sábado, março 04, 2006

HOME – WHERE WARMTH OF HEART IS.

São três da tarde e neste preciso momento estou sentada na relva, sob a copa de uma árvore cujo nome desconheço, a meio do campus. É o último dia de um Janeiro absolutamente primaveril (à semelhança do que foi Novembro e Dezembro) e o primeiro de Verão em Houston este ano. Isto para espanto de todos aqueles (quase todos) que só aguardavam para daqui a um ou dois meses a chegada deste calor. Há uma brisa suave que me refresca a cara e os braços enquanto escrevo.
Adoro dias de Sol. E de brisa. Luz.
Ao longo do campus vários alunos, sozinhos ou em pequenos grupos, estão espalhados também a aproveitar o muito calor e a apanhar Sol. Como eu.
Não que o Inverno tenha sido rigoroso. Em boa verdade aqui não há Inverno. Até é costume dizer-se que as quatro estações não existem no Texas onde o Verão se estende por todo o ano. A fazer-se uma, a divisão mais adequada seria portanto uma escalar/gradual em termos do calor que se faz sentir todo o ano. Algo do género: Algum Calor (Out, Nov, Dez), Calor (Jan, Fev, Mar), Muito Calor (Abr, Maio, Jun), Calor Insuportável (Jul, Ago, Set). Ainda assim, este ano já tivemos alguns dias com temperaturas negativas (apesar dos trinta graus do fim-de-semana correspondente ao Natal!), sendo que as previsões meteorológicas indicam mesmo que até Março/Abril é bem possível a ocorrência, ocasional mas algo acentuada, de mais alguns destes gélidos, e totalmente inhabituais, dias de Inverno europeu. Por isso é que esta chegada repentina do calor estival é tão importante, tão digna de fruição.
O meu gabinete emprestado é fantástico: claro, funcional, cómodo, sossegado…mas não tem uma única janela! Nem podia. Ocupa a área central do Departamento. O meu gabinete emprestado é fantástico: tem aquecimento central (útil e utilizado apenas dez dias por ano) e ar condicionado (útil e utilizado apenas noventa dias por ano, quando o calor é insuportável) O meu gabinete emprestado é fantástico: tem quatro pessoas lá dentro a trabalhar cada uma em média onze horas, inteirinhas, por dia e níveis baixíssimos de calor humano. (!???!)
Como recém-chegada envido todos os esforços possíveis e imaginários para manter o (pouco) calor humano existente e tento, as mais das vezes em vão, descortinar uma maneira de o conservar. Por isso, fechei a porta de mansinho, quase carinhosamente, não fosse a térmica relíquia escorrer por alguma frincha.
Ainda bem que vim. Delicio-me com este pequeno grande prazer que é estar agora, aqui, a apanhar sol.
Sorvo estes últimos instantes dourados.
Estou nostálgica. Não me apetece trabalhar. Quero apenas sentir o sol e a brisa a baterem-me na cara e nos braços à vez. Quero apenas o calor. Quero a luz desta tarde. Quero a Foz e os meus amigos. Praia. Matosinhos. Gelados. Areia nos livros, nos pés, nos cabelos. Azul. Aqui. Neste preciso momento. Sob esta árvore.

2 comentários:

K. disse...

Gostei bastante de ler o que aqui deixaste. Já vi que chegaste há pouco tempo, aos US e à blogosfera. Espero que pelo menos nesta última fiques muito tempo. E olha, está um tempo tempestuoso aqui pelo Porto!

Joana disse...

Mudei de gabinete. Ja tenho janela. Ja tenho ar condicionado permanente. E calor, muito calor humano. Chris and Dave: THANKS!!!