Cá a primeira aula do dia começa às 9.25 da manhã, duas horas depois de tudo no campus já estar a funcionar a todo o gás. Cá o ensino superior é um El Dorado em termos de elegibilidade para frequência de cadeiras (alunos de Direito, Biologia e Engenharia fazem Linguística comigo). Cá o professor parte do mesmo ponto para onde se dirige: do e para o raciocínio, da e para a associação, do e para o quotidiano e da e para a prática. Cá os alunos são seleccionados individualmente. Pela inteligência, pelo trabalho e pela capacidade de sobressair do grupo. Cá trabalha-se muito, das 7.30 da manhã às 4.30 institucionalmente, das 8.00 às 20.00 efectivamente.
Cá chegou finalmente o Outono e com ele chegaram os pijamas à aula. Porque as residências dos undergraduates ficam mesmo across the street from our department. Já tinha dado pelo inusitado o ano passado, numa das duas semanas de Inverno que tivemos; deparei-me com um bando deles assim: um de roupão, outro enrolado numa manta, outro ainda arrastando um cobertor campus fora. Nunca tinha presenciado. Até hoje, até há pouco. Chego à aula, em cima da hora - é verdade -, sento-me, por acaso desta vez ao lado do aluno mais interveniente, e antes mesmo de abrir o caderno, de certo reflexivamente, olho para o lado, à força de me parecer ter vislumbrado algo semelhante um bagel na mão do dito e de ter ouvido os sons típicos da mastigação de boca aberta.
Então não é que a estrela da classe estava a comer um bagel ao mesmo tempo que interpelava o professor, ria e, divertido, piscava o olho à minha estupefacção. Retribuo com um sorriso ensonado e amarelo; olho, não sei porquê, para baixo. Pijama. Pijama?! Pijama. Viro-me para o outro lado: uma rapariga com o cabelo mais desgrenhado que a Maga Patalógica furibunda está sentada em posição tipicamente oriental, mas em cima da cadeira, havaianas no chão, ao lado da mochila. (Não temos secretárias, mas aquelas cadeiras com uma mesita de lado). E está tudo dito.
Tive sorte uma vez que, além da mastigação ruidosa e da visão psicadélica de umas calças de pijama de gosto kitsch e de um buda de oms por vir, assustadoramente emagrecido, caucasiano e feminino, os meus sentidos, nomeadamente o olfacto, não detectaram mais nada. Tive sorte, nem sempre é assim, dizem-me.
O El Dorado académico de cá é tão livre, tão livre, de pré-juízos e pré-conceitos, so open-minded, ready, willing and able and at your disposal, que a diferença entre a sala de aula e a cozinha lá de casa, ou da residência, é, pelo que vejo, mínima: havaianas de lado, pijama vestido e bagel na mão (e subsequente deglutição através de sonora mastigação).
Esta Universidade faz gala em ser um sítio acolhedor “…onde todos se devem sentir em casa e a Instituição congratula-se em permitir dessa forma a todos o pretendido desabrochar pessoal e profissional.” Todos os Departamentos têm, para uso exclusivo do ensino graduado, uma cozinha! (A nossa, excelentemente equipada por sinal, apesar de não termos televisão - como no Departamento de Inglês). E tudo isso faz-me imensa confusão.
A meio da aula, o pijama já se tinha transformado num par de calções, por meio de arragaço e enrolamento (naturalmente desfeitos à saída); a meditação continuava, acerca de questões de Polissemia ou não. Sei lá.
É claro que eu venho de um país, pequeno e tacanho, onde se trabalha das 10.00 às 15.00, ao computador, a jogar damas; de um país onde as aulas, no Básico, começam às 8.00 da manhã, se o professor não se atrasar; às 8.10 se o trânsito permitir; às 9.00, no Superior, se o professor não se tiver esquecido da aula, ou não comparecer, pura e simplesmente. De um país onde os Departamentos são gabinetes, a maior parte das vezes partilhados por três professores, em média. De um país onde os alunos são seleccionados em virtude de um somatório, absolutamente ridículo, entre uma média (hilariante para o caso das Humanidades ou, paradoxalmente, da Medicina!), quantas vezes forjada via ensino Recorrente, e uns exames designados de nacionais (pela estupidez e pela sensaboria subjacentes, com certeza!); um país só de especialistas, de todas as áreas, que carecem dos mais básicos conhecimentos linguísticos e matemáticos.
Se calhar é esse país, pequeno e tacanho, esse daí, que me lavou o cérebro e me leva a estranhar o que vi há pouco.
Porque se o campus é a casa, a casa é o quê?
Cá chegou finalmente o Outono e com ele chegaram os pijamas à aula. Porque as residências dos undergraduates ficam mesmo across the street from our department. Já tinha dado pelo inusitado o ano passado, numa das duas semanas de Inverno que tivemos; deparei-me com um bando deles assim: um de roupão, outro enrolado numa manta, outro ainda arrastando um cobertor campus fora. Nunca tinha presenciado. Até hoje, até há pouco. Chego à aula, em cima da hora - é verdade -, sento-me, por acaso desta vez ao lado do aluno mais interveniente, e antes mesmo de abrir o caderno, de certo reflexivamente, olho para o lado, à força de me parecer ter vislumbrado algo semelhante um bagel na mão do dito e de ter ouvido os sons típicos da mastigação de boca aberta.
Então não é que a estrela da classe estava a comer um bagel ao mesmo tempo que interpelava o professor, ria e, divertido, piscava o olho à minha estupefacção. Retribuo com um sorriso ensonado e amarelo; olho, não sei porquê, para baixo. Pijama. Pijama?! Pijama. Viro-me para o outro lado: uma rapariga com o cabelo mais desgrenhado que a Maga Patalógica furibunda está sentada em posição tipicamente oriental, mas em cima da cadeira, havaianas no chão, ao lado da mochila. (Não temos secretárias, mas aquelas cadeiras com uma mesita de lado). E está tudo dito.
Tive sorte uma vez que, além da mastigação ruidosa e da visão psicadélica de umas calças de pijama de gosto kitsch e de um buda de oms por vir, assustadoramente emagrecido, caucasiano e feminino, os meus sentidos, nomeadamente o olfacto, não detectaram mais nada. Tive sorte, nem sempre é assim, dizem-me.
O El Dorado académico de cá é tão livre, tão livre, de pré-juízos e pré-conceitos, so open-minded, ready, willing and able and at your disposal, que a diferença entre a sala de aula e a cozinha lá de casa, ou da residência, é, pelo que vejo, mínima: havaianas de lado, pijama vestido e bagel na mão (e subsequente deglutição através de sonora mastigação).
Esta Universidade faz gala em ser um sítio acolhedor “…onde todos se devem sentir em casa e a Instituição congratula-se em permitir dessa forma a todos o pretendido desabrochar pessoal e profissional.” Todos os Departamentos têm, para uso exclusivo do ensino graduado, uma cozinha! (A nossa, excelentemente equipada por sinal, apesar de não termos televisão - como no Departamento de Inglês). E tudo isso faz-me imensa confusão.
A meio da aula, o pijama já se tinha transformado num par de calções, por meio de arragaço e enrolamento (naturalmente desfeitos à saída); a meditação continuava, acerca de questões de Polissemia ou não. Sei lá.
É claro que eu venho de um país, pequeno e tacanho, onde se trabalha das 10.00 às 15.00, ao computador, a jogar damas; de um país onde as aulas, no Básico, começam às 8.00 da manhã, se o professor não se atrasar; às 8.10 se o trânsito permitir; às 9.00, no Superior, se o professor não se tiver esquecido da aula, ou não comparecer, pura e simplesmente. De um país onde os Departamentos são gabinetes, a maior parte das vezes partilhados por três professores, em média. De um país onde os alunos são seleccionados em virtude de um somatório, absolutamente ridículo, entre uma média (hilariante para o caso das Humanidades ou, paradoxalmente, da Medicina!), quantas vezes forjada via ensino Recorrente, e uns exames designados de nacionais (pela estupidez e pela sensaboria subjacentes, com certeza!); um país só de especialistas, de todas as áreas, que carecem dos mais básicos conhecimentos linguísticos e matemáticos.
Se calhar é esse país, pequeno e tacanho, esse daí, que me lavou o cérebro e me leva a estranhar o que vi há pouco.
Porque se o campus é a casa, a casa é o quê?
Se a aula é a cozinha, a cozinha é o quê?
E o professor?
Será que os artigos são guardanapos e os livros pratos?
E amanhã no mercado de trabalho, estes miúdos vão de pijama e gravata, meiita e pantufa? Roupão ou sobretudo?
E o professor?
Será que os artigos são guardanapos e os livros pratos?
E amanhã no mercado de trabalho, estes miúdos vão de pijama e gravata, meiita e pantufa? Roupão ou sobretudo?
E levam os projectos, os estudos de mercado e os dossiers, onde? No saco do lixo?
Perguntas pequenas e tacanhas. Dizem-me. Estes miúdos são geniais. Dizem-me. (Muito inteligentes e trabalhadores serão, com certeza. Digo eu.) Só fazem o que os pais antes deles fizeram. Dizem-me. It's the american way of life. Não têm vergonha, nem pejo, nem complexos, nem culpas. O mundo é deles!
Perguntas pequenas e tacanhas. Dizem-me. Estes miúdos são geniais. Dizem-me. (Muito inteligentes e trabalhadores serão, com certeza. Digo eu.) Só fazem o que os pais antes deles fizeram. Dizem-me. It's the american way of life. Não têm vergonha, nem pejo, nem complexos, nem culpas. O mundo é deles!
Possivelmente. E isso explica muita coisa.
3 comentários:
Deviamos ser tds um pco axim..pq nada dixo impede d trablhar..ja os portugueses tanto perdem tempo em superficialidades k o trabalho(e intelectual tba) ja é o menor d tdo..por ixo sendo tarmos nos onde estamos e eles tarem onde estao. s a casa é la...o k e a casa?entao n entendes..k é td uma gande casa?é td um continuaçao?onde eles dormem e onde tem aulas?é td uma casa...e tdo uma familia...axo k sim, e tnho a certeza k apesar dixo inteligentes como sao..sabem k kando forem trablhar n levam no saco do lixo..podem ir d havainas mas o trablho estara feito e saberao estar a altura em tds os niveis..!thats a way of living! k parece k rentabiliza mais..portanto...who is wrong?:D BJINHS Nininha
Adorei o ir de pijama para as aulas!Havia mesmo de ser por aqui...
Pois... ;) Jinhos.
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