applications are requested by Friday, January 5, 2007.
A position is open as Teaching Assistant for WGST 201 "Introduction to Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Studies," (T/TH 1:00 p.m. - 2:20 p.m.).
Duties will include attendance at all classes, some grading, office hours to assist students with assignments, and occasional course lectures.
Remuneration is $3,000.
Applications should include a brief letter with description of qualifications, including relevant courses taken, research or other projects related to the topic of the course, and the name of one Rice faculty reference.
If you have any questions regarding this position, please do not hesitate to send an e-mail to *********@rice.edu, or call the CSWGS office at (713) ***-****.

Demorou... mas consegui!




terça-feira, janeiro 02, 2007

Maior espectáculo pirotécnico do mundo

fogo_2007

Madeira passa a constar do "Guinness World Records"

O fogo foi lançado de 37 postos colocados ao longo da baía da cidade do Funchal, sendo 31 em terra e seis em plataformas marítimas.

Uma elipse de fogo-de-artifício de seis quilómetros de extensão e 2,7 quilómetros de largura em torno da cidade do Funchal assinalou, à meia-noite, a entrada de 2007 na Região Autónoma da Madeira. Recorde-se que o espectáculo teve a duração de oito minutos e subordinou-se ao tema a "Dança das Quatro Estações", baseada na obra homónima do compositor veneziano António Vivaldi.

O livro de recordes "Guinness World Records" atribuiu à passagem de ano na Madeira o título de "Maior Espectáculo Pirotécnico do Mundo", disse ontem à Agência Lusa o secretário regional do Turismo e Cultura, João Carlos Abreu. "É de uma relevância extraordinária esta distinção, pela promoção que faz ao destino Madeira", destacou.

Dezenas de milhares de pessoas, entre locais, turistas (a ocupação hoteleira era de 94 por cento num parque de 29 mil camas), passageiros e tripulantes em trânsito nos oito paquetes que escalaram o porto do Funchal (cerca de 10 mil) assistiram a este espectáculo, numa noite de luar e temperatura amena.


O "Guinness World Records", criado em 1955, é o terceiro livro mais lido no mundo a seguir à Bíblia e ao Alcorão, sendo publicado em 37 idiomas. Este livro, que nos últimos 52 anos já vendeu mais de 100 milhões de exemplares, regista cinco mil recordes.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Em 2007...

Recomeça!...



Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...