Começa na cabeça, não termina nos pés, nem na ponta dos cabelos ou dos dedos, dos pés ou das mãos, nem sequer na ponta do nariz. Não. O corpo começa na cabeça e termina onde o olhar encontra a luz.
O meu, agora, numa série de árvores vinte metros à minha frente. Uma parede de copas frondosas para lá, além, muito além, dos seis metros quadrados deste gabinete, uma parede de um verde espesso e escuro que cabe quase toda no portal quase janela por onde as olho.
A luz era romba esta manhã quando cheguei, chovia. O dia parecia esquecido de amanhecer e aquelas árvores, o começo de um sonho mau. Ainda pensei em acender as luzes, mas como não tenho medo do escuro e, antes de mais, era preciso esquadrinhar o dia pela secretária nos entretantos do computador, esqueci-me, esqueci-me das luzes. O dia despertou ao ritmo do computador, sem imperativos, com tempo. E foi assim que dei por mim a terminar ali, bem ali, onde começam, magníficas, aquelas árvores que brilham ao sol de agora.
No entanto, gosto mais de quando o meu corpo acaba no cotovelo direito. Nos dias em que a maior luz se faz pequenina e entra-me, de mansinho, pela janela, toda parede do meu lado direito, na Biblioteca, até à ponta do cotovelo onde o meu olhar pousa. Mesmo quando chove. (A chuva não tem nada a ver.)
É como se. Quanto mais pequeno o espaço, mais me espraiasse. Daqui agora até a mais pequena janela ali em frente; de lá agora até ao bosque, voando, planando, até aos ramos mais altos, até às árvores. É como se. Quanto maior o espaço, mais me aconchegasse. À minha secretária, ao meu cantinho; eu toda debruçada sobre o computador, toda pendida sobre a direita, toda olhar, todo voo na luz lá fora, pelo cotovelo.
Pode existir dentro do silêncio, o corpo, e viver assim, fora do tempo, eterno.
Pode crescer e ser coração, músculo de mãos e abraços, pés e caminhos, o corpo, e assim, fora do espaço, apagar distâncias e outros fogos.
Pode ser margem buscando a luz no trilho da sede, o corpo, e assim, fazer-se e refazer-se, constantemente, na vida.
Às vezes é maior. É quando é todo. É quando é mundo, casa, sonho, voz, alimento, coração, presença, chão, flor, céu, olhar. É quando se cumpre. Onde o corpo se cumpre é onde termina.
O corpo só termina onde o olhar encontra a luz.
O meu, agora, numa série de árvores vinte metros à minha frente. Uma parede de copas frondosas para lá, além, muito além, dos seis metros quadrados deste gabinete, uma parede de um verde espesso e escuro que cabe quase toda no portal quase janela por onde as olho.
A luz era romba esta manhã quando cheguei, chovia. O dia parecia esquecido de amanhecer e aquelas árvores, o começo de um sonho mau. Ainda pensei em acender as luzes, mas como não tenho medo do escuro e, antes de mais, era preciso esquadrinhar o dia pela secretária nos entretantos do computador, esqueci-me, esqueci-me das luzes. O dia despertou ao ritmo do computador, sem imperativos, com tempo. E foi assim que dei por mim a terminar ali, bem ali, onde começam, magníficas, aquelas árvores que brilham ao sol de agora.
No entanto, gosto mais de quando o meu corpo acaba no cotovelo direito. Nos dias em que a maior luz se faz pequenina e entra-me, de mansinho, pela janela, toda parede do meu lado direito, na Biblioteca, até à ponta do cotovelo onde o meu olhar pousa. Mesmo quando chove. (A chuva não tem nada a ver.)
É como se. Quanto mais pequeno o espaço, mais me espraiasse. Daqui agora até a mais pequena janela ali em frente; de lá agora até ao bosque, voando, planando, até aos ramos mais altos, até às árvores. É como se. Quanto maior o espaço, mais me aconchegasse. À minha secretária, ao meu cantinho; eu toda debruçada sobre o computador, toda pendida sobre a direita, toda olhar, todo voo na luz lá fora, pelo cotovelo.
Pode existir dentro do silêncio, o corpo, e viver assim, fora do tempo, eterno.
Pode crescer e ser coração, músculo de mãos e abraços, pés e caminhos, o corpo, e assim, fora do espaço, apagar distâncias e outros fogos.
Pode ser margem buscando a luz no trilho da sede, o corpo, e assim, fazer-se e refazer-se, constantemente, na vida.
Às vezes é maior. É quando é todo. É quando é mundo, casa, sonho, voz, alimento, coração, presença, chão, flor, céu, olhar. É quando se cumpre. Onde o corpo se cumpre é onde termina.
O corpo só termina onde o olhar encontra a luz.
10 comentários:
o corpo termina onde o sonho começa.
(é bom voltar do outro lado do mundo e rever tão lindas linhas em português bem escrito). Olá
Comboio,
Olá! Leste-me tão bem...
De regresso do outro lado do mundo, que bom!...
Jinhos.
que lindo:
«Pode existir dentro do silêncio, o corpo, e viver assim, fora do tempo, eterno.
Pode crescer e ser coração, músculo de mãos e abraços, pés e caminhos, o corpo, e assim, fora do espaço, apagar distâncias e outros fogos.
Pode ser margem buscando a luz no trilho da sede, o corpo, e assim, fazer-se e refazer-se, constantemente, na vida.
Às vezes é maior. É quando é todo. É quando é mundo, casa, sonho, voz, alimento, coração, presença, chão, flor, céu, olhar. É quando se cumpre. Onde o corpo se cumpre é onde termina.
O corpo só termina onde o olhar encontra a luz.»
(apetece roubar. suspiro.)
beijinho grande*
(aliás, é uma certeza: vou roubar. hope you don't mind. :D)
Vanessa,
:)))))))))))))))))))))))))))))
Course I don't mind, it's U, *tu* podes!
;)
Jinhos, linda.
simplesmente sublime, joana*
beijinhos, linda*
Ana Salomé,
Oh... eu assim fico. Como nem sei.
:D
Jinhos, linda.
Gostei tanto deste texto!Tu sabes... Um bjinho grande, enorme, do tamanho do teu coração.
Cemremos,
Sei. Outro beijinho, ou muitos, de todo o coração - para não falarmos em tamanhos, it *really* doesn´t matter.
Gostei tanto deste texto. Lembro-me que uma vez escrevi um conto em que dizia que o mundo começa e acaba nos olhos. Embora num contexto muito diferente, esse sentido direccionado para o sonho fez-me lembrar muito o meu texto.
Este é absolutamente fantástico. Gostei do blog.
Diana,
Obrigada. :))))))))))))))))
Já estás aqui do lado direito, a um clique de distância: acompanhar-te-ei.
Jinhos.
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