sábado, abril 29, 2006

A IDADE DOS PORQUÊS

Não existe uma idade dos “porquês”. Lamento fazer o Sr. Piaget dar voltas e voltas no túmulo com esta minha afirmação, mas reitero: esse estádio não existe. E não existe porque pura e simplesmente passamos a vida toda a questionarmo-nos.
Perguntas infantis, triviais, de cultura geral, do senso comum, científicas, filosóficas, religiosas, de auto-conceito/imagem, retóricas… perguntas. Somos seres pensantes, questionamo-nos interiormente, perguntamos naturalmente. Procuramos constantemente saber.
O que pensam os outros do mundo e da vida. O que pensam os outros de nós. Porque é que as coisas acontecem/aconteceram de determinada maneira. Como é que as coisas acontecem/aconteceram. Quem fez o quê. Quem sofreu o quê. O que levou alguém a fazer algo. O que está para além do sensível.
Resumindo: desde que Prometeu roubou o fogo aos deuses para dar ao Homem, este, apercebendo-se do fosso existente entre ele próprio e a divindade, faz do racionalismo arma e da pergunta ponte e tenta, progressivamente, transpor essa barreira.

Por isso aqui vão algumas:
(Responda quem souber. Não se intimidem com as minhas tentativas de resposta.)

Porque é que simpatizamos logo à primeira vista com umas pessoas e antipatizamos com outras? (E o inverso também.)

Porque já as conhecemos de outras paragens (transmigração de almas?);
Porque há uma coisa que se chama intuição, o sexto sentido feminino;
Porque as más pessoas estão assinaladas secretamente, por convenção tácita;

Porque é que nos lembramos sempre primeiro das pessoas que nos marcaram negativamente e só depois, e às vezes com algum esforço, das outras?

Porque os maus desafiam e essa audácia encanta: tem um charme poderoso, inesquecível;
Porque os maus trazem consigo o perigo, a vertigem e isso hipnotiza e marca;
Porque simplesmente “Não compensa ser bonzinho.” – verdade universal.

(Nunca consegui perceber isto. Já o senti na pele e fiquei envergonhada. Não me conseguia lembrar de um dos meus melhores alunos, só me vinha a imagem do mais reguila.)


Porque é que o que sabe bem faz mal?

No outro dia comprei um gelado de baunilha sem corantes, nem conservantes, nem adição de açúcar… Bela porcaria! Nem a leite sabe. E queijo para dieta??? Yuck! É claro que se fosse um Hägen-Daaz… não me estava agora a queixar (…só daqui a duas semanas quando isso se reflectisse na balança!)…


Porque é que a melhor maneira de aprender é errando?

Só me lembra a anedota do miúdo que está a mostrar a mãe as acrobacias que consegue fazer com a bicicleta. “Mãe, mãe, olha… sem mãos, mãe, olha…. sem pés… A mãe espera uns minutos… e responde-lhe, “Olha… sem dentes!”

Porque é que nunca gostamos de quem gosta de nós? (E o inverso também.)

Porque o coração é independente da nossa vontade e diverte-se a pregar-nos partidas;
Porque o coração é como o criador do Matrix, gosta de ver até onde vão os nossos limites;
Porque assim tudo seria demasiado simples, aborrecido;
Porque de outra forma perderíamos tantos conhecimentos e amizades enriquecedoras;
Porque tudo o que não der luta, não é valorizado e nunca sabe tão bem;

Porque é que as escolhas/decisões mais importantes da nossa vida só podem ser feitas por nós?

Porque somos nós a vivê-la – ninguém a vive por nós;
Porque está culturalmente enraizada a noção de que temos que arcar com as consequências das nossas acções;
Porque só assim nos conhecemos verdadeiramente a nós próprios e crescemos;
Porque não é economicamente viável alguém se encarregar disso por nós;


Porque é que quando tudo está bem logo acontece qualquer coisa que deixa tudo mal?

Para dar emoção, como nos filmes de suspense – a (minha) vida é um filme;
Para testar o herói até ao limite (haverá um?) das suas capacidades;
Porque como o ouro passa pelo fogo para atingir a perfeição, o homem passa pela provação para prosseguir nesse caminho (da perfeição…)


(A portugalidade chama-lhe fado, sina, destino. Há também quem lhe chame acaso, sorte. Na Antiguidade eram os deuses, os fados. No Renascimento era a Fortuna. Eu vou mesmo pela sina: “Quem nasceu para abóbora nunca chega a melão.”)

Porque é que o doce nunca é tão doce sem o amargo?

Porque o ying e o yang são tão pandémicos – estão em todo o lado, até no paladar;
Pela mesma razão que não haveria Laurel sem Hardy, Telma sem Louise, Tom sem Jerry, Hitchy sem Scratchy, Beavis sem Buthead (e podia continuar…)


Porque é que não somos perfeitos?

Porque nem todos nascemos Reynaldo Gianecchini ou Giselle Bündchen – uma questão de genética, claro!

Porque é que ninguém quer morrer, mas todos querem ir para o Céu?

Porque conceptualizamos cognitivamente o bem com o alto e o mal com o inferior;
Por uma questão de marketing: não é lá que estão as quarenta virgens? (lembra a tradição humanista renascentista do Camões…a Ilha dos Amores…)

Por uma questão de opção pelo mal menor: Porque a morte é encarada como uma inevitabilidade, equiparável, sinónimo de mal, por não ser (ainda) humanamente controlável ou manipulável; implicando portanto o abandono daquilo que construímos, do que conseguimos alcançar e das pessoas que amamos – é fácil de perceber então que ninguém, no seu perfeito juízo, a queira. Daqui o raciocínio é simples, já que nada podemos fazer contra o mal que é a morte, porque a sofremos muito a contra-gosto, é profundamente humano (e compreensível) o desejo de que essa amargura seja recompensada com o bem-estar que se crê típico do Céu.)


Porque é tão difícil o Amor?

Porque é perfeito e nós não;
Porque é um mito, a versão do Pai Natal para adultos: não existe;
Porque tendemos a complicar o que é simples;
Porque não vemos o óbvio;
Porque somos eternos insatisfeitos;
Porque os homens são de Marte e as mulheres de Vénus;
Porque há uma incompatibilidade de momentos, oportunidades, circunstâncias e situações, que é intrínseca a ambos e que só muito raramente e a muito custo é ultrapassada;
Porque homens e mulheres andam portanto constantemente desencontrados;
Porque as mulheres idealizam e os homens pragmatizam ao máximo as relações;
Porque o homem pensa: Life is short: eat dessert first.
Porque a mulher pensa: Life is short, what do I do? What do I do? Dessert? No thanks, I can´t get fat!

E já agora, porque é que o “Big Phil” não convoca o “Bitinho”? ;)
(Aceitam-se sugestões, porque estas, as minhas, são demasiado fatelas:)

Porque a selecção é fiel à bandeira – verde e vermelha – somente;
Porque ele não é brasileiro nacionalizado português;
Porque ele não joga no estrangeiro;
Porque ele tem experiência;
Porque ele é líder;
Porque ele tem fair-play;
Porque ele ganha títulos;
Porque ele é bonito;
Porque ele tem voz máscula;
Porque ele não fixa os olhos no chão quando perde ou joga mal;
Porque ele assume quando a culpa é dele;
Porque ele é titular;
Porque ele é suplente;
Porque ele é FCP;
Porque ele nunca tira as luvas;
Porque ele é patrocinado pela Adidas;
Porque ele limita-se a defender, não marca, penalties;
Porque ele sempre manifestou a sua disponibilidade e não pôs e dispôs da selecção a seu bel-prazer;
Porque o “filhinho” Cristiano Ronaldo quer amigos, da sua idade mental, para se exibir, ocasionalmente jogar bem à bola e sempre que possível mandar uns quantos impropérios, cheios de perdigotos, ao público;
Porque o estatuto de “avozinho” é vitalício e pertence em exclusivo ao Figo;
Porque sim;
Porque não;

Porquê?

1 comentário:

Anónimo disse...

porque escrevest??pq?lolol...bjinhs.nininha