Alguém diz
"Aqui antigamente houve roseiras" -
Então as horas
Afastam-se estrangeiras
Como se o tempo fosse feito de demoras.
"Aqui antigamente houve roseiras" -
Então as horas
Afastam-se estrangeiras
Como se o tempo fosse feito de demoras.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Escrevo com os dedos a cheirar a chocolate. Escrevo com dedos que costumam ser ágeis, mas que hoje, agora, se colam a letras, teclas, que cheiram a chocolate.
Quando este texto terminar em mim, cheirará a chocolate? E amanhã, ainda? E ontem, desconfiar-se-ia que hoje, aqui, chocolate?
O tempo é uma coisa incrível. Não há tempo, convenço-me a cada momento. Não há tempo. Não há passado, não há presente, não há futuro.
Não há passado. De tanto o passado nos bater à porta. E quando o passado bate à porta, tudo pára. Pára a vida, paro a vida, pára o mundo, paro o mundo, paro eu, tudo. Paro. A olhar o passado repousado nas coisas. Paro. Para definir 'regresso'. Paro. A querer, a tentar, a fingir, a não tentar, a, enfim, perceber.
Não há presente. Todo o presente existe na sombra. Do que foi ou do que há-de ser. Por isso, é fugaz, o presente. Por isso, se recolhe em noite escura, se aconchega, oculto, se anula, se desfaz. Tudo o que existe na sombra, qualquer sombra, se transparece, à entrada. E tudo o que se transparece abdica de existir: cede a existência ao mais próximo, mais forte. Exactamente como o presente. O presente abdica de existir para o passado, quando cede a existência ao futuro.
E no entanto. Não há futuro. O futuro que nos espera, o que existe como imperativo, uma série de imperativos, serás, terás, estarás, só o é, só existe, até ao momento preciso em que dele nos aproximamos e se nos escoa em presente e se nos escapa para longe em passado.
E desaparece e nos deixa a braços com a nossa capacidade de abraçar. Cada momento na sua demora. Na sua completude, mais ou menos perfeita.
Vou lavar as mãos para regressar ao trabalho.
Quando este texto terminar em mim, cheirará a chocolate? E amanhã, ainda? E ontem, desconfiar-se-ia que hoje, aqui, chocolate?
O tempo é uma coisa incrível. Não há tempo, convenço-me a cada momento. Não há tempo. Não há passado, não há presente, não há futuro.
Não há passado. De tanto o passado nos bater à porta. E quando o passado bate à porta, tudo pára. Pára a vida, paro a vida, pára o mundo, paro o mundo, paro eu, tudo. Paro. A olhar o passado repousado nas coisas. Paro. Para definir 'regresso'. Paro. A querer, a tentar, a fingir, a não tentar, a, enfim, perceber.
Não há presente. Todo o presente existe na sombra. Do que foi ou do que há-de ser. Por isso, é fugaz, o presente. Por isso, se recolhe em noite escura, se aconchega, oculto, se anula, se desfaz. Tudo o que existe na sombra, qualquer sombra, se transparece, à entrada. E tudo o que se transparece abdica de existir: cede a existência ao mais próximo, mais forte. Exactamente como o presente. O presente abdica de existir para o passado, quando cede a existência ao futuro.
E no entanto. Não há futuro. O futuro que nos espera, o que existe como imperativo, uma série de imperativos, serás, terás, estarás, só o é, só existe, até ao momento preciso em que dele nos aproximamos e se nos escoa em presente e se nos escapa para longe em passado.
E desaparece e nos deixa a braços com a nossa capacidade de abraçar. Cada momento na sua demora. Na sua completude, mais ou menos perfeita.
Vou lavar as mãos para regressar ao trabalho.
11 comentários:
...e porque não trabalhar com as mãos pintadas com cheirinho a chocolate?
Tens razão... o tempo é apenas mais uma dimensão. De momento este é ainda um conceito estranho aos nossos cérebros mas no futuro vai ser possivel movimentarmo-nos no tempo tal como nos movimentamos nas outras três dimensoes que conhecemos.
Beijicos
Rosário,
;)
Jinhos.
amanhã vais cheirar a chocolate, vais sim senhora. :)))
até logo*
Eu pensava que o tempo exitia; mas quando vivo e leio uma coisa destas fico sem dúvida alguma que ele não existe. :)
Um beijinho*
Ah, e acho que o cheirinho a chocolate nas mãos não faz mal nenhum, pelo que se vê, muito pelo contrário :)*
não laves, não laves. deixa que esse cheirinho bom continue a passar pelas tuas teclas e que nos faça pensar que todo o tempo é/será feito de chocolate:)
Vanessa,
Ah pois vou. Ultimamente tornei-me adita. Isto é muito mau... :(
Frida,
Tu és tãaao querida! Claro que não existe, já foste para Barcelona e entretanto já regressaste e eu *quase* não dei por nada. (Estiveste sempre AQUI!) :***
Ah, hoje a Vanessa, a Ana Salomé e eu vamos à Centésima... ihihih!
Frida e Comboio,
Que todo o tempo seja feito de chocolate por cá.
Não faz mal, pelo contrário, dá saúde e faz crescer o coração, espero. ;)
Jinhos a todos.
O tempo resume-se às formas verbais, perfeitas ou imperfeitas. Não há tempo, há vida.
Escrevo-te com os dedos a cheirar a pastilhas de melancia. Gostas?
Ouriço,
Há vida (vivida), sim. :)))
Melancia? :P Trident Senses?! Muuuuuuuuuito, gosto muito! :D
Jinhos.
O tempo foi inventado por cientistas, ou por pessoas que não tem mais nada que fazer. O tempo serve para impôr limites ao ser humano, para o ser humano se transformar em mais um relogio com rotinhas. O ser humano tende a ser sonhador e inventar escadas para saltar por cima do tempo e de todas as outras barreiras impostas ao ser-humano. :)
Chocolate, so nice. :)
Beijinho*
Pedro,
Pois é. As inutilidades que inventamos por vezes...
E sim: chocolate! :D
Jinhos.
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