Os daqui são altos, fortes, loiros de olhos azuis ou ruivos de olhos cinzentos, morenos são poucos mas também os há, andam todos, invariavelmente, de t-shirt, calções e sapatilhas, obesos, gordos ou atléticos (magros nunca vi) – praticam todos no mínimo uma actividade desportiva, do ténis ao frizzbie há para todos os gostos –, fazem sempre a barba, não sei se se penteiam porque os cabelos estão sempre muito, muito curtos, tomam banho algumas vezes, quando calha, segundo os próprios. São descomplexados, simples, directos, conversadores, livres de formalidades, hierarquias e outras complicações do género. São apaixonados: oferecem flores, tocam piano, ajoelham-se em locais públicos, põem o megafone no coração a meio da rua, demasiado depressa às vezes, por convenção tácita ou não, não sei (magoam-se ou são magoados muitas vezes por isso, até porque americana que se preze faz da cara-a-metade tapete para os pés!). Têm vários sistemas instituídos, entre os quais avulta o da não exclusividade, compreensivelmente tornado aviso à navegação, em suporte de papel, no livrinho das boas-vindas, chapter “American Culture” que todo o international student recebe quando chega cá “May you notice that americans date on a regular basis three or more girls at a time, this is not considered schocking as it is cultural and enables them to make the right decision, after what they decide to move in with only one mate…” (!), não falam por acaso do outro sistema, do dos três dates que implica a consumação da relação (que relação???) à terceira saída… mas isso, sweetheart, toda a gente sabe (sabe?), sure!, toda a gente vê séries, Friends, Dharmas, Allies, Desperate Housewives e afins, right?, and please o cinema americano está cheio disso (está?).
Os daí são altos e magros, ou não altos e não magros, loiros ou morenos, mais morenos que loiros, t-shirt e calções e sapatilhas sim, mas só indoors ou no ginásio – que também é indoors, ninguém sai assim, pelo menos onde eu vivo, actividades desportivas poucas, só se for atleta profissional, ou se preocupar com a saúde – e com a aparência – e assim vai ao ginásio, porque além do mais fazem-se uns contactos jeitosos, perdão, agradáveis à vista; sim, porque o desporto nacional é o de bancada, a bola é que é, pois claro, todo o santo fim-de-semana, à segunda também de vez em quando, e às vezes até à quarta – se houver Champions. Se é beto tende a ser perfeccionista porque, entende, o teu swatch não dá com o meu BM, se ainda fosse um Ck ou um Gucci vá, passa a roupa a ferro (ou tem quem passe), faz a barba (com muito cuidado e perícia extrema), até porque tem que fazer sobressair o cabelo comprido, usa perfume (leia-se tem perfumes – muitos e bons). Se não é beto pode fazer a barba também, só não deixa crescer o cabelo, muito. Também há aqueles que banham o cabelo que têm – e o que começam a não ter – em algo do tipo gel, todos os dias, são os que vão ao cinema e à bola pelo simples prazer de causar estrilho. Se é alternativo, quero lá saber se as pessoas estão a olhar, deixa-as olhar, invejosas! …, deixa crescer barba e cabelo, em “rastas” ou não, pode parecer que não toma banho, mas toma, só não se perfuma. Sapatinho de vela, sapatilha, ou sandália (ou chinelo); camisinha, t-shirt de claque desportiva ou túnica árabe, são na generalidade complicados, cheios de salamaleques e problemas em se exprimirem, em conversar simplesmente, porque também se deve ter instituído aí que se há conversa, há interesse e o interesse é um fardo muito pesado que só o alcool e a noite tornam leve, simples. Mas bem, o oposto também existe. E no mesmo ratio, na mesmíssima proporcão. Bons e Maus. Românticos (de serenata, alguns, poema – menos e com sorte, retrato – uma minoria, com sorte euromilionária) ou mais frios, mais ou menos complicados, mais ou menos apaixonados, mais ou menos preocupados em manter aparências (tão português isto!!!), há de tudo. Para todos os gostos. Tal como as mulheres. Exactamente como as mulheres.
E há porque há, aí, aqui, em todo o lado: porque tem de haver, faz parte. É a vida! (Isto também é muito português...)
E não é que os daqui sejam melhores, que não o são, nem por sombras; tão pouco não é que os daí sejam piores – até porque estando longe o pior daí é o melhor do mundo… É pura e simplesmente porque na realidade os aís e os aquis não existem: aqui existem muitos iguais aos daí, tal como aí existem muitos iguais aos daqui.
Não há Aís, nem Aquis. Existem Agoras. E um Sempre. Um.
Que queremos ao nosso ritmo, à nossa medida, segundo a nossa vontade e os nossos sonhos. E por isso passamos o tempo a procurar. Todos procuramos o Sempre. A toda a hora. Há quem o procure no Agora, ou em muitos Agoras que se sucedem – como se a soma de todos os Agoras de uma vida fosse igual a um Sempre. Não é. Há também quem nunca salte para o escuro do Agora por achar que saberá quando chegar o Sempre, que o Sempre está escrito na testa do outro, porque o Sempre não é um agora. É.
Um Agora eternizado trans-temporalmente…
E vinha isto a propósito… da amargura (in)contida no último post da Amarga.
4 comentários:
Olá….double J
Cá estou eu a ver a “ Substante”, de cima a baixo, espreitando por todos os cantinhos, com a intenção de descobrir uma pista que me permita dizer: conheço-te conterrânea.
Não aconteceu. Mas saber que tem raízes ou que já esteve na Madeira, é suficiente para mim.
Os seus escritos têm qualidade, sabe colocar as palavras certas no sítio certo e desenvolve muito bem os vários temas. O post “ Os daqui e os daí ”, está original, muito imaginativo. Foi preciso saber observar para captar esses diferentes pormenores das diferentes culturas. Numa só palavra: Gostei.
Também gostei que tivesse gostado (espero não estar a ser confuso), das fotos que vou captando por aí ao acaso na minha (ou nossa) cidade. Pois seja, passeie por aqui e veja a cidade através dos meus olhos, neste caso das fotos.
Desejo que tenha um bom fim-de-semana
Saudações da ilha da Madeira
Beijinhos
:) Lindo! Adorei ler isto. Na verdade foi uma amarguice incontida. E tb confesso que nao gosto nada de estereotipar. Mas pelo que descreveste, apesar de todas as manias os nossos tugas sao sempre os nossos tugas, no matter what..;)
Rui,
Que comentario bonito. As pessoas das ilhas sentem de uma maneira diferente. Comeco a gostar mais da nossa Madeira gracas a si, acredita? O meu muito obrigada por isso e pelo comentario. Continuarei a ir visita-lo ao seu maravilhoso cantinho.
Amarga,
Detesto esterotipar. Também. E fui o que fiz com este post (que tentei editar mil vezes esta manhã, mas como o Blogger não estava a funcionar, tive que o deixar exactamente assim :( Porém se gostaste, que posso dizer?... Jinhos.
Cemremos,
Outro, grande - para dar com as tuas palavras sempre tão simpáticas. Jinhos.
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