sexta-feira, julho 10, 2009

You oughta know



Como é que eu nunca me lembro na hora, como é que me esqueço tão facilmente, como é que só dias, e dias e dias e mais dias depois, tanto dia, meu Deus!..., é que a moeda cai, a lâmpada acende, eu vejo a luz e sou toda plim! dentro da cabeça, como é que, é que não percebo. Como é que?, só eu! Defeito de fabrico. Definitivamente. Não sinapso bem, caramba! Defeito. Feitio. Defeito. Definitivamente.

No outro dia, no cabeleireiro, a senhora a acabar de me fazer o cabelo, a senhora contente com a obra feita, a senhora a dizer, é tão nova!, mas, olhe, agora é que parece novinha!..., novinha,?!, eu a sorrir, eu a responder olhe que não, não sou, não se é aos vinte e oito, sabe?, ela a parar tudo, toda a estupefacção do mundo a olhar para mim no espelho, vinte e oito?, como é que?, olhe, nem sei que lhe dizer, dava-lhe vinte, no máximo vinte e três...

Vinte e três. Aos vinte e três dava eu aulas na Faculdade. Aos vinte e três morava em Braga e (des)contava no calendário os dias que faltavam para o fim-de-semana no Porto. Às vezes era fim-de-semana à quarta, às vezes – com alguma sorte – à quarta e à quinta. Aos vinte e três anos tinha um coração do meu tamanho: sentia-o vivo, nas pernas, nos pulsos, no pescoço, na cabeça, nos olhos ..., sentia-o meu, e – explicar como?... – todo do Tiago. Aos vinte e três anos já me achava velha. Os meus alunos da Faculdade a serem professores (estagiários) dos meus alunos da Escola; os meus alunos mais velhos da Escola a cruzarem-se comigo, caloiros, nos corredores da Faculdade. Aos vinte e três anos olhava a minha mãe do colo e não lhe via idade. Aos vinte e três era segura e ágil. Cega. Aos vinte e três anos achava que era cedo, que tinha tempo, que haveria sempre tempo, para quase tudo.

Pensava nisto esta manhã no comboio, quando a pessoa que se costuma sentar, e se sentou, à minha frente, falando com um amigo, colega, conhecido, não cheguei a perceber bem, das escolas em que andou, que desconheço em absoluto, mas foram, curiosamente, as mesmas, embora com um lapso temporal..., coisa que só se definiu e esclareceu pela idade de ambos, ah... é que eu tenho vinte e três... – eu a não conseguir evitar o meu sorriso velho – pois... acabei o ano passado... – eu a ajeitar-me na cadeira em busca de conforto para as costas – o ano passado é que foi bom!... – eu a pensar, a ver, o menino todo acne em vez da barba, cerradíssima, de agora; eu a pensar, a ver, o menino de ténis, t-shirt e calções, às voltas com a sua viagem de finalistas e os exames nacionais e a praia e as miúdas, quando eu; eu a pensar, a ver, o menino, conduzir só às escondidas, o menino, muito novo para o serviço militar, o menino, votar ainda não, o menino, adolescente, um coleguinha da minha irmã mais nova, quando eu tinha vinte e três.

You oughta know, Jo. You don’t smile like that, oh so sincerely, you don’t talk like that, oh so calmly, you don’t behave like that, assured, oh so assured!, going on thirty.

I oughta know. E aposto que a minha idade se transparece, defeito-feitio-defeito, de fabrico, e é uma coisa só minha.

9 comentários:

V. disse...

agora vou calar-te, queres ver?

«Eu, uma vez, aos 23 anos, morri. Quando chegamos aos 2 e ao 3 a vida acaba. Se ainda por cá ficamos (e a maioria fica) é sorte. É muita sorte. Creio que vive melhor (chamam-lhe a felicidade) quem se apercebe disso, dessa benção.

Para outros é uma maldição. Mas, a maldição de viver, é só um terrível cliché, não é?»

(Em Busca da Límpida Medida)

eu, uma vez, aos 23 anos, - e depois de ler isso - comecei a viver. outra vez.

:)

mais outro beijo*

Joana disse...

Vanessa,

De ficar caladinha, de facto.

(A pensar nisso do 2 e do 3, que eu, uma vez, aos 25, morri...
... e o que ficou por cá é pouco, menos que desejaria, vá... Não é sempre assim? :))))))))))))))))))


Jinhos.

Joana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Rita disse...

Ainda não cheguei aos 23, nem aos 20 sequer. Mas dizem que passa muito rápidoo! E eu acho que não quero isso de viver a correr :) Pelo contrário quero sentir uma maturidade que não é a minha, quero ser 'grande' e ter consciência disso. Mas morrer nunca; nunca ninguém morre enquanto alguém se lembrar dessa pessoa, e eu duvido muuito que alguém se tenha esquecido de ti aos 23! (duvido que algum dia, alguém, se venha a esquecer de ti) :)

Um beijinho*

Anónimo disse...

Joaninha : fiz um pequeno comentário ao seu penteado liso e parece-me que o não aceitou. Eu só queria dizer-lhe que,contrariamente ao que li dos seus amigos, esse penteado a torna mais velha, embora fique "lindinha" na mesma,dizia eu.
Agora,em matéria de 23 ou 28 anos,para mim,como pode calcular,"são coisas que acontecem" e são sempre boas depois de nos terem "acontecido"...
Acredita? Bjs.

Joana disse...

Querida Maria de Lourdes,

Tem razão: fico mais velha.
(A minha mãe diz o mesmo.)
Tem razão: perdi o comentário. :(

Na realidade, tendo a apenas publicar os comentários anónimos cujo autor - normalmente a minha amiga ou as minhas irmãs - cujo autor, dizia, consigo descortinar pela escrita, i.e. factores estilísticos. Aquele seu comentário, possivelmente por ser tão pequenino, passou-me ao lado...

As minhas desculpas, desde já.

Jinhos.

V. disse...

lembrei-me disto:

http://www.youtube.com/watch?v=MJTvqVazNGs

:)

beijinho*

Joana disse...

Vanessa,

Tu és o *máximo*!!!
:D





Jinhos.

Joana disse...

Frida,

Tu és 'grande'.

E és de uma maneira tão preciosa, tão rara, tão admirável como poucas pessoas que conheço.

(A idade não tem nada a ver, mas quando penso na tua... aiiiiiii! tu não tens a tua idade, miúda!:D)

Jinhos.