sexta-feira, fevereiro 13, 2009

É quando penso em amanhã


A minha mala pesa agora, estes dias, sete quilos. Os cinco do costume mais os dois das cartas do António íntimo que leio agora, estes dias até ao sol, que vou lendo devagarinho, o mais devagarinho possível, até ao sol, que vou interrompendo todas as manhãs de súbito, quase de súbito, depois da oito, quando o sol me entra cartas adentro pela janela, pelas mãos, pelo colo, coração adentro.

Olho janela fora, olho o sol, perco-me, volto a mim, à mala, tiro de lá os óculos-de-sol, ponho-os – sumo momento de felicidade! – olho-o, todo luz este sol bonito de agora!, e penso no Eugénio de Andrade a aquecer as mãos em manhãs de fim-de-semana na Foz. Fecho os olhos e imagino-o com muita força. Entendo-o. E penso em quem me contou isso numa manhã de sábado americana, há muito, muito tempo. É sempre, é inevitável quando olho um sol de Inverno.

É quando olho um sol de Inverno. É quando passo a ferro. É quando começo a ouvir o primeiro acorde de uma ou outra música no ipod. É quando me cheira a alfazema. É quando passo por uma rapariga bonita, mais bonita que eu, e magrinha, mais magrinha que eu, e com sotaque daqui, o sotaque que eu nunca. É quando passo os olhos, e as mãos, por um Jack London ou um Dino Buzzati ou. É quando compro um vestido. É quando me elogiam o cheirinho a baunilha num beijo às mãos. É quando vou almoçar a um sítio novo. É quando noto que o cabelo está a crescer numas ondas finalmente bonitas. É quando visto umas meias de renda. É quando me chegam mails, notícias e convites, desse país, dessa cidade nesse país. É quando janto mini-pizzas. É quando vou ao banco e as cãs e os olhos verdes do rapaz crescem. É quando leio, uma palavra, uma expressão, uma frase sempre. É quando escrevo, todas as palavras, todas as expressões, toda a frase sempre. É quando me levanto, a primeira coisa. É quando trabalho, ao longo do dia, muita coisa. É quando me deito, a última coisa. É quando é sempre. É quando. É sempre.

Sempre. Sempre. Sempre.
Sempre.


Acredito demais. Acredito demasiado para conceber sequer lutas perdidas de antemão. Não acredito em lutas perdidas de antemão. Não acredito em lutas entre duas pessoas que se. Perdidas. Não, não acredito. Lutas. Também não. De antemão. Não, muito menos, não acredito. A culpa é do António íntimo. Ou minha, que acredito. Sei lá. A culpa é minha, acredito.

Sou uma miúda muito estranha, que queres?



12 comentários:

K. disse...

As lutas perdidas de antemao nao sao aquelas porque nao vale a pena lutar. Sao as lutas inúteis. Escreves sempre coisas com as que me identifico. Buzzati, London, a imagem tao nítida do Eugénio de Andrade ao sol na Foz, tantas e tantas vezes, como um gato velho a saborear a vida...

Maria Rita disse...

Eu também não acredito em lutas perdidas de antemão!

E esta músiquinha tem-me aquecido tanto o coração! :)

Gostei muito, como sempre :)
Um beijinho*

kelly disse...

e é depois de tantas vezes te acusarem de seres ingénua, que encolhes os ombros, depois da dúvida inicial, que sentes "so what?"
quero ser capaz de acreditar assim, como se tivesse 7 anos, conseguir olhar sempre tão fundo.
um beijinho

ana salomé disse...

vim aqui dar um pulinho para agradecer pelo maravilhoso almoço de acaso de hoje. dizer que espero não ter interrompido nenhum momento que tu e a tua amiga pudessem precisar. dizer que nunca o adónis foi tão bonito perante seis olhos e vejo isto: mais um dos teus textos que são sempre renda de luz e uma linda menina com brincos de cereja que hoje estava tão risonha e que, por isso, me deixou tão feliz. outra coisa: duas pessoas que se. não lutam, dançam. e tu saberás como dançar a valsa que toca por dentro do teu coração.

linda*

beijoca

Joana disse...

A todos:

Saborear a vida. Sem lutas. Dançando.
Saborear a vida. Sem ingenuidades. Rindo.

Jinhos, muitos.

P.S. Ana, não interrompeste momento nenhum; pelo contrário, tornaste tão mais rico o nosso momento!...

(Desculpa lá as palhaçadas, estava de cabeça perdida ontem... e o adónis também não me facilita nunca a compostura, ai!. E é grande e liiiiindo (já o imaginaste com asas?) o suficiente para servir de desculpa, mas não: desculpa. Especialmente se não te diverti apenas... :)

Jinhos.

ana salomé disse...

pedir desculpa, joana? estás tontinha. vou um almoço fabuloso. e tu estavas inspiradíssima. aliás, nós as duas estavamos capazes de dar asas ao adónis. (lol, por acaso já tinha mesmo imaginado.). e tens razão, ele não ajuda à compostura. eh eh temos de ir lá algum outro dia falar-lhe sobre asas. :D

beijinho grande
e boa concentração.***

(p.s. sabes que recebi um coração piroso da biblioteca? lol o antónio viu e perguntou se era de um apaixonado. hihihi que loucura :D mas não, pfff, era de uma antiga aluna minha sobre o amor de Deus. eheheh mas foi querida em dar-mo. e pensei logo em ti, por teres criticado os corações e caiu-me logo um em mãos. lol que coincidência doida).


(p.s. 2 - o lost in translation arrepia, sim, deixa sem palavras, assim como o kozelek. um dia falo-te dele, do porquê dele me ser tão difícil, mas tão necessário à vida)

..

que tagarela que estou. desculpa.


beijinho de bom dia dos amoris. ehe eh

Joana disse...

"pedir desculpa, (...)ana? estás tontinha."

Estávamos as duas inspiradíssimas. E foi muito bom!

:)))))))))))))))))



Quanto ao resto, porque é que eu não sou igual às outras pessoas - como pergunta a Vanessa? Na volta, os corações que eu acho odiosos vão fazer um sucesso estrondoso. :(


O António, hoje SUMAMENTE bem-disposto, quase com-cara-de-apaixonado!, está aqui bem à minha frente, debruçadíssimo à varanda da minha janela a aproveitar o sol.
Tão... tão... ele! Ehehehehhe!!!

Jinhos, muita força nesse estudo.

P.S. Aguardo prelecção acerca do Kozelek para breve.

V. disse...

posso juntar-me a vocês e dizer que também me apetece incendiar esses corações todos? ou deitá-los ao rio? (sim, também me ofereceram um e eu acho uma piroseira pegada, enfim.)

e booooooom dia do amor lamechas, façam favor!

ai!

(não consegui evitar, fui contaminada. estou parva de todo.)

beijinho*

Joana disse...

Vanessa,

Juntares-te a nós...hum, mas tu és nós!!!

Nós: tu, a ana salomé, a raquel e moi. Nós.

Eheheheheh!!!

kelly disse...

the four candy hearted girls:)
a banda sonora da v'zinha Vanessa é adequada: Rivers of Babylon!
lalalala
piadola pirosa: se amo as pessoas q amo todo o santo dia não é por ser dia de São valentim que os vou amar mais ou menos!

ana salomé disse...

lol. exacto, vanessa: nós. :D

mas os ventos estão a mudar para todas. e são bons, bonitos e ventos fofinhos: assim como fitas de veludo a passarem-nos pelos cabelos e pela cara. eh eh

conto, sim senhora. beijinho e flor*

Ouriço-Cacheiro disse...

Cartas do António e mafalda Veiga são uma mistura explosiva em qualquer dos sentidos. Gosto muito de ambos, juntos ou separados.