Às vezes queremos muito dizer adeus. É quando o dizemos com força: com a boca, com as mãos, e deixamos o coração nos olhos - e não conseguimos desprender o coração dos olhos, nem os olhos da pessoa de quem nos despedimos, aquela que nos cresce, poderosíssima, imensa, para dentro, enquando vai ficando cada vez mais pequena, pequenina, pequenina, no fim da rua, antes de virar a esquina em que se perde finalmente de nós.
Às vezes não queremos dizer adeus. É quando não o dizemos e a vida o faz por nós. E de repente parece que somos outras pessoas a viver uma outra vida: não abrimos as janelas que costumávamos sempre, não nos lembramos, o sol que inunda o tempo vem de dentro, como pode ter sido alguma vez de outra forma?, são outros os livros que lemos, outros, os filmes que vemos, a música que ouvimos, outra. Às vezes parece que já vivemos tanto, que uma vida não chega. Às vezes parece que já vivemos muitas vidas e que todas foram nossas sem nunca nos terem pertencido realmente.
Às vezes também queremos muito dizer adeus e não dizemos. Nunca dizemos. E o que isso nos mina, a nós e à vida que nos devia pertencer sempre, e o que isso nos turva e alonga os dias, e o que isso nos rasga coração e veias, a vida devida, e apouca o que realmente importa, nós: uma sombra de nós.
Às vezes também não queremos dizer adeus e dizemos. E o que isso nos mina, a nós e à vida que nos devia pertencer sempre, especialmente quando não há rosas sem espinhos para deixar, e nem as aves nos querem por companhia.
Vou hoje de férias. Nenhum destes difíceis adeuses se prende com a minha ida para casa. Lembrei-me apenas do friozinho que sinto na barriga, que senti ontem à noite, como sempre na véspera de partir. Pensava nessa pequena dor e no quanto se ligará aos nossos adeuses, mais ou menos velados, mais ou menos definitivos, a tudo aquilo que gostamos nosso, a tudo aquilo que sentimos nosso, a tudo aquilo que pensamos nosso e que imaginamos definhar na nossa ausência.
O coração a bater em todo o lado, nós a esgoelarmo-nos a querer que acabe, a querer que não acabe, olhos invariavelmente cerrados, coração invariavelmente aberto, a vida consegue ser muitas vezes um carrossel. Mas há um pedacinho do recinto onde tudo é sossego.
Sempre.
9 comentários:
"Às vezes também queremos muito dizer adeus e não dizemos. Nunca dizemos. E o que isso nos mina, a nós e à vida que nos devia pertencer sempre(...)". Estou nesta fase... pois é :-(
Beijos e boas férias, espero que a escrever no blogue.
Ouriço,
Been there. Parece que mata ao moer, mas nãaao! :)))
(Espero o mesmo, mas não prometo... ;)
Jinhos.
Amiga JJ,
Votos de óptimas férias, no seu cantinho!
Confesso que a JJ escreve,escreve... não a consigo acompanhar nas suas escritas/leituras. E diz que não tem tempo. Se tivesse, o que não seria?... Aguardamos "estórias" da ilha com sabor a mar e ao verde das colinas!
Loo Rock,
Obrigada. Confesso que me forço a arranjar tempo para escrever, de maneira a ter cabeça para fazer as outras coisas (mais importantes). Enfim.
Na ilha, que é nossa, as coisas sucedem-se a um ritmo naturalmente diferente, as estórias e as pessoas são outras, eu própria outra: mais a filha (primogénita) dos meus pais do que eu. Enfim... - outra vez.
Ah, tenho a certeza que ao ritmo que costumo escrever na Madeira, o Carlos consegue acompanhar-me sem esforço... Ao menos isso! ;)
Jinhos.
«e deixamos o coração nos olhos»
disseste tudo. :)
(boas férias, muito descanso, algum sossego e muito brilho nos olhos, é o que te desejo.)
beijo grande*
Vanessa,
Eheheheh!!! Eu dizer até digo. ;)
Obrigada, o contrário seria impossível!..., com amizades assim... :D
Jinhos.
vais fazer falta aqui ao continente da amizade e destas minhas leituras tuas*
Sou péssima nos adeuses, deixo sempre um pouco de mim...
Boas férias e um grande beijinho
Boas férias Joaninhaa! :))
Eu também estou na fase dos "adeuses"...e é, nem sei!
Um beijinho*
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