segunda-feira, setembro 14, 2009

Uma visita de Amor


O sitemeter é uma coisa espantosa. Às vezes perco muito tempo a perscrutar as pessoas que chegam até aqui, os lugares até onde isto aqui chega por pesquisas mais ou menos casuais no google ou em outro motor-de-busca menos conhecido.

Há pessoas que chegaram aqui uma vez, buscando um assunto qualquer, normalmente são os índios navajos, e que, obtendo ou não o que pretendiam, continuam a vir, muitas vezes, alguns todos os dias, e de proveniências tão diversas como os EUA, Timor ou a Estónia, para acompanhar o que por cá se vai passando. É bonito.

Há também aquelas pessoas que são amigas, há as que são família, há aquelas que sendo amigas se tornaram família, segunda, - a única que escolhemos, a família dos amigos! - as pessoas que me acompanham os passos, desde os tempos dos EUA algumas, a partir de blogamigos outras, do nada que é tudo outras ainda, e me iluminam os dias, por cá, mas sobretudo na vida, over a cup of tea, or lunch, or diner, or a whole stay at their place... Não há bonito que estique o suficiente para conseguir abraçá-las a todas ao mesmo tempo e como deve ser.

Há ainda as pessoas que fui perdendo pelo caminho, aquelas de quem a vida me afastou, aquelas que se quiseram afastar e percorrer um caminho próprio, sozinho, sem janelas abertas, nem demoras, nem palavras. Não é bonito. Mas há. E no entanto, nunca percebi, continuam por cá, continuam a ler-me, a visitar-me, como dantes, como sempre, sem palavras agora, mas de resto... Se calhar é bonito, se calhar um dia vou perceber que é bonito, até lá fico-me pelas evidências do sitemeter: há.

Ontem, depois do jantar, aconteceu uma coisa incrível: visitou-me uma pessoa de um sítio chamado Amor, uma localidade em Leiria. O sitemeter ensinou-me uma coisa importantíssima: o Amor fica em Leiria. Não fazia ideia. Leiria sempre me cheirou a sapatos.

Quando era miúda, todos os Verões, a partir de determinada altura, passava-os em Fátima com a minha tia. Nesses tempos, por uma qualquer razão obscura, na minha casa na Madeira, não se usava, a minha mãe não nos comprava, sandálias. Os Verões na Madeira era amenos, atravessavamo-los de sapatinho branco e soquetes - as de todos os dias: algodão com folhinho de renda no topo e as das saídas: todas de renda - pavorosas e de um desconforto...!, mas que a minha tia aprovava, muito lindas, muito lindas, as minhas meninas! no Verão madeirense. Já no Verão de Fátima, a história era outra e ditava que se fosse a Leiria, todos os Verões cada Verão, numa manhã estúpida de quente, e sempre a correr, o castelo lá em cima, estás a ver? vamos!, rápido, rápido, como se a busca que nos tinha conduzido àquele enooooorme centro urbano nos fosse absorver o dia. Nada disso. Em menos de meia manhã estávamos despachadas. E muito por causa da minha irmã Teresa.

A minha irmã Teresa sempre complicava a manhã à minha tia, mas eu não gosto dessas, gosto destas!, mas essas são feias, querida, não pode ser, aquelas ficam-te melhor, mas eu não gosto... Interminável. Eu sentada, eu a sorrir a ambas e até à senhora da sapataria, eu menina bonita, as sandálias que a tia me tinha escolhido dentro da caixa, eu pronta, eu a querer sair para a rua olhar o castelo por mais tempo que os três segundos regulamentares, eu à espera que o cansaço derrotasse a minha irmã Teresa e a minha tia levasse as suas sandálias avante, e a correr, como sempre.

Quando fui para a Faculdade, cheguei a passar alguns fins-de-semana, os maiores, em Fátima. Cheguei a mudar de autocarro em Leiria, à saída de um, cheiro a sapatos, à entrada para o outro, cheiro a sapatos, e o Castelo ali e o Castelo tão longe.

