Ossos longos, ossos chatos, ossos curtos, ossos irregulares. O osso é uma estrutura exclusiva dos animais vertebrados - a única que lhe sustenta o corpo e apoia os músculos para o movimento. É osso o que protege cada órgão vital do nosso corpo: o crânio protege o cérebro, as costelas, o coração. SUB-STANTE.
sábado, dezembro 22, 2007
Noite Feliz...
Não devo cá vir antes do fim do ano. Que possam todos viver esta noite com este espírito...
Natal Internacional
Todos os Natais que passei fora, de Paris a Houston, ficaram marcados por esta canção... É de certa forma a canção da distância, muito embora estas crianças consigam pintá-la de um calor... que aproxima.
Deve passar este natal num canal qualquer...
Enquanto passa e não passa, fica-se com a voz angelical no ouvido e com fragmentos de um filme que tem muito que se lhe diga. Ou talvez não.
domingo, dezembro 16, 2007
Estrela do Ocidente
Por teus olhos acesos de inocência |
Corais
sexta-feira, dezembro 14, 2007
O rapaz dos amarílis
Não estava lá quando me cheguei à frente. Veio escassos segundos depois. Não consegui disfarçar. Ganhou-me naquele preciso momento, os meus olhos já não eram meus, a atenção toda nele, toda deles. Atrasei o passo, deixei-o avançar, sempre com eles, tão singelos, deixei, deliberadamente, para os poder observar melhor. Esqueci o frio, tanto calor e tanta gente na estação da Casa da Música, iam murchar. Não obstante, quis ver. Não vê-los estragarem-se, não, quis ver a cara, os olhos, a alma de uma pessoa assim. Bonita.
Porque é bonita, de um bonito que as palavras não conseguem dizer, de um bonito que prende o olhar, de um bonito que é sentir só e sentir diferente, qualquer pessoa que desafie as leis das seis e meia da tarde de uma sexta-feira de Dezembro para entrar no metro com um ramo de amarílis. Vermelhos, não, laranja, não, vermelhos e laranja, que também havia fogo neles. Duas hastes, três flores, seis amarílis ao todo. Sob um verde que desconheço, seis amarílis cor-de-fogo atravessados por uma única rosa branca, em botão. Atravessados por uma única rosa branca. Em botão. Eu, trespassada pela imagem.
As pessoas a entrar e a sair e eu com os amarílis nos olhos. E na cabeça. E, algures, no lado esquerdo. Crescemos a ouvir histórias de príncipes que se encantam por princesas e que, em nome de um amor maior que a vida, oferecem rosas e amarílis, e, crescidos, nunca, por um momento, pensamos que a razão por que os príncipes encantados não existem é porque padecemos de um mal muito grande que é a cegueira de querer ainda fazer isto, sem esquecer aquilo, de por isso não ter tempo para, nem querer assim, que assado é que se está bem.
Este príncipe, como todos os príncipes, era banal. A todos os níveis. Encantadoramente banal. Mais banal que a mais banal das pessoas. Não havendo nele um único símbolo, um único sinal, uma marca, um estilo, nada. Absolutamente nada que o pudesse inserir em qualquer tipo de taxonomia. A-étnico, a-religioso, a-social, a-cultural, a-político, a-económico. Daí, a certeza. Príncipe. De amarílis ígneos e pura rosa junto ao peito, um castelo nos olhos, chamas no coração. Príncipe. Tal como é princesa toda a menina a quem se destina uma prenda assim.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Porque aos 12 de hoje faltam 12 dias...
Religious symbolism of The Twelve Days of Christmas (The 12 Days of Christmas)
1 True Love refers to God
2 Turtle Doves refers to the Old and New Testaments
3 French Hens refers to Faith, Hope and Charity, the Theological Virtues
4 Calling Birds refers to the Four Gospels and/or the Four Evangelists
5 Golden Rings refers to the first Five Books of the Old Testament, the "Pentateuch", which gives the history of man's fall from grace.
6 Geese A-laying refers to the six days of creation
7 Swans A-swimming refers to the seven gifts of the Holy Spirit, the seven sacraments
8 Maids A-milking refers to the eight beatitudes
9 Ladies Dancing refers to the nine Fruits of the Holy Spirit
10 Lords A-leaping refers to the ten commandments
11 Pipers Piping refers to the eleven faithful apostles
12 Drummers Drumming refers to the twelve points of doctrine in the Apostle's Creed
http://www.carols.org.uk/
terça-feira, dezembro 11, 2007
O cigano
Até esta tarde. O Porto acabou de jogar há pouco para a Liga dos Campeões e portanto tudo o que é serviço noticioso de tudo o que é canal não se calou com isso o dia todo. Uns falavam nos quinze mil que iam engarrafar o metro, outros nas tricas do campeonato nacional, outros ainda na mística dos balneários do Porto. Estaquei nesses, não pela notícia, não pelas instalações, nem sequer pelo clube que é o meu, mas pelo espectáculo. Há um canal que anda a apostar muito nisso agora... o espectáculo era o Miguel Guedes dos Blind Zero a ser guiado por ali dentro, balneários do FCP bem entendido, pelo Quaresma. Gosto do Quaresma. E gosto do Miguel Guedes. Mas gosto mais do Quaresma. Sigo-lhe mais de perto o trabalho, não sou rapariga de crónicas em jornais desportivos. Então, trocavam galhardetes os dois, o Guedes com a inteligência e simpatia que o caracterizam, o Quaresma com o pouco à-vontade e laconismo que o caracterizam também, mais ou menos. E os painéis com fotografias dos adeptos que pedem mais uma vitória isto, e o peso da camisola ou do emblema aquilo, e o cantinho de cada um, mais cheio ou mais vazio, dependendo da pessoa em questão. Que o nosso Quaresma tem o cubículo cheio de cremes e perfumes, ...para que as pessoas não pensem que os ciganos são sujos..., nas palavras do próprio. E riram-se ambos da piada e a peça prosseguiu e eu lembrei-me. Porque não encontrei a graça. E tenho a mania que a boca fala do que transborda do coração. Lembrei-me. Lembrei-me daquele dia no metro, em Matosinhos, quando meia dúzia de miúdas estacaram, cara colada ao vidro primeiro, longas gargalhadas depois. Olha, olha, olha, um pica cigano. Não sabia que aceitavam ciganos pra picas, vês? Ali!...
É muito difícil viver com um estigma, qualquer que ele seja: etnia, raça, sexo, religião, deficiência, opção sexual, profissão, regime alimentar... Aqui ou no Kosovo, cigano é sujo, malcheiroso, renegável e renegado, não é preciso muito para senti-lo. O pior é que tenho a certeza que avós ou tios dessas adolescentes foram e/ou são emigrantes em França, por exemplo. E, assim sendo, são os ciganos de Paris. Sei. Já vivi lá, há não muito tempo, quando estudava na Sorbonne, e por muito que queira não consigo apagar de dentro a estupefacção da minha professora de Latim quando viu na minha ficha que era Portuguesa, porque, segundo a própria, algo não estava (?!) certo: morava em Montparnasse,a dois minutos dos Jardins do Luxemburgo, era bonita, e imagine-se: tinha telemóvel! Pas possible! Sei também que, paradoxalmente, estas meninas idolatrarão o Quaresma, mas ouvem os pais chamá-lo de cigano, e chamar é muito diferente de designar, tem conotações, maledicências, preconceitos e medos pendurados em cada uma das letrinhas que compõem a palavra.
Não acompanhei o jogo, mas julgo que lhe correu bem, falaram com ele no fim. O que quer dizer que amanhã virá nos jornais e toda a gente falará no cigano. Não no miúdo que sonha e faz arte com os pés, no Quaresma que tantas vezes joga por toda uma equipa, no Ricardo que é juvenilmente caloroso nas celebrações de golo e que é nosso e que é bom. Não. O cigano é que andará em todas as bocas grandes deste país pequeno. O cigano.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Bilhetinho de Natal - the american way
JJ's last X-Mas surprise, Rice Univeristy, Houston, 10/12/2006
Inusitado para um europeu. Para mim. Regular. To americans. Acreditem.
Um abraço dentro de um envelope...
É o que se pode ler num dos postais que acabo de selar. Acho que todos os postais, todas as cartas, todos os bilhetinhos e todos os livros são assim. Mesmo o que disso não fazem menção. Especialmente os que disso não fazem menção. Tudo o que escrevemos é assim. Toca o outro. Como num abraço. Ou num estalo. Ninguém devia escrever de ânimo leve. Ninguém escreverá, possivelmente.
Numa época em que é fácil e cómodo e barato, perdão, gratuito, mandar um mail ou uma sms (antes do fim desta semana para de e para TMN), e há tão tocantes, nada se comparará à prenda que um postal de Natal pode ser. Porque, como as coisas mais bonitas, levou tempo. Passou por uma escolha de tamanho, cor, textura, da imagem que mais paz dará ao outro. Passou por um crivo, outro, o da escrita, da busca das expressões, das palavras que se quer oferecer e que faz bem ao outro ler, por conhecimento de causa. Palavras que passaram do coração à cabeça, da cabeça aos dedos, dos dedos à caneta, da caneta ao papel. Sem hesitações, sem borrões, sem rabiscos, palavras mais imaculadas que o papel, puras como o supremo bem que se deseja ao outro. Sempre. Mas que se diz mais no Natal.
Passei os meus dois últimos natais nos EUA. Conheci muita gente e aprendi muita coisa nos EUA. Lembro-me disso todos os dias, é inevitável: foi lá que comecei o meu trabalho, foi lá que discuti as minhas ideias e obtive outras tantas a respeito do mesmo. É a modos que automático...
Mas ainda há pouco, quando abria o postal da minha amiga, lembrei-me de algo muito maior: o abraço americano.
Os americanos desconhecem os dois beijinhos: cumprimentam os conhecidos com a mão e reservam para os amigos os abraços. Agora acho bonito, recomendo até, mas no início, horrivelmente constrangedor: ter os braços de pessoas que não considerava íntimas à volta do meu corpo era muito estranho, muito embora o importante mesmo fosse o significado do gesto. Friends we were!
Os americanos são um povo sui generis. Gosto muito de todos com quem tive a sorte de conviver de perto, mas continuo a achar que, na generalidade, como me disse o Manu um dia, vêem demasiada televisão. Para o bem e para o mal. Para o sonho e para a violência. Para o amor e para a morte. Os americanos são a televisão que vêem e pouco mais.
No entanto, quem tem a sorte de ter um amigo americano, amigo mesmo amigo, americano mesmo americano, é incapaz de ficar indiferente ao seu abraço, de não se deliciar com a flor que nos põe no cabelo porque estamos tristes, com o bilhetinho na secretária porque está sol ou é Natal, com o colinho, com a festa-surpresa, com tudo o que um abraço de Natal, de oceano a oceano, nunca conseguirá igualar; mas, nem que seja pela evocação desses abraços passados, tentará...
quarta-feira, dezembro 05, 2007
O Natal da Webboom
E eles sabem que gosto. Em especial de descontos. Até dos descontos de Natal da Webboom. Não gosto é que os ditos me cheguem ao mail através de uma mensagem com o título que enunciarei ipsis verbis: "Um Natal porreiro, pá! - é o que lhe deseja a Webboom..."
Gosto de me rir aos Domingos à noite com os Gato. Reconheço-lhes graça e mérito e inteligência, mas não encontro nada disso na publicidade da Webboom. Pelo contrário, chocou-me. Tal como há dois minutos, quando ouvi na rádio um anúncio de uma nova rede móvel em que um avô, note-se, reagia ao anúncio de casamento da neta com um sonoro "Phooooooonix!"
Não tenho nada contra o trabalho dos publicitários, não tenho nada contra a apropriação de frases feitas, não tenho nada contra a adopção de um registo de pendor mais oralizante, muito pelo contrário: percebo que na generalidade dos casos tudo se conjugue para o estabelecimento de uma empatia quase imediata com o target, afinal é de marketing que se trata, pelo desencadear da emoção, do riso, mais ou menos fácil. O que me preocupa aqui, e me choca, é puxar-se dos galões da assimetria emissor da mensagem/registo para (se) fazer (notar), rir, comprar. Pode ser de mim, mas não conheço qualquer editor que faça votos de festas felizes assim, nem avô nenhum que reaja daquela maneira.
É claro que não se exige a um publicitário que seja linguista, mas eu, se pudesse ser Pai Natal, pedia que pusesses em alguns sapatinhos, perdão, cabeças, pretensamente pensantes, uma coisa que se chama bom-senso.
Não gosto do apelo consumista que se faz sempre por alturas do Natal, mas, boas notícias para mim, com anúncios destes, acho que consigo controlar os meus ímpetos...
terça-feira, dezembro 04, 2007
segunda-feira, dezembro 03, 2007
domingo, dezembro 02, 2007
quinta-feira, novembro 29, 2007
Palavras Sem Remos para a 100Remos
You locked your heart
You wake up with tears and
stars in your eyes
You gave it all to someone that
Cannot love you back
Your days are packed
With wishes and hopes for the
love that you've got
You waste it all to someone that
Cannot love you back
Someone that cannot love
Love, ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more
You secretly made
Castles of sand that you
hide in the shade
But you cannot own the
tides that break them
And you build them all over again
You talk all these words
You make conversations
that cannot be heard
How long until you notice that
No one is answering back
Someone that cannot love
Love, aint this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more
Love, love, ain't this enough
This pushing around
To find little comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more
You know they'll bruise you more
Words they will hurt you more
quarta-feira, novembro 28, 2007
terça-feira, novembro 27, 2007
quinta-feira, novembro 22, 2007
Linda's pumpkin pie
Hoje é Dia de Acção de Graças, Thanksgiving, nos EUA. Há duas semanas que ando a falar nisto. Nunca me lembro do dia. Sei apenas que é uma quinta feira de Novembro e portanto a cada quinta aborreço toda a gente daqui a perguntar pelo Thanksgiving. É hoje. Entro no Facebook e o status da Linda diz-me que ela cozinha a sua deliciosa tarte de abóbora, o ex-libris da quadra festiva. O da Vica convida todos os amigos a mergulharem no perú, no puré e no cranberry sauce. Saudades!!!...
O Thanksgiving é culturalmente, objectivamente e para todo o americano que se preze, a primeira das comemorações mais ou menos familiares que anunciam o Natal. (Cá entre nós, porque entre eles também, bem bem no seio da festa, o Thanksgiving é a "consoada (que começa ao almoço e só termina com a ceia) dos amigos", claro que os pais fazem questão, claro que os filhos acabam por ir, mas na eventualidade de não se poder atravessar o estado, vários estados, o país para uns, um oceano para outros, não há ninguém que passe sozinho este dia! Mesmo aqueles que não têm amigos, que também os há, são sempre energicamente puxados para a casa de alguém. E acabam por surpreender-nos, os sozinhos, muitas vezes... E cozinha-se e fala-se e ri-se e joga-se e não se faz nada e a felicidade senta-se connosco nesse ócio tão americano.
Passei dois Thanksgiving nos E.U.A. e de ambos recordo com carinho, e saudade - admito -, da espontaneidade e da alegria com que se é recebido na típica casa americana. Sempre. Num tempo em que "americano" é tantas vezes sinónimo de "prepotente" (e "odioso" e "tirânico" e tudo o mais...) o que me apetecia mesmo agora era a pumpkin pie da Linda, enquanto olhava, divertida, o Pascal diligente na mui máscula tarefa de lavar a loiça às meninas. O que eu queria mesmo era a conversa de engate do Chris, o contínuo arrotar de saber enciclopédico do Schmitty, o ter que enxotar o Raj, podre de bêbado, do meu colo e apressar-me para a minha maratona de tricot com a Gu-Jing, enquanto a Vica se ri, desbragada, da minha saída estratégica.
O que me apetece e eu quero mesmo, queria muito, era ter o coração de volta, assim, aqui, todo inteiro, meu, muito meu.
quarta-feira, novembro 14, 2007
"Avisem os vossos amigos em Londres, por favor.
terça-feira, novembro 13, 2007
O que é....
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas, nem as lagartas.
Nunca dizem "Despacha-te!".
Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.
As avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.
Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes que nós.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma avó, sobretudo se não tiver televisão."
*Definição de avó redigida por uma menina de 8 anos e publicada no jornal do Cartaxo.
segunda-feira, novembro 12, 2007
Sobre o lado esquerdo
voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando
todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do
meu corpo, esmagar o coração".
domingo, novembro 11, 2007
Coisas que me põem fora de mim
Ninguém nas televisões pensa nas pessoas que não têm casas de fim de semana, nem jactos particulares, nem viagens pagas, nem programas a dois, nem nada. Enchem-nos disso, nadas, impingem-nos grandes e pequenos nadas. Deformam, facilmente, confortavelmente, impunemente, um país que se enterra cada vez mais na ignorância e no sofá.
Sensivelmente a meio da OT2 optei por não desperdiçar mais tempo útil de leitura ou audição musical, em virtude de uma injustiça feita despudoradamente de tão às claras em relação a uma concorrente de Braga - que não conheço, nunca vi sequer. Voltei atrás nessa tão acertada decisão, o Francisco - valente! - fez saber, a quem de direito, da sua desolação, ainda por cima em directo para todo o país - isto nos tempos em que depois das galas, havia um directo para os estúdios, directo durante o qual os concorrentes respondiam a algumas sms mandadas pelo público.
Desde o início disse que não veria a OT3, mas tenho sido mais assídua do que intentara. Há uma conterrânea nossa que é amiga, mesmo mesmo amiga, dos meus irmãos. Não vou discorrer acerca do ênfase dado à imagem, vulgo peso, da menina em detrimento do mérito que inegavelmente possui a melhor aluna do Curso Superior de Canto da melhor Escola de Ensino Superior Artístico do país, nem sequer vou debruçar-me sobre o desempenho, a cada semana desolador, da apresentadora. Não tecerei conclusões acerca de uma cantora-professora que diz que "o mais importante para um cantor não é a voz que tem, mas o que faz com ela" - muito me conta, quer dizer que eu sendo especialista tão só em Semântica histórica, posso ser professora de Linguística (i.e. conjunto da Sintaxe, Semântica, Morfologia, Prosódia e Pragmática) Portuguesa?, só porque é a minha especialidade(?) - não terão feito todos aqueles que já saíram o melhor que puderam com o seu instrumento vocal?
Bem, a razão que me leva a querer atirar todas as televisões do mundo às cabecinhas pensadoras que mandam nas televisões, programações de fim de semana especialmente, os écrans mais pesados direitinhos à tola dos que conceberam a OT é pura e simplesmente a do Regulamento.
Aparentemente, um Regulamento que nunca me foi dado a conhecer, nem podia, não está disponível online na página do programa diz(?) que "em caso de empate é o voto do favorito do público que decide quem fica na Escola". Hoje o favorito do público votou numa pessoa que não era nenhuma das duas empatadas. (A situação é de facto estranha confesso, mas não incómoda como fez transparecer a máquina do programa. Quem escreveu esse Regulamento que não contemplou esta eventualidade?) Hoje o favorito do público foi obrigado a mudar o seu voto PARA DESFAZER O EMPATE. A mim caiu-me mal. Muito mal.
Dura lex sed lex. Era o lema da Comissão de Praxe na minha Faculdade. E nunca senti perante isso o desconforto que senti depois, face a situações que considero injustas. Como a de hoje. Não sei o que é que os legisladores teriam a dizer sobre isto, mas tenho para mim que se agarrariam o mais que pudessem ao aforismo latino para dizer a mesma coisa que nos dão as tvs sábados atrás de sábados, domingo após domingo: nada.
Um dos muitos tristes que teve o azar de ser meu professor de Educação Física passou o décimo segundo ano a (tentar) convencer-me a ingressar na magistratura. Não o fiz. Não lhe dava qualquer tipo de crédito, além do que Educação Física foi a disciplina que mais detestei - desde sempre - na vida. (Ainda hoje sou apologista dum currículo, constante de oficina de escrita, atelier de arte, música e teatro, alternativo a essa disciplina. Por outro lado, sempre me fez confusão o defender-se alguém que grosso modo já se sabe culpado. Acho que sou demasiado básica para os melindres e os bastidores do Direito.
Devia decidir quem fica na Escola, o voto do favorito do público, sem mais. Assim, evitava-se o silêncio interminável que tentou cortar o ar pesado de um estúdio que pura e simplesmente não sabia que dizer ou fazer. Assim evitava-se os terivelmente infelizes "A tua votação não interessa, tens é de escolher um de entre os dois empatados", "E está decididio, o favorito do público decidiu, quem fica na Escola é ..." da apresentadora. E não, o injustiçado desta noite não foi a nossa conterrânea.
Ai, nunca mais acaba o fim-de-semana para ver os Gato Fedorento! Antes ver quatro gatinhos, dois que se prendem ocasionalmente no trânsito, mas que são gatos e sabem ser palhaços, do que uma palhaçada a fingir, disfarçada de gala de cantigas - a fingir!
sexta-feira, novembro 09, 2007
Chuva Oblíqua
O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé de um muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há arvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...
Fernando Pessoa
quinta-feira, novembro 08, 2007
E ao quarto dia...
Três dias em Lisboa.
Segunda. Acordo às sete, saio às nove. Meio dia, furo no pneu, uma hora em Fátima, duas em Lisboa. Apresentação de poster às três, almoço perdido, almoço esquecido, táxi, uma indicação que se pede, o taxista, não eu, phones que se tiram e voltam a colocar (!) ao ouvir a palavra "informação", um Complexo Interdisciplinar escondido nas traseiras do Santa Maria, o BI que se tem de apresentar a um segurança que não existe à entrada. Uma entrada que tarda e só se efectiva atrás de outros. E o poster para afixar. Pessoas que almoçam, ninguém na recepção, pessoas que tomam café, ninguém na recepção, pessoas que descem para a recepção e só falam; falam, falam, ninguém na recepção. E o poster para afixar. O bostick que chega finalmente, junto com a fita-cola e com indicações já sabidas. O poster que se afixa a quatro mãos. A conferência plenária num auditório minúsculo, quarenta lugares, ocupação a cinquenta por cento. Fim. Lanche - A Sessão de Posters. Ou Sessão de Posters - Lanche. Linguística por entre rissóis de carne, pastéis de nata, sumo e café. Alguns linguistas, alguma, linguística. Mesa-Redonda de Encerramento. Linguística de café. Vinte minutos à espera de dois Gato(s). O publicitário da Super-Bock pontualíssimo, o escritor pontualíssimo, dois Gato(s) presos no trânsito. Um auditório minúsculo, quarenta lugares, ocupação a mil por centro. Gatices. Publicidade, literatura, humor... de linguagem.
Terça. Um dia na Biblioteca. Do Complexo Interdisciplinar, já conhecido. Ida sem fretes para lisbonenses de phones. Livros, revistas, separatas, cópias, mil e uma, o pescoço que pesa e as costas que doem. Escapadela ao fim do dia, o livro e o dvd da lista de há séculos.
Quarta. As saudades. De três dias que passaram num sopro. Do acolhimento feito mimo. Das conversas. Das refeições. Do cházinho antes de dormir. Da companhia. Da casa feita lar. De uma amiga de sempre, e para sempre. O até já. Ao mundo perfeito do número 60 da Avenida.
Quarta ainda. A atribuição do prémio, não a mim. A menção do meu nome - verdadeiro prémio. O contentamento. A celebração. O jantar. O regresso.
O (des)cans(aç)o.
quinta-feira, novembro 01, 2007
Dia de Pão-Por-Deus
quarta-feira, outubro 31, 2007
Happy Halloween!
http://substante.blogspot.com/2006/11/halloween-at-rice-linguistics_03.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/white-sleeve-of-nutty-scientist-corpse.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/goodies-brought-by-nutty-scientist.html
Estava nos EUA... Este ano, por cá, há demasiado para fazer... Fica a lembrança.
terça-feira, outubro 30, 2007
sexta-feira, outubro 26, 2007
Gosto
Gosto de stôres assim.
quarta-feira, outubro 24, 2007
Todos Iguais, quando?
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio
António Gedeão
Lemos vezes sem conta o poema. Inicialmente os miúdos não percebem, os miúdos. A miúdas emocionam-se logo, à primeira leitura, emocionam-se, relêem, trelêem. Querem explicar aos colegas. Querem falar. Têm muito para dizer. Coisas de mulher, acho eu. Volta-se a ler, explica-se, as meninas ajudam, toda a gente se rende. No fim. A questão é importante, não passa despercebida, nem mesmo num meio tão pouco cosmopolita como é o do interior norte. Rendem-se sempre. Nunca o contrário me aconteceu numa turma. Rendem-se às palavras. Por atitudes. Não passam a ver diferente, mas vêem mais além. É o bom de se ler este poema na altura certa, no sétimo ano, ou no oitavo – já nem sei bem... Não sei como fazem em casa, com os pais, os primos, os amigos mais velhos, se calhar não fazem nada, manda a lei do mais forte, mas se se lembrarem do poema quando forem eles os mais fortes cumpri a minha função. Social.
Às vezes penso que já fui alvo de racismo: no meu semestre em Paris quando milhentos alguéns se surpreendiam porque o nível do meu francês era excelente e isso não era “português”, ou quando um outro alguém execrável, perdão uma renomadíssima, professora de Latim da Sorbonne se recusou a aceitar que eu tivesse telemóvel e vivesse em Montparnasse porque isso não era de todo “português” e o nome não engana. Ou quando estive em Londres e a companhia aérea achou de arrumar os únicos três portugueses do voo no fim do avião, uma filinha só para nós, bem juntinhos, longe dos brits. Se calhar foi só discriminação – não o será toda a forma de racismo? Se calhar estou a fazer um filme – faço muitos, é do que faço mais e melhor. Mas no meu íntimo jaz aquele incómodo perene do “E se...” que é bem capaz de ter sido.
Tenho uma simpatia especial pela diáspora. Portuguesa, claro, mas por toda e qualquer uma. Já vivi em muitos sítios. Já estive muito tempo fora de casa. Já passei por muitas situações e já vi muita coisa. Não acredito que alguém saia da sua casa, da sua cidade, do seu país porque quer. Não acredito mesmo. Não há lugar como a nossa casa. Esteja ela na nossa cidade natal ou noutro qualquer recanto do país ou do mundo. Não acredito que uma pessoa que saia da sua casa porque quer. Sai porque precisa. Porque a sua casa não lhe dá as condições que merece, as possibilidades a que aspira, o direito ao sonho. Condições, direitos e possibilidades que ninguém, em nenhum lugar do mundo, tem o poder, não falemos sequer em direito, de dissipar. E não se trata de demagogia, o El-Dorado existe mesmo – pode não ser (apenas) os EUA, curiosamente nos dois semestres que lá passei, no estado mais conservador da nação, fui optimamente acolhida –, mas lá que existe, existe – acredito mesmo nisto.
Somos todos feitos do mesmo. Um homem, a Humanidade. O bem de um é o bem de todos, o mal de um, o de todos.
Não será possível ler ao rufia que agrediu gratuitamente uma miúda, adolescente, no metro de Barcelona o poema de António Gedeão, já não tem treze anos, é porventura tarde; de resto devem libertá-lo hoje, daqui a umas horas, antes ou depois disso ponham-no, ao menos, a ver o América Proibida, por favor. A bem da Humanidade.
terça-feira, outubro 23, 2007
Duas pessoas, um segredo de palavras
segunda-feira, outubro 22, 2007
Sem tempo
quanto tempo o tempo tem.
E o tempo responde ao tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem.
sábado, outubro 20, 2007
sexta-feira, outubro 19, 2007
Haja bom juízo!
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.
São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.
Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.
Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.
Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.
in, Garras dos sentidos, Agustina Bessa-Luís
quarta-feira, outubro 17, 2007
2 em cada 6 pessoas morrem à fome, hoje....
... LEVANTA-TE CONTRA A POBREZA!
A "Semana Objectivo 2015", a primeira do género em Portugal, decorre até 17 de Outubro, sendo promovida localmente, além da Câmara Municipal de Braga, pela Comissão Justiça e Paz, Associação Académica da Universidade do Minho, Caritas Diocesana, Confederação Nacional de Acção sobre o Trabalho Infantil, Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa e Federação das Associações Juvenis de Braga.
Neste contexto, várias escolas do concelho vão marcar esta acção com a exibição de faixas brancas – símbolo do combate à pobreza global – e com outras actividades.
No âmbito de uma mostra de cinema documental, que tem por palco a Videoteca Municipal, alguma escolas secundárias participam igualmente nas sessões da tarde, assistindo a documentários que vão servir de tema para posterior trabalho escolar.
De igual forma, estão previstos passeios, bailes e festas em que o combate à pobreza será devidamente assinalado.
A "Semana Objectivo 2015" culmina no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, com a iniciativa global "Levanta-te e Faz-te Ouvir Contra a Pobreza e Pelos Objectivos do Milénio" (17 de Outubro, 10h00, Avenida Central).
Os eventos do "Levanta-te e Faz-te Ouvir" serão espontaneamente organizados por grupos de pessoas que vão levantar-se e fazer-se ouvir, entre as 21h00 de 16 de Outubro e as 21h00 do dia seguinte, demonstrando, assim, o seu apoio através da participação num movimento social que se propõe juntar milhões de vozes a nível global.
No ano passado, mais de 23 milhões de pessoas associaram-se a este momento, o que permitiu estabelecer um novo recorde mundial, que se pretende seja ultrapassado este
Para conhecer a programação das várias iniciativas a desenvolver neste contexto, aceda a:
http://www.objectivo2015.org/pdf/programa.pdf .
terça-feira, outubro 16, 2007
Proibido esquecer
Quando o poeta disse: "As palavras estão gastas" não se enganava. As palavras estão gastas. Na verdade, as palavras sempre estiveram gastas. São gastas, as palavras. São gastas, são ocas, são vazias, são etéreas, são barro, são pó, são nada. Nada. Nada são, nada valem. De nada servem. Para nada servem. Totalmente desprovidas de valor em si, geradas por justaposição, uma amálgama de signos miserável. Um nada.
E no entanto, um dia, decerto no início dos tempos, convencionou-se o oposto. São tudo: sol, céu, colo, revolta, sopro de vida, esperança, amparo, luta, sonho... Depois desse dia, muitas e muitas vezes, as palavras regressaram à sua original vaguidade. Sinais dos tempos.
Porque agora poucas vozes são capazes de encher as palavras de valor, é proibido esquecer Adriano Correia de Oliveira.
segunda-feira, outubro 15, 2007
Blog Action Day
O dia de aniversário da minha mãe devia ser feriado. (Já o disse.) O dia do meu aniversário devia ser feriado. (Digo-o agora.) E hoje. Hoje devia ser feriado. (Digo-o todos os anos durante mais de uma semana.) Hoje, 15 de Outubro, dia do nascimento do Baía, dia do nascimento do Nietzsche. (Bem, dia do nascimento de tantos outras figuras, anónimas ou não, mas que não me dizem tanto como estes dois.)
O Nietzsche caiu-me ao colo no décimo segundo ano. A Origem da Tragédia. Em Filosofia. Desde esse Março de 98 esse Nietzsche, de vinte e um anos, idealista, absolutamente apaixonado pela cultura clássica e apaixonante permanece, não à cabeceira, mas quase, na mesa de trabalho.
Do Baía, do Baía já escrevi muito por aqui. Para não me repetir...
http://substante.blogspot.com/2006/03/maxime-gnoto-deo.html
Quanto ao ambiente - o ambiente não faz anos hoje, fez há dias, graças ao Mr. Al Gore - aposto que vai ser mais falado que todos os nados neste dia, e muito melhor do que eu em relação aos senhores acima!
Duvidam? Então, passem por aqui:
http://testaravida.com/2007/10/15/blog-action-day/#comment-10363
quinta-feira, outubro 11, 2007
Do Outono
Foi em Outubro que calcei as minhas primeiras galochas, cor de rosa clarinho, bem bonitas por sinal, foi em Outubro que estreei o meu guarda-chuva cor de laranja, único companheiro de brincadeiras infantis - que eu nunca fui menina de bonecas, nem peluches, nem carinhos, nem chávenas, bules e fogões; só livros e tintas e o dito guarda-chuva. E era em Outubro, a cada Outubro, que surgia um impermeável novo. Logo, Outubro é sinónimo de chuva, lama, muita lama, que há vinte anos atrás as estradas já eram boas, mas não são o que são hoje, vento muito vento, vento que uiva e fustiga as árvores que balançam exageradamente para me saudar, guarda-chuvas que se viram ao contrário em protesto, bátegas de água que me molham o cabelo e descompõem as tranças, cabelos que se soltam e, inquietos, se encaracolam com medo do cinzento do dia, ou da chuva, ou do vento, ou de tudo, mesmo no interior quentinho da sala de aula.
Não é a minha estação do ano predilecta, o Outono. Mas tem castanhas. E por elas tenho especial adoração. Porque o Outono não é apenas uma sucessão de Outubros pelos tempos dos tempos. Não. O Outono dá-me Novembros de castanhas a estalar de mãos escurecidas, mas sempre quentinhas para as minhas, quase sempre frias, impacientes, à espera daquele aconchego aninhado, escondido, no interior das páginas amarelas de uma antiga lista telefónica, tal como me aninho e me encolho dentro do casaco ou da sobreposição deles, depende do dia. E assim o triste Outono, pequeno, frio, despido de folhas, enche-se de cor, bem, pelo menos de sabor. E calor. E o calor sabe sempre ao sítio em que deixámos o coração, a nossa casa, feita de pais e irmãos ou namorados ou amigos, ou, se tivermos sorte, todos eles, e isso torna-o quase a melhor estação do ano. (E tudo graças às castanhas!)
Mas um dia, é sempre assim, um belo dia, num dia específico lá para os finais de um Setembro que já foi mas não esqueço, o meu Outono transfigurou-se. Arrumou a tristeza, pôs as castanhas assadas no fundo da prateleira das coisas que dão graça às estações do ano, e, à sua frente, bem à vista de todos, colocou os beijos. Ele dizia que os dele eram melhores no Outono, viciavam, e que achava que os meus olhos lhe lembravam o Outono e não via tristeza nas folhas que voavam ao vento no Outono, nem no frio do Outono, nem nas tardes cinzentas de Outono passadas na companhia de uma certa rapariga de olhos castanhos, cor de Outono!... Depois ria-se, baixinho às vezes, e acrescentava que quando mudasse a estação, haveria de proclamar o mesmo. "Mas no fundo tenho razão." - concluia. "Razão? Acerca de quê?" "Acerca dos beijos!"
E os meus Outonos continuam pequenos, frios, cinzentos, despidos de folhas, repletos de castanhas quentinhas. E, todavia, desde então, nunca mais, iguais.
quarta-feira, outubro 10, 2007
Mundos e cheiros
terça-feira, outubro 09, 2007
quinta-feira, outubro 04, 2007
HOJE
quarta-feira, outubro 03, 2007
Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
terça-feira, outubro 02, 2007
segunda-feira, outubro 01, 2007
sexta-feira, setembro 28, 2007
Schmoozed!
quinta-feira, setembro 27, 2007
O cheiro do doce
quarta-feira, setembro 26, 2007
Do Julgamento
Jeanne Vietinghoff (citado em "In Memoriam", por Marguerite Yourcenar)