No outro dia, era fim-de-semana e Agosto - a casa ainda estava sozinha e eu na casa, sozinha também, - eu a dormir como gente grande, e normal, ao fim-de-semana, eu a acordar às onze e a preparar e a comer o pequeno almoço - como eu gosto dos meus pequenos almoços de fim-de-semana!..., do meu suminho de laranja, da minha malga de fruta cortada aos quadradinhos, de croissants - se houver - e do resto de todos os dias que já não me apetece comer porque o dia começou mais tarde e a fruta, e pouca coisa pode superar a fruta..., - é então que vou tomar banho, na calma do fim-de-semana, e por isso, e as outras razões todas acima, pouco antes do meio dia - banhinho enquanto vou pensando onde me irei espreguiçar a seguir, coisa de poucos sábados, domingos, de Agosto, que foram mesmo-mesmo-mesmo de Verão no meu corpo.
A meio da varanda que é pequena demais - por causa das plantinhas, entre a marquise de trás que é demasiado quente e a da cozinha que é demasiado pequena, ouço o fim do mundo a vibrar na entrada. Não gosto de vibrações do fim-do-mundo. O fim-do-mundo está mais próximo do que se possa pensar, a varanda e a marquise tão longe..., porque para o fim-do-mundo, basta estar vivo, o fim-do-mundo é sempre um agora, e por isso, parei o banho, saí enrolada em sabão, gotas de mel e amêndoas ao longo do percurso até ao fim-do-mundo. Era a minha mãe. Para a conversa de fim-de-semana do costume. O fim-do-mundo ia ter que esperar. Na Madeira, tudo bem, a minha mãe, tudo bem - melhor só quando eu for para aí, não é? - não, mas eu gosto destes risos grandes, ruidosos e ocos, que lhe consigo arrancar sempre.
A minha máscara do cabelo, a tal de amêndoas e mel, é boa. Não chega a ser muito boa porque leva séculos a hidratar-me o cabelo como a antiga, mas cheira bem, muito bem até, muito melhor que a antiga. As mulheres e os cheiros. A minha máscara do cabelo, antes de pingar o chão a desenhar o percurso da casa-de-banho até ao fim-do-mundo, alagou-me o ouvido, e o telemóvel. A minha máscara do cabelo matou-me as defesas contra a gripe, essa peste que anda aí, e constipou-me, rios e rios de muco em lenços, de papel - têm que ser de papel -, e lágrimas super-sónicas a deslizar bochecha esquerda abaixo, apenas.
A minha máscara do cabelo matou-me o telemóvel, eu a pensar que o fim-do-mundo ia ter que esperar, eu a pensar que o epicentro do fim-do-mundo era no Funchal, e afinal era cá!, era bem no coração de cá, no meu telé, no coração do meu télé, aquela vibração, aquela vibração louca era o estertor do fim-do-mundo, do meu mundo. Das minhas amizades, das minhas sms, das minhas relações mais recentes, contactos que um cartão de telemóvel de meia-dúzia de anos não consegue já conter em si, contactos que vai delegando para a máquina que é perecível e não gosta de pingos de mel com amêndoas.
Eu devia saber. Não se guardam pessoas em máquinas. Não se gravam relações no coração de máquinas. O perecível apodrece o imperecível, não importa de que natureza for, um e outro.
A minha máscara do cabelo matou-me o telemóvel, eu a pensar que o fim-do-mundo ia ter que esperar, eu a pensar que o epicentro do fim-do-mundo era no Funchal, e afinal era cá!, era bem no coração de cá, no meu telé, no coração do meu télé, aquela vibração, aquela vibração louca era o estertor do fim-do-mundo, do meu mundo. Das minhas amizades, das minhas sms, das minhas relações mais recentes, contactos que um cartão de telemóvel de meia-dúzia de anos não consegue já conter em si, contactos que vai delegando para a máquina que é perecível e não gosta de pingos de mel com amêndoas.
Eu devia saber. Não se guardam pessoas em máquinas. Não se gravam relações no coração de máquinas. O perecível apodrece o imperecível, não importa de que natureza for, um e outro.
O que não tem solução, solucionado está. E cheira a amêndoas e mel.
9 comentários:
então foi assim que aconteceu... melhoras rápidas menina! :)
aqui, só dores de garganta às carradas, agora... aieeee!
beijinho*
Vanessa,
Yep, bem assim. Mas eu ando a fintar as dores, não fosse o NIMED tão meu amigo..., o telé é que morreu.
Jinhos.
ohhh... gosto tanto como transformas na tua escrita o mais simples do quotidiano em algo tão bonito de se ler:) *
[pena o telem, perdemos o hábito das agendas... e as melhoras:)]
Ana,
Descreveste a minha escrita com grande propriedade.
:))))))))))))))))))))
É isso mesmo. Obrigada.
(Tenho os números todos na agenda, gosto de coisas antigas! ;), morreu-me foi todo o arsenal de mensagens... helás!)
Bom ter-te por cá.:D
Jinhos.
"Eu devia saber. Não se guardam pessoas em máquinas. Não se gravam relações no coração de máquinas. O perecível apodrece o imperecível, não importa de que natureza for, um e outro."
Ameii Joana :)
Beijinho*
Frida,
Verdade mesmo verdade, muito verdade, o busílis da questão maior, da questão toda. Oh, how you read me!
Que bom!
Jinhos.
ora bolas, agora não sei que cara pôr, se a do sorriso - porque isto tudo é muito bonito e cheira a mel (sim, as raparigas e os cheiros) - ou a do sorriso para baixo, porque ficaste sem telemóvel. hoje até te liguei para desejar boa viagem :) de viva voz, mas pelos visto está pifadito. * bom, fica aqui o beijinho.
vai lá arrasar corações de moços a sul. :D
Ana Salomé,
Eu calculei que sim!, que só agora vi a tua chamada - já tenho telé novo e os contactos de sempre. :)))
(Quanto ao resto: Oh, sim, que eu sou um arraso! )
Jinhos.
A culpa é (sempre) da máscara do cabelo, claro está ;-P
Boa viagem!
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