Este fim-de-semana esqueci-me de postar música como é costume. E eu gosto de costumes, mas. Não me queria repetir no Rufus, minha sempre eterna companhia, minha escolha segura, sempre certa, e por isso o costume de sempre na vida foi trepando por aqui acima e isto foi ficando calado, calado - esta mania de ter as coisas, mesmo de mim, das minhas coisas, para todos, mesmo de mim, das minhas coisas, aqui ao dispôr, é tão absolutivizante que me não permito repetições. E no entanto todos os fins-de-semana são musicais, que eu, pessoa velha, faço por parar aos fins-de-semana, e fazer outras coisas aos fins-de-semana, que sábados e domingos são dias de aspirador, roupa e louça, e pó que sempre persiste no cantinho que esqueço sempre, dias de cozinha e casas de banho e, definitivamente, não dias para escrever - e o tempo parece que estica, e o tempo me sobra sempre, e o tempo, depois dos filmes e das séries e, me empurra para a música e para a memória - descansar é tantas vezes pensar, fim-de-semana é tantas vezes música: porque pensar não dá saúde, nem descanso.
Este fim-de-semana foi de amigos, e de mim: a noite passada foi de amigos, hoje que começou quando cheguei ontem, que não foi ontem, a casa, com calor e uma dúvida, foi de mim: da minha incapacidade em adormecer, da minha pergunta de uma casualidade fingida, da minha pergunta ainda assim a medo, à minha irmã mais nova, da confirmação dela sonolentíssima, és, és, gostas, gostas, a Ana conhece-te melhor que muita gente, é possível que tu tenhas isso no teu inconsciente e não te dês conta, mas não me parece, miúda, olha para ti!, tu és mesmo assim, até amanhã, dorme. Eu ser mesmo assim a não me deixar dormir - eu que queria tanto adormecer - eu ser mesmo assim a acordar-me quando estava tão bem esta manhã, cedinho.
Este fim-de-semana, hoje, trabalhei como pessoa nova: com trabalho sem família, com trabalho sem amigos, com trabalho sem a solidão boa de um passeio na praia ou uma leitura de parque ao começo ou ao fim-do-dia. Às vezes temos que ser pessoas novas - manda o trabalho e o sono que não se tem, aquele que não vem, nunca vem. Somos toda uma geração de pessoas novas que, a trabalhar, trabalhamos demasiado. Não temos tempo para nada. Não temos tempo para o mais importante. Não temos tempo para o mais importante que o trabalho nunca traz. A noite passada estive com amigos - há amigos que mesmo quando não organizam nada em concreto são sempre sinónimo festarola, e o bem que isso diz deles... - e gostei muito - de estar, de ver, de ouvir, de pensar, de ficar a pensar, pensar, pensar. Até chegar a casa e perguntar. Eu e as minhas coisas. O costume.
Este fim-de-semana, a noite passada, foi memorável. As pessoas novas com trabalho precisam de fins-de-semana, uma noite que seja, de amigos, e nenhum trabalho, para a visão de conjunto.
Há pessoas muito bonitas, tão bonitas!, na humanidade, na naturalidade, com que nos aceitam no presente das suas vidas. Esta música - há tempos que não a ouvia, há tempos que não ouço muita coisa... - pôs-me a pensar nisso, e acompanhou-me o dia todo, desde que me sentei à secretária esta manhã, cedinho.
8 comentários:
(sem palavras, como é costume também aqui neste tasco, ao ler-te)
(esqueci-me de te dizer uma coisa - que é óbvia - tu és a nossa irmã mais velha - mas só um bocadinho mais velha; porque, se bem me lembro, ainda há muito pouco tempo te deram 21 aninhos :) )
beijinhos, kiddo.
também gostei muito da noite passada entre a vossa amizade linda*
chego aqui e choro e rio ao mesmo tempo, caramba. e eu a pensar que devia ter organizado tudo e a chegar a casa e a pensar muito muito, como tu.
só uma certeza: poder chamar-vos de amigos foi e é a melhor prenda de todas! gosto muito de vocês, até mesmo quando não digo nada de jeito! :)
beijo grandalhão*
"Há pessoas muito bonitas, tão bonitas!, na humanidade, na naturalidade, com que nos aceitam no presente das suas vidas."
E é tudo. :)
Beijinhos*
Frida,
:)))))))))))))))))))))))))
É exactamente. Tu sempre.
Será que também chegou assim, como sendo tudo, a essas mesmas pessoas?
Jinhos.
Há uns outros versos do Sérgio Godinho de que gosto muito:
«Não me beijes por engano
não me causes maior dano
do que aquele que causaste
no dia em que aproximaste
os teus lábios do meu peito
e num momento perfeito
de paz e de assombração
tocaste o meu coração»
Vim só dizer isto: ai que bem que tu escreves, que bom :)
Um beijinho
Moço,
Que dia! Só prendas bonitas, de ti, hoje! ;)
(Esses não conhecia, muito embora os conheça por dentro... Acho que, tu, eu, e o Sérgio Godinho, temos que nos juntar à esquina, se não a tocar a concertina, pelo menos a cantar o solidó. :)))
Jinhos.
Maria,
Obrigada. Que bom que gostas.
Jinhos.
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