Tenho de ir a Leiria um dia destes, sem dúvida, e com tempo, para visitar Amor - aparentemente um sítio onde D. Dinis se teria perdido de amores por uma camponesa -, e perceber que aquele centro não cheirará apenas a sapatos, e perceber que o Castelo sobrevive a olhares de mais de três segundos, e perceber - já agora...- por que razão os amores régios tendem tanto para Sul.

Leiria, um dia destes, com tempo; para olhar o Castelo e espreitar essa terra encantada, Amor.

13 comentários:

Ouriço-Cacheiro disse...

Lá está, como dizem, o Amor está em todo o lado!
Bjos e bem "retornada"

Vanessa disse...

and if you saw my love
you'd love her too

:)

deve ser mais ou menos isso!

eheheh!

http://www.youtube.com/watch?v=aChUwN5LBao

(ah, e se ainda andares pelo porto, era bom marcarmos um cafézinho! :p)

beijo*

Joana disse...

Ouriço,

Sim. Às vezes, parece que não; mas diz que sim, por todo o lado. ;) Obrigada.

Vanessa,

Não deve ser mais ou menos. É isso tudo e ipsis verbis, menina guru. BEATLES!!! Tão bom!

Ando sim e era bom e até já tinha pensado nisso, manda-me sms (que eu tenho o teu número).

Jinhos a ambas.

Maria Rita disse...

Se eu escolhesse um sítio para morar em Portugal, a seguir ao Porto, era Leiria. Como eu adoro aquela região. E não é só o Amor, mas também é o Amor. :)

Beijinho*

Joana disse...

Frida,

A sério? Não fazia ideia.

Bonito! :D




Jinhos.

miradouro das cruzes disse...

Amiga JJ,
Não sei se estarei no rol de Indio Navajo. Confesso que ainda não tive, após regresso de férias disposição para ver o caso do seu familiar. Isso não impede que não vá visitando o seu blogue e deliciando-me com as suas histórias.

Joana disse...

Loo Rock,

Acho que o Carlos estará no rol dos que chegaram aqui a partir do 'nada que é tudo'. :))))))))))))))))))))

Não se preocupe com o resto, haja disposição para andar por cá. Estas são histórias de porta aberta. Sempre. ;)



Jinhos.

ana salomé disse...

tu nem imaginas como este texto é importante para. (assim mesmo, com os teus silêncios prepositivos).

que coisa mais linda. o mundo é tão, mas tão bonito na forma como gira.

*

Joana disse...

Ana Salomé,

Os meus silêncios prepositivos. Só tu, para me leres assim, bem tão bem.

Não podia deixar passar esta visita em branco. Não podia mesmo. Quantas pessoas podem dizer que foram tiveram esta visita?! :D


Jinhos.

P.S. Lá estou eu continuamente a dar valor... Pfff!

ana salomé disse...

fazes muito bem em dar - um dia, aquilo que teve valor para ti, saberá o valor que tu tiveste e terás para ele. é assim.*

moço disse...

Pronto, vou estragar tudo com um balde de realidade: o visitante de Amor sou eu. Não moro lá, mas numa outra localidade, só que é frequente a minha ligação deixar esse nome como rasto (enfim, idiossincrasias do espaguete de fibras ópticas).

António.

Joana disse...

Moço,

Não há melhor ficção que a realidade. ;)

Por acaso pensei que me lias de Aveiro, Eixo - o teu centralíssimo café aparece-me com essa proveninência. Ele há coisas...

Que BONITO sítio para viver, António! :D

Jinhos.

Joana disse...

Ana Salomé,

Não é tão líquido como a menina pinta. Digo eu. ;)

Mas o valor continua, que eu não sei ser, nem ver, diferente. Bonito. Bonito. Bonito.



Jinhos.