Conhecemos todos pessoas grandes e pessoas pequenas. Cruzam-se connosco todos os dias. De forma memorável. Sempre. Para o bem e para o mal.
Podia brincar com as assimetrias que presidem à colocação dos adjectivos e discorrer acerca do abismo ontológico que separa uma “pessoa grande” de uma “grande pessoa” (ou, da mesma forma, uma “pessoa pequena” de uma “pequena pessoa”). Podia, mas não vou. Porque há na simplicidade destas denominações mais correntes, e porventura prosaicas, a beleza que eu procuro e que é muito mais elucidativa do que qualquer jogo de palavras que eu possa fazer.
As pessoas pequenas acham-se grandes pessoas.
As pessoas grandes não acham nada. Limitam-se a ser. Em consciência. E deixam para os outros as opiniões.
As pessoas pequenas têm muitíssima auto-estima – constantemente insuflada por um mentor –, uma corte de bajuladores e um séquito.
As pessoas grandes têm auto-estima bastante e uma meia-dúzia de amigos. Verdadeiros. É muito? É pouco? Não sabem, não é importante.
As pessoas pequenas bradam aos céus feitos e façanhas. E recolhem louvores e fama e reconhecimento. Às mãos cheias.
As pessoas grandes nunca bradam, nunca gritam, nunca apregoam venturas… Mas ajoelham-se, olham por breves momentos os céus e choram sobre o relvado. (Pergunto-me como é possível não ver o mundo tudo o que elas são… o que eu vejo…)
As pessoas pequenas, porque têm um ego do tamanho do universo, olham com desdém para o vulgo que as endeusou e pôs num pedestal. E, paradoxalmente, continuam a receber encómios, apoio e felicitações.
As pessoas grandes dedicam parte do seu tempo, energia, recursos e trabalho aos outros. E, recebem efectivamente algum agradecimento e umas quantas manifestações de gratidão. Reconhecimento? Escasso. Apercebem-se das evidências, mas sorriem. E, sorrindo, vergam-se ante a soberana voz do povo, o mundo, a humanidade… e prosseguem no seu caminho com o seu trabalho. Como se nada fosse.
As pessoas pequenas passam os dias presas à insegurança e à incerteza e por isso remoem no seu íntimo, cheio de nada, as estratégias para atingir as pessoas grandes e derrotá-las todos os dias um bocadinho mais e sempre assim até ao definitivamente.
As pessoas grandes são livres, seguras e têm esperança. No futuro. No mérito. No trabalho. E até nos outros!
As pessoas pequenas morrem de medo das pessoas grandes e disfarçam esse pavor com a lembrança constante do gigantismo goliesco que granjearam do vulgo e com brados de vitória, incentivo grupal, plenos de uma confiança bacoca que só convence mesmo o séquito. E o vulgo. Cegos. Desconfio que nem a elas próprias ilude.
As pessoas grandes falam pouco. Porque os actos, o trabalho, o desempenho in loco demonstram mais do que quaisquer palavras. São a melhor resposta.
As pessoas pequenas não dão. Nunca dão. Nada. Mas exigem, de braço estendido e mão autoritária, receber, a toda a hora. Tudo. E são bem-sucedidas nessa exigência infantil e egoísta. Pela perseverança, pelo cansaço que a insistência provoca, e até pela perene bonomia das pessoas grandes.
As pessoas grandes só dão. Isso é-lhes tão natural quanto respirar. Nunca recebem, não é isso que as move também. A dádiva é gratuita, generosa. Daí, a mão em concha, a mão que contém para dar … para o outro… a mão voltada para fora… para o outro… a mão que dá … a mão que só dá…
As pessoas pequenas têm uma linguagem corporal significativa: Corpo hirto, tenso, paralisado, numa tentativa (frustrada e profundamente frustrante – parece-me –) de decalcar a força que extravasa das pessoas grandes, e motivada grandemente pelo desejo de competir com elas até nesse inatismo.
As pessoas grandes, TODAS as pessoas grandes, me lembram as crianças. Na candura que sempre as envolve, na descontracção do corpo, na inocência dos gestos, na pureza da alegria... Na rapidez com que apagam da memória rumores, traições, ofensas, difamações. Na facilidade, com certeza aparente, com que põem o profissionalismo à frente das emoções. Na extraordinária capacidade de se humilharem ao máximo e darem elas próprias… a mão, a bola... No olhar franco, frontal, desarmante. No sorriso.
As pessoas pequenas não sorriem. Nunca. Acham que isso é sinal de fraqueza. Porque as pessoas grandes são constantes no sorrir. Elas já viram. As pessoas pequenas não sorriem e então fecham o rosto, a alma, o íntimo. Vedam ao outro essa descoberta. Adoptam o semblante fechado como armadura e carapaça e refugiam-se por detrás dele. Sempre. Sempre? Na hora da verdade. Nos momentos em que têm de inevitavelmente encarar as pessoas grandes. Encarar, literalmente, não as encaram. Não conseguem: não têm cara para isso!
Afinal, momentos há em que as pessoas pequenas têm a perfeita noção e a consciência da sua pequenez. Porque, diante a grandeza, quase reflexivamente, cerram os dentes, fecham o rosto e fixam o chão… encaracolam-se na sua insignificância.
* Para duas pessoas grandes cujas lições de vida me esforço por reter sempre: o B. e a minha mãe.
4 comentários:
lolol!MT lindo...so n percebi onde é k eu estou..??lol!Bjao gande.nininha
Tu? ... a minha piquininha ... que achas??? GRANDE, ENORME!!! Piquininha apenas aqui pra mana "cota". ;)
Ah...eu sou uma dexas pexoas..ja percebi..n vi foi o meu nome no fim..como escrevesta da mamy..lol!pois..pois..lolol!BEm bigada tu tba es mtmtmt gande...e tas num lugar bem gande no meu coraçao! (",) BJINHOS.Nininha
Vim através do blog do Apre pois o teu convite era bastante apelativo!
Adorei o teu texto, tens todo o direito de te orgulhar dele e identifico-me em muitos pontos que referes! Auto-intitulo-me, segundo o teu texto, de homem grande, e com a consciência que, lá em casa, tenho um grande homem e uma grande mulher (os meus pais)
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