O Amor tem desígnios estranhos. Há vinte e dois anos atrás o Paulo e a Sandra, sobrinhos dos noivos, eram o menino e a menina das alianças. Há dez anos atrás o Paulo e a Sandra eram dois adolescentes a descobrirem o Amor numa festa de aniversário, na casa daqueles noivos de há vinte e dois anos. Há vinte horas atrás o Paulo e a Sandra eram o Paulo e a Sandra adultos a comprometerem-se para a vida sob a ternura, imensa, daqueles noivos de há 22 anos. (E o meu olhar, e outros olhares, muitos.) O Amor tem, ocultos para os presentes, desígnios estranhos.
Não sei porque escrevo “o Paulo e a Sandra”. Normalmente digo “a Sandra e o Paulo”. E toda a gente diz igual – é quase fórmula... No entanto, foi o Paulo que conheci primeiro, há cinco anos atrás, no meu primeiro ano de aulas, a dar, na Faculdade – a Sandra só foi minha aluna no ano seguinte. Não sei também por que sou como sou, e muito menos como sou o que sou. (Mas acho que é porque tenho a mania.) Tenho esta mania nos olhos e no senso, que ainda não percebi se é bom, de olhar o que as pessoas não olham, o potencial de crescimento/desenvolvimento, de ver o que as pessoas (normalmente) não vêem, os objectivos pessoais, a determinação em querer ser mais, o trabalho, de valorizar coisas que. Foram, cada um à sua maneira, embora agora que penso nisso de uma maneira muito parecida, dois dos meus melhores alunos da Faculdade. E foram-no com excelência, com mérito, com provas dadas.
Nunca perdemos o contacto. E nada à força de o querermos manter. Braga é uma cidade muito pequena para quem se quer bem. Vamo-nos encontrando pela cidade – a Sandra nas lojas onde eu também costumo ir, o Paulo pela Biblioteca por causa de umas cópias para a Sandra, por causa de umas pesquisas para as aulas, durante a agitação do ano lectivo, ou então para simplesmente ler o jornal em tardes de Verão mais desafogadas. Acompanhamos o nosso percurso de forma natural. O encanto todo da nossa amizade reside aí, parece-me.
Às vezes ninguém me entende. Ninguém me entende quando digo que acredito em Deus na vida, no Amor em todo o lado, na minha atracção pelo abismo da perfeição..., por exemplo. Porque a perfeição não existe neste mundo, sabes? Porque andamos todos a correr e a pressa, sabes como é..., inimiga da perfeição. Porque há na perfeição uma centelha de eternidade que assusta, bom, bom é ser imperfeito, acolher as nossas imperfeições, todas as nossas imperfeições, de forma a. Penso agora que não me entendem porque provavelmente não me exprimo bem.
Gosto do potencial para tornar perfeito um momento que há sempre dentro de cada homem.
O Amor tem desígnios estranhos. Acabo de chegar de um dia, a pensar no dia como se fosse um manto; acabo de chegar de um dia, uma série de momentos, a pensar nos momentos como se fossem fios; acabo de chegar de um dia que começou da maneira mais natural e imprevisível, a pensar na maneira em como são tecidos os fios de um manto num tear; acabo de chegar de um dia que começou escondido atrás das coincidências há vinte e dois anos atrás, um dia como um manto, urdido pelo tempo e agora: perfeito.
A perfeição, o potencial para a beleza que ela sempre encerra, sempre foi vivo e fecundo naqueles dois. Vou dormir.
13 comentários:
hmmm, que bom ler estas palavras :)
esse penúltimo parágrafo... penso tanto nisso, nas teias, nos fios da vida, já fui tão "apanhada" por eles :)
Acho que é o acreditares na perfeição que te torna alguém maior, que faz com que o teu coração (e a tua razão) cresça mais e mais cada dia.
Um beijinho*
Ana,
Eu também, eu também... ;)
Jinhos.
P.S. Que bom saber que me visitas! :D
Frida,
Só tu. Só tu para dizeres assim. Só tu para me pores a pensar que realmente. Só tu, miúda perfeita! :P
Jinhos.
eu ando doente. só me apetece concordar contigo e suspirar. há dias em que acredito mesmo nisso, porra. e que se lixe - depois de um exemplo desses ter vivido cá em casa e continuar (à sua maneira) a respirar felicidade por todos os poros até hoje - já não tenho vergonha de o dizer também. uma pessoa contamina-se devagarinho com estas coisas que eles espalham por aí e depois olha: suspira. e sorri muito muito.
:)
beijinho*
Vanessa,
Doente? (Metaforicamente, espero...)
Diz que os sorrisos abafam os suspiros, o teu então!... sorriso mai lindo, desconfio que abafa até essa doença! :D
Jinhos.
sim, metaforicamente! :p
Também na perfeição da imperfeição (não há ninguém perfeito) pode haver harmonia, penso numa joia linda, fio e dois brincos, que uma pessoa querida usava...
Bj.
PS - Segue mail: help erecteu.
Erecteu,
Claro! A imperfeição é inerente à nossa humanidade... :D
Quanto a jóias, oh pá são o calcanhar de Aquiles da minha carteira, nem desenvolvo...
Jinhos.
[claro q te visito, sempre que posso... silenciosa, mas visito :) eheh]
Ana,
Oh, tão linda!!! Obrigada.
Jinhos.
Afinal, contrariamente ao que anunciavam num título de livro, há coincidências... ou antes há histórias que coincidem, na perfeição!
Ouriço,
Livro? :P Desde quando é que a MRP escreve livros? :D Eheheheheeh!
As coincidências andam aí... haja olhos (e tempo) para darmos por elas...
Jinhos.
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