sexta-feira, fevereiro 27, 2009

A ontologia do sapato

Marine Blue Shoes by Vivienne Westwood, não-meus...!

Tenho uns sapatos azuis escuros que só uso em dias como hoje. Dias de uma doce Primavera.

São bonitos, e agora quase velhos, estes sapatos azuis escuros de hoje. Andei muito, o apego é por isso, andei muito, tempo, para os comprar; andei muito tempo porque, acabei por concluir, os sapatos dividem-se em duas categorias básicas: os que são pretos e os que não sendo, são de todas as outras cores. Dentro da categoria ‘de todas as outras cores’ há uma sub-categoria, a dos castanhos, que domino como poucas pessoas – creio, mas, o azul-marinho que é a minha cor predilecta, o azul destes sapatos que eu queria tanto, esse azul nos sapatos, como eu numa série de coisas, difícil.

Tenho uns sapatos azuis escuros, os de hoje, que são bonitos, já disse, mas confortáveis também. Muito. E têm salto, pequenino – claro!, e são bicudos. Mas confortáveis, sempre. Pena é que me queiram voar dos pés ao mais pequeno encontro com os paralelos.

Nunca percebi a razão de ser dos paralelos. De qualquer coisa que se diga, chame, paralela. Qualquer coisa que nunca se . , que está condenada a arrepiar caminho sem nunca, mas mesmo nunca, pelo mais e pelo menos infinito do tempo e do espaço, nunca encontrar o seu igual, parece-me sumamente inútil. E triste. Ou melhor, totalmente desprovida de significado existencial.

Por isso é que desculpo aos meus sapatos azuis, aos saltos-agulha pequeninos dos meus sapatos azuis, a atracção fatal pelo abismo da relação imperfeita com a reentrância do paralelo.

Tenho uns sapatos azuis escuros que só uso em dias como hoje. Dias de uma doce Primavera no mundo.

Sem comentários: