sexta-feira, março 24, 2006

Da arte de coleccionar...

Sou muito possessiva. E materialista também.
Adoro fazer colecções. Quase tanto como detesto acumular lixo. A diferença entre uma e outra tendência é o tempo que se investe na recolha, a paciência da triagem ou a capacidade de selecção criteriosa (quase inata e espontânea para alguns) que preside à primeira por oposição ao desleixo ou ao desinteresse que promove a segunda.
Tenho três colecções de que me orgulho muitíssimo. São as mais extensas. Duas delas são prosaicas, mas dedico-lhes muito tempo, algum dinheiro e uma devoção por vezes desproporcionada. Uma, é a minha colecção de camafeus – tenho vários: em anéis, brincos, colares (faltam-me pulseiras!…); em ouro, em, prata, em porcelana, em vidro, em plástico… A outra é a minha colecção de joaninhas (não do insecto, obviamente, mas de todo e qualquer objecto que as contenha: pintadas, bordadas, impressas, esculpidas, coladas… em relevo, em fundo…há de tudo! – falta-me o Swatch das joaninhas!...).
Podia também falar dos meus livros e dos meus cds, mas – não sei porquê – não os vejo como colecções. Ou melhor, até sei. Pela mesma razão que não se colecciona pão ou água. Não se pode. São alimento. Do corpo. Da alma. Tão urgentes e necessários como o ar que respiramos. Não-acessórios, definitivamente não-coleccionáveis!
A minha terceira colecção é tudo menos prosaica. É a mais importante, a mais querida e a mais valiosa; paradoxalmente, pela razão pura e simples de não ter preço. Sempre mexeu muito comigo, mas nunca com as minhas economias. O que até é bom. Possibilita o meu desenvolvimento como pessoa. Promove a interacção com outras pessoas. Tem-me feito crescer bastante e descobrir imensa coisa acerca dos outros e, principalmente, acerca de mim própria. Só me apercebi da necessidade absoluta de a constituir, com mais empenho e seriedade, há alguns anos, andava eu no segundo ou no terceiro ano da Faculdade. Longe da ilha, dos pais, das manas, do mano, do melhor amigo... Tardiamente? Não me parece. O Homem é um ser a fazer-se, constantemente, no tempo e no espaço, ad aeternum. Estamos sempre a tempo. Estou eu também. Sempre a tempo. Nunca se tinha proporcionado antes. Nunca tinha sentido necessidade. Nunca investi muito nisso também. A minha terceira colecção – que na realidade é sempre a primeira – é a minha colecção de amigos.
Não tenho muitos, tenho bons. Tenho precisamente os que preciso. Neste momento. Penso eu. É claro que penso sempre isto e o número – graças a Deus – vai aumentando e, de cada um, quando se proporciona, penso com a mesma – e sempre renovada – empatia, tímida, sincera e agradecida – “… pois, ainda bem que te tenho como amigo, só mesmo tu para te lembrares disto agora, que seria de mim sem ti…” Pelo que há sempre espaço para mais um, dois, três, seis, dez, cinquenta, cem, mil, … No espaço de uma mão fechada que é o do coração cabe tudo aquilo que nós lá quisermos guardar. Ás mãos cheias.
Ainda não percebi se os escolho ou se são eles que me escolhem a mim. É possível que sejam eles, porque eu, nisto de colecções, além de primeiramente muito selectiva, levo depois muito tempo a analisar e consequentemente a decidir-me. Demoro muito tempo a dar-me. Totalmente. O que tem impacientado muita gente ao longo dos anos. Já perdi muitos potenciais amigos por essa razão. Muitos mesmo. Porque é que hoje em dia toda a gente quer tudo para ontem? Não se trata de interpretar dados estatísticos, não é, nem poderia ser, uma análise científica, objectiva, taxonómica. Estamos a falar de pessoas! É uma análise de coração. Efectiva-se na entrega, na confiança e na partilha. De momentos, de sonhos, de confidências. É espontânea. Instantânea. Por vezes, com alguma sorte, simultânea. Já aconteceu. Culmina com risos, ou caretas, ou palhaçadas… depende. Cumplicidades. E isso, claro, leva tempo. Às vezes, muito tempo.
Sou possessiva. Sou. Infelizmente. Muito. Gostava de não o ser, mas só as vezes em que digo “o meu…”, “a minha…”… Detestável. E como a boca fala do que transborda do coração… É meu aquilo de que gosto. E isto é tão intrínseco que chega a ser assustador!
Às vezes caio no ridículo. Como no intervalo daquela reunião de avaliação em que se falava sobre determinada aluna e eu, chocadíssima, muito espontaneamente, “a minha S., não é possível!” Saiu-me. Risota geral. Ou então quando, no fim de um jogo de futebol, comentava com alguém que “… certamente a história do jogo teria sido diferente se o meu X. fosse titular…” Meu?! Saiu-me novamente.
Pessoas não são objectos materiais adquiríveis. Não as temos. Nunca as teremos. Não são nossas. Nunca o serão. Mas temos momentos. Sempre teremos momentos e por isso a necessidade de se passar tempo, útil, com as pessoas que amamos. Por isso é que a Paciência, a Determinação, a Dedicação e a Estima delegam no Tempo a função de fazer vir ao mundo a Amizade. Por isso é que se torna necessário cultivá-la, dedicar-lhe atenção, tempo, alimento e rodeá-la dos cuidados necessários à sua manutenção e desenvolvimento, como se de uma planta se tratasse …bonsai… Por isso, perder um amigo é enterrar momentos, não os passados – esses ficam connosco –, mas aqueles que haveriam de vir; é ver definhar a planta e sentir essa lenta agonia por dentro.

1 comentário:

Anónimo disse...

A minha maninha+velhinha...(mas n ker dizer k seja possesiva...é verdade es minha mana..tens algo d meu..algo comum..sangue, pensamento..amor...)é ixo...kando intitulas meu ou minha..é algo k adkiriste..algo com k t identifikas..algo k pexoa tem em comum cntigo, nem k seja so akele carinho..o meu carinho por ti o teu carinho por mim...torna se todo..da msm pexoa.todos a msm pexoa..a msm energia..so dividida por todos..mas tds comuns...(axo k n tou a explikar mt bem..)...lol...n keres so uma pexoa so uma coisa...dizes meus..e minhas...td ixo pa t completares..incluindo os outros..n somos nada sos..somos um todo..axo k é exa a minha visao!(n tnho o dom da palavra...mas ai vai uma tentativa...)BJINHOS PA MINHA MANA,com mtas saudadx.Bjinhos, Nininha