sábado, dezembro 22, 2007

Festas Felizes!

Noite Feliz...




Não devo cá vir antes do fim do ano. Que possam todos viver esta noite com este espírito...

Natal Internacional



Todos os Natais que passei fora, de Paris a Houston, ficaram marcados por esta canção... É de certa forma a canção da distância, muito embora estas crianças consigam pintá-la de um calor... que aproxima.

Deve passar este natal num canal qualquer...




Enquanto passa e não passa, fica-se com a voz angelical no ouvido e com fragmentos de um filme que tem muito que se lhe diga. Ou talvez não.

domingo, dezembro 16, 2007

Estrela do Ocidente

Por teus olhos acesos de inocência
Me vou guiando agora, que anoitece.
Rei Mago que procura e desconhece
O caminho,
Sigo aquele que adivinho
Anunciado
Nessa luz só de luz adivinhada,
Infância humana, humana madrugada.


Presépio é qualquer berço
Onde a nudez do mundo tem calor
E o amor
Recomeça.
Leva-me, pois, depressa,
Através do deserto desta vida,
À Belém prometida…
Ou és tu a promessa?






Miguel Torga


Corais

Opções de mensagens
Ando a ter uns fins de semana culturais... Ontem em Braga teve lugar o XII Puer Natus est, o Concerto de Natal do Coro Académico da Universidade do Minho. Muito bonito, com cheiro a Natal e um sabor especial: duas orquestrações do meu irmão. Orgulho familiar à parte, registo, a bem da verdade, o facto de haver muita gente nova a escrever muito boa música em Portugal. A ter em conta.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

O rapaz dos amarílis


Pink_Amaryllis

Não estava lá quando me cheguei à frente. Veio escassos segundos depois. Não consegui disfarçar. Ganhou-me naquele preciso momento, os meus olhos já não eram meus, a atenção toda nele, toda deles. Atrasei o passo, deixei-o avançar, sempre com eles, tão singelos, deixei, deliberadamente, para os poder observar melhor. Esqueci o frio, tanto calor e tanta gente na estação da Casa da Música, iam murchar. Não obstante, quis ver. Não vê-los estragarem-se, não, quis ver a cara, os olhos, a alma de uma pessoa assim. Bonita.
Porque é bonita, de um bonito que as palavras não conseguem dizer, de um bonito que prende o olhar, de um bonito que é sentir só e sentir diferente, qualquer pessoa que desafie as leis das seis e meia da tarde de uma sexta-feira de Dezembro para entrar no metro com um ramo de amarílis. Vermelhos, não, laranja, não, vermelhos e laranja, que também havia fogo neles. Duas hastes, três flores, seis amarílis ao todo. Sob um verde que desconheço, seis amarílis cor-de-fogo atravessados por uma única rosa branca, em botão. Atravessados por uma única rosa branca. Em botão. Eu, trespassada pela imagem.
As pessoas a entrar e a sair e eu com os amarílis nos olhos. E na cabeça. E, algures, no lado esquerdo. Crescemos a ouvir histórias de príncipes que se encantam por princesas e que, em nome de um amor maior que a vida, oferecem rosas e amarílis, e, crescidos, nunca, por um momento, pensamos que a razão por que os príncipes encantados não existem é porque padecemos de um mal muito grande que é a cegueira de querer ainda fazer isto, sem esquecer aquilo, de por isso não ter tempo para, nem querer assim, que assado é que se está bem.
Este príncipe, como todos os príncipes, era banal. A todos os níveis. Encantadoramente banal. Mais banal que a mais banal das pessoas. Não havendo nele um único símbolo, um único sinal, uma marca, um estilo, nada. Absolutamente nada que o pudesse inserir em qualquer tipo de taxonomia. A-étnico, a-religioso, a-social, a-cultural, a-político, a-económico. Daí, a certeza. Príncipe. De amarílis ígneos e pura rosa junto ao peito, um castelo nos olhos, chamas no coração. Príncipe. Tal como é princesa toda a menina a quem se destina uma prenda assim.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Porque aos 12 de hoje faltam 12 dias...

Porque é de longe a minha canção de Natal favorita. Porque falta pouco. Porque...



Religious symbolism of The Twelve Days of Christmas (The 12 Days of Christmas)

1 True Love refers to God
2 Turtle Doves refers to the Old and New Testaments
3 French Hens refers to Faith, Hope and Charity, the Theological Virtues
4 Calling Birds refers to the Four Gospels and/or the Four Evangelists
5 Golden Rings refers to the first Five Books of the Old Testament, the "Pentateuch", which gives the history of man's fall from grace.
6 Geese A-laying refers to the six days of creation
7 Swans A-swimming refers to the seven gifts of the Holy Spirit, the seven sacraments
8 Maids A-milking refers to the eight beatitudes
9 Ladies Dancing refers to the nine Fruits of the Holy Spirit
10 Lords A-leaping refers to the ten commandments
11 Pipers Piping refers to the eleven faithful apostles
12 Drummers Drumming refers to the twelve points of doctrine in the Apostle's Creed

http://www.carols.org.uk/

terça-feira, dezembro 11, 2007

O cigano

Ouvi, calei dentro, nunca mais me lembrei.
Até esta tarde. O Porto acabou de jogar há pouco para a Liga dos Campeões e portanto tudo o que é serviço noticioso de tudo o que é canal não se calou com isso o dia todo. Uns falavam nos quinze mil que iam engarrafar o metro, outros nas tricas do campeonato nacional, outros ainda na mística dos balneários do Porto. Estaquei nesses, não pela notícia, não pelas instalações, nem sequer pelo clube que é o meu, mas pelo espectáculo. Há um canal que anda a apostar muito nisso agora... o espectáculo era o Miguel Guedes dos Blind Zero a ser guiado por ali dentro, balneários do FCP bem entendido, pelo Quaresma. Gosto do Quaresma. E gosto do Miguel Guedes. Mas gosto mais do Quaresma. Sigo-lhe mais de perto o trabalho, não sou rapariga de crónicas em jornais desportivos. Então, trocavam galhardetes os dois, o Guedes com a inteligência e simpatia que o caracterizam, o Quaresma com o pouco à-vontade e laconismo que o caracterizam também, mais ou menos. E os painéis com fotografias dos adeptos que pedem mais uma vitória isto, e o peso da camisola ou do emblema aquilo, e o cantinho de cada um, mais cheio ou mais vazio, dependendo da pessoa em questão. Que o nosso Quaresma tem o cubículo cheio de cremes e perfumes, ...para que as pessoas não pensem que os ciganos são sujos..., nas palavras do próprio. E riram-se ambos da piada e a peça prosseguiu e eu lembrei-me. Porque não encontrei a graça. E tenho a mania que a boca fala do que transborda do coração. Lembrei-me. Lembrei-me daquele dia no metro, em Matosinhos, quando meia dúzia de miúdas estacaram, cara colada ao vidro primeiro, longas gargalhadas depois. Olha, olha, olha, um pica cigano. Não sabia que aceitavam ciganos pra picas, vês? Ali!...
É muito difícil viver com um estigma, qualquer que ele seja: etnia, raça, sexo, religião, deficiência, opção sexual, profissão, regime alimentar... Aqui ou no Kosovo, cigano é sujo, malcheiroso, renegável e renegado, não é preciso muito para senti-lo. O pior é que tenho a certeza que avós ou tios dessas adolescentes foram e/ou são emigrantes em França, por exemplo. E, assim sendo, são os ciganos de Paris. Sei. Já vivi lá, há não muito tempo, quando estudava na Sorbonne, e por muito que queira não consigo apagar de dentro a estupefacção da minha professora de Latim quando viu na minha ficha que era Portuguesa, porque, segundo a própria, algo não estava (?!) certo: morava em Montparnasse,a dois minutos dos Jardins do Luxemburgo, era bonita, e imagