Apesar de o dia próprio só ser na próxima terça-feira, Haloween has been in town for some time now. Ele é abóboras por todo o lado, à soleira da porta, à janela, debaixo do alpendre, ele é teias imensas e respectivos aracnídeos gigantes nos portões, ele é espantalhos no quintal, ele é fantasmas nos degraus da entrada, ele é saquinhos de rebuçados e outros treats nos mesmos degraus, ele é bruxas narigudas de verrugas proeminentes à porta, ele é caveiras e esqueletos under the porch… pelo menos no meu block, ou melhor nos três blocks do meu neighborhood.
Ontem convenceram-me a ir a uma Halloween Party. Convenceram-me não tanto pelos argumentos: Jo, in America, be american, it´ll be fun, you have to go, mas mais pela exaustão: I´ll find you this amazing costume and we don´t need to be there the whole time and you don´t need to drink and you get to see me dressed like crazy and you get to see and try to guess other people´s costumes! It´ll be fun, you´ll have a good time, I promise! Não me restou outra hipótese: Ok, ok, you win, I go. Mesmo sabendo que o good time vai passar-me exactamente ao lado enquanto aturo all night long o (ou os…) "halloweener" mais bêbado, mais meloso, mais aborrecido e mais tarado do campus. Para não variar. No, no, that won´t happen, I´m sure. One more reason for you to come: I´ll prove you wrong! Seria a primeira vez, nestas circunstâncias. A ver vamos.
Não percebo bem o porquê de toda esta agitação – a mesma que eu sinto no Natal! Não percebo, porque não sou de cá, dizem-me. Porque não há nada mais divertido do que uma Halloween Party, costume guessing, it´s so fun! Os americanos pelam-se por um bom disfarce. (Aproveitam toda e qualquer ocasião para isso, pelo que me é dado a entender). E o Halloween é a sublimação disso pelo jogo, às vezes de palavras ou conceitos, gerado à volta do disfarce. Alguns até queriam que fosse feriado! Percebi hoje ao almoço. Um almoço por acaso muito descontraído em que os senhores físicos se divertiram a idealizar o perfect costume para a minha pessoa. Quem me manda a mim ir almocar com eles?! O Manel, pois, o Manel, a língua e as saudades!... Ora, americanos, indiano, grego, suíço e até o português (ai Manel, se te apanho...!), unanimente: Cat. Imagine-se! Eu!... que, além de tudo o mais, antipatizo solenemente com felinos. (Já para nem sequer pensar no jogo de ideias subjacente à fantasia que ninguém me quis explicar!)
Enfim, o que vale é que a Jo na América não é american, nem european, nem portuguese, nem sequer madeiran. A Jo na América é a Joana and that´s all. Às vezes um bocadinho disso tudo, às vezes nada disso, às vezes muito mais que isso, ou muito menos, depende. A Jo nao é de todo uma Halloween person e hoje assustou-se a valer... assustou-se porque, às sete e meia da manhã, quando caminhava around the block, ouviu do meio do nada uma voz, profundamente metálica e trocista, que dizia: Helloooo, it´s meeeee!!! (Scary.) A Jo costuma dizer Hello, how are you doing? a todos os vizinhos que encontra no já habitual périplo matinal, mas não reconheceu aquela voz; além do que nunca nenhum deles lhe diz mais do que: Doing pretty good and you? A Jo volta-se para ver who the hell is the smart ass e dá de caras com um esqueleto de falanges acenantes… A Jo ri-se o resto do caminho e começa a pensar em excentricidades e extravagâncias... Americanices! Esqueletos falantes que acenam, disfarces repletos de insinuações, planeados com extremo cuidado e semanas de antecedência, willy wonkas, corpse brides, jack the rippers, bolas de cristal, um vaso enorme cheio com olhos – aparentemente humanos, mas de vidro – que bailam num líquido branco, ao lado de outro vaso enorme, cheio até ao topo de rebuçados, chocolates; abóboras nos jardins sob a forma de luzinhas minúsculas, abóboras reais, pumpkin picking, pumpkin buying, pumpkin carving, pumpkin feeding (os animais do jardim zoológico de cá são alimentados à base de abóboras nesta quadra), pumpkin pie ontem na recepção pós-colóquio departamental, pumpkin candles, pumpkin scent, pumpkin body lotion.
Pumpkin Body Lotion for the Holidays! podia ler-se, há umas boas duas semanas, na montra da Body and Bath. Lá dentro, na área central da loja, o destaque era evidente: um arranjo magnífico, composto de várias embalagens da mesma. Não consegui disfarçar o meu espanto. O meu irmão é que tem razão: sou muito gullible, passo o tempo a surpreender-me. E o pior nem é isso, o pior é não conseguir disfarçar. Resultado: Lá veio a senhora da loja, solícita como de costume, com o sorriso típico de quem me conhece desde sempre, aproveitar a brechazinha entre a surpresa e o espanto para convencer a gullible Jo. Wrong, wrong, wrong: dificilmente se deixa convencer. A Jo. Apesar de todos os you should try it, it´s the must-have for these holidays (leia-se “as festas”, neste caso o Halloween.) I know you´re a “Vanilla girl”, but just try it. (“Vanilla girl?” Não é que me conhece mesmo?! Já é a segunda pessoa esta semana a sublinhar o mesmo. Estes americanos são muito olfactivos, pensei, ao recordar a primeira pessoa. (Creepy.) A primeira pessoa foi o senhor da caixa da 13th Street Store, num Lunch break qualquer do início da semana. Enquanto eu pagava, o homenzito, americano típico, boné dos Texas Longhorns, cabelo pelos ombros e barba de dias, disparava para o ar, assim como quem não quer a coisa: No perfume today, huh? E eu, primeiro que percebesse que estava a falar comigo… levei um bocadinho mais que uma eternidade (!), depois finalmente: Sorry? Ele, agora directo, à procura de uma explicação bem no fundo dos meus olhos: No perfume today!? Eu: Perfume? Today? I never wear perfume, don´t like it, it makes me sick. Ele: Oh really, what about that scent… Eu, hesitante entre o divertida e o assustada: Scent… Vanilla scent? Ele: Yeah, that´s the one, I've been trying for ages to figure out which… Eu, explicativa: That´s body lotion, and no, this morning I was running late, forgot to put it. Ele, desconsolado: Too bad!… too bad for you and for me... Eu agradeci o troco. Sorriso esforçadamente educado e pernas para que vos quero!
Bem, escusado será dizer que com a vendedora uma vez mais não resisti à small talk. Então, just testing: “Vanilla girl?” Well, I believe I’m also a “Cherry Blossom girl”, a “Gardenia girl”, even a “Passion Fruit girl”… Yes, dear, but you’re a “Vanilla girl” and it´s not just because that´s the lotion you buy the most, it´s you, everything about you, hun!... Ora querem ver que a vendedora é psychic também!? De qualquer maneira, facilitou-me a vida: Well then you certainly know I’m not the Pumpkin type!, rematei.
Ontem convenceram-me a ir a uma Halloween Party. Convenceram-me não tanto pelos argumentos: Jo, in America, be american, it´ll be fun, you have to go, mas mais pela exaustão: I´ll find you this amazing costume and we don´t need to be there the whole time and you don´t need to drink and you get to see me dressed like crazy and you get to see and try to guess other people´s costumes! It´ll be fun, you´ll have a good time, I promise! Não me restou outra hipótese: Ok, ok, you win, I go. Mesmo sabendo que o good time vai passar-me exactamente ao lado enquanto aturo all night long o (ou os…) "halloweener" mais bêbado, mais meloso, mais aborrecido e mais tarado do campus. Para não variar. No, no, that won´t happen, I´m sure. One more reason for you to come: I´ll prove you wrong! Seria a primeira vez, nestas circunstâncias. A ver vamos.
Não percebo bem o porquê de toda esta agitação – a mesma que eu sinto no Natal! Não percebo, porque não sou de cá, dizem-me. Porque não há nada mais divertido do que uma Halloween Party, costume guessing, it´s so fun! Os americanos pelam-se por um bom disfarce. (Aproveitam toda e qualquer ocasião para isso, pelo que me é dado a entender). E o Halloween é a sublimação disso pelo jogo, às vezes de palavras ou conceitos, gerado à volta do disfarce. Alguns até queriam que fosse feriado! Percebi hoje ao almoço. Um almoço por acaso muito descontraído em que os senhores físicos se divertiram a idealizar o perfect costume para a minha pessoa. Quem me manda a mim ir almocar com eles?! O Manel, pois, o Manel, a língua e as saudades!... Ora, americanos, indiano, grego, suíço e até o português (ai Manel, se te apanho...!), unanimente: Cat. Imagine-se! Eu!... que, além de tudo o mais, antipatizo solenemente com felinos. (Já para nem sequer pensar no jogo de ideias subjacente à fantasia que ninguém me quis explicar!)
Enfim, o que vale é que a Jo na América não é american, nem european, nem portuguese, nem sequer madeiran. A Jo na América é a Joana and that´s all. Às vezes um bocadinho disso tudo, às vezes nada disso, às vezes muito mais que isso, ou muito menos, depende. A Jo nao é de todo uma Halloween person e hoje assustou-se a valer... assustou-se porque, às sete e meia da manhã, quando caminhava around the block, ouviu do meio do nada uma voz, profundamente metálica e trocista, que dizia: Helloooo, it´s meeeee!!! (Scary.) A Jo costuma dizer Hello, how are you doing? a todos os vizinhos que encontra no já habitual périplo matinal, mas não reconheceu aquela voz; além do que nunca nenhum deles lhe diz mais do que: Doing pretty good and you? A Jo volta-se para ver who the hell is the smart ass e dá de caras com um esqueleto de falanges acenantes… A Jo ri-se o resto do caminho e começa a pensar em excentricidades e extravagâncias... Americanices! Esqueletos falantes que acenam, disfarces repletos de insinuações, planeados com extremo cuidado e semanas de antecedência, willy wonkas, corpse brides, jack the rippers, bolas de cristal, um vaso enorme cheio com olhos – aparentemente humanos, mas de vidro – que bailam num líquido branco, ao lado de outro vaso enorme, cheio até ao topo de rebuçados, chocolates; abóboras nos jardins sob a forma de luzinhas minúsculas, abóboras reais, pumpkin picking, pumpkin buying, pumpkin carving, pumpkin feeding (os animais do jardim zoológico de cá são alimentados à base de abóboras nesta quadra), pumpkin pie ontem na recepção pós-colóquio departamental, pumpkin candles, pumpkin scent, pumpkin body lotion.
Pumpkin Body Lotion for the Holidays! podia ler-se, há umas boas duas semanas, na montra da Body and Bath. Lá dentro, na área central da loja, o destaque era evidente: um arranjo magnífico, composto de várias embalagens da mesma. Não consegui disfarçar o meu espanto. O meu irmão é que tem razão: sou muito gullible, passo o tempo a surpreender-me. E o pior nem é isso, o pior é não conseguir disfarçar. Resultado: Lá veio a senhora da loja, solícita como de costume, com o sorriso típico de quem me conhece desde sempre, aproveitar a brechazinha entre a surpresa e o espanto para convencer a gullible Jo. Wrong, wrong, wrong: dificilmente se deixa convencer. A Jo. Apesar de todos os you should try it, it´s the must-have for these holidays (leia-se “as festas”, neste caso o Halloween.) I know you´re a “Vanilla girl”, but just try it. (“Vanilla girl?” Não é que me conhece mesmo?! Já é a segunda pessoa esta semana a sublinhar o mesmo. Estes americanos são muito olfactivos, pensei, ao recordar a primeira pessoa. (Creepy.) A primeira pessoa foi o senhor da caixa da 13th Street Store, num Lunch break qualquer do início da semana. Enquanto eu pagava, o homenzito, americano típico, boné dos Texas Longhorns, cabelo pelos ombros e barba de dias, disparava para o ar, assim como quem não quer a coisa: No perfume today, huh? E eu, primeiro que percebesse que estava a falar comigo… levei um bocadinho mais que uma eternidade (!), depois finalmente: Sorry? Ele, agora directo, à procura de uma explicação bem no fundo dos meus olhos: No perfume today!? Eu: Perfume? Today? I never wear perfume, don´t like it, it makes me sick. Ele: Oh really, what about that scent… Eu, hesitante entre o divertida e o assustada: Scent… Vanilla scent? Ele: Yeah, that´s the one, I've been trying for ages to figure out which… Eu, explicativa: That´s body lotion, and no, this morning I was running late, forgot to put it. Ele, desconsolado: Too bad!… too bad for you and for me... Eu agradeci o troco. Sorriso esforçadamente educado e pernas para que vos quero!
Bem, escusado será dizer que com a vendedora uma vez mais não resisti à small talk. Então, just testing: “Vanilla girl?” Well, I believe I’m also a “Cherry Blossom girl”, a “Gardenia girl”, even a “Passion Fruit girl”… Yes, dear, but you’re a “Vanilla girl” and it´s not just because that´s the lotion you buy the most, it´s you, everything about you, hun!... Ora querem ver que a vendedora é psychic também!? De qualquer maneira, facilitou-me a vida: Well then you certainly know I’m not the Pumpkin type!, rematei.
Será que o homenzito da servery aguarda ansiosamente por um pumpkin scent por estas alturas?
Que scent exalará a Cat dos físicos?
Scary. Creepy. Just like Halloween…
4 comentários:
Essa gente de olfactos tão apurados não entendem que uma vanilla girl jamais poderá ser uma halloween girl? Blessed them!
Bem JO, pareces uma Bridget Jones neste post! Gostei desta tua aventura. lol
Decididamente as suas histórias são mesmo refrescantes para mim!Ainda bem que a encontrei nestes meandros da net! Sobre o "seu" cheirinho a baunilha, não será um dote natural da sua pertença madeirense? É que eu, mal desço do avião no Funchal, encontro imediatamente no ar esse perfume dos "sapatinhos de papo" que se derrama por todos os lugares daquela bendita ilha e naturalmente se colará aos genes de alguns madeirenses e colaterais...Olhe que estou a brincar, mas só numa mínima parte de tudo o que disse.Apenas um pequeno toque...Seja feliz!
Cientista,
Esta gente é muiiiiiiiiito estranha... mesmo! ;)
Semremos,
Como eu te entendo... Mais, o "SWEET and KIND" que vês é o que és tu, antes de mais! ;) Mas o meu muito obrigada, babado, para ti.
Anabela,
Espero que a alusão a BJ se deva à graça que a Maria de Lurdes também achou no texto... (qualquer semelhança com a gordinha dos cuecões que acorda com uma dor de cabeca, uma ressaca do tamanho do mundo e o patrão é... nem sei o quê!)
Maria de Lurdes,
Nunca tinha pensado na hipótese da pertença madeirense... ;) Eheheh!
Ainda bem que a encontrei nestes meandros, digo eu!
Jinhos a todas.
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