terça-feira, março 21, 2006

Para ler neste Dia Mundial da Poesia...

Realidade
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Tece a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo.
Não sei se te encontrei... se te perdi...

FLORBELA ESPANCA
Sessenta Sonetos de Amor

A Primeira Palavra
Acompanhando a recente curvatura da terra
o primeiro olhar descreveu a sua órbita
sobre as oliveiras. Só mais tarde
a pomba roubaria o ramo
e iria de árvore em árvore propagar a primavera
foi então que os olhos se cruzaram
e estava dita a primeira palavra
à superfície do tempo

RUY BELO
Todos os Poemas

Busca
Durante anos os procurei,
um amor, um lugar,
um sonho de casas eternas,
um cais de outrora quando se acendiam as
lâmpadas,
durante anos te procurei,
caminhante das estrelas solitárias, das
estrelas sem nome,
brilhando sobre as ilhas, sabe-se lá onde,
em que oceanos que levaste contigo,
no grande eclipse desta vida

JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
Biografia

Meio-dia
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo,
Parece bater palmas.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN
Mar Poesia

Do clima e amor breve
Sobre a cabeça o vento já dispersa
pólen semente não aloira a testa
a cada ciclo outro bronze se inventa
nunca maio a colheita recompensa
investe sobre a lua o novo signo
estrela cadente é a força do trigo
em maio já o cabelo despenteia
o vento sobre a relva semeado
improviso possível membro atento
ao solo tenro ao verde à humidade

TERESA BALTÉ
Poesia Quase Toda

Karingana ua Karingna
Este jeito
de contar as nossas coisas
à maneira simples das profecias
- Karingana ua Karingana
é que faz o poeta sentir-se gente.

E nem
de outra forma se inventa
o que é prioridade dos poetas
nem em plena vida se transforma
a visão do que parece impossível
em sonho do que vai ser
- Karingana

JOSÉ CRAVEIRINHA
Obra I

1 comentário:

K. disse...

És um amor. Beijo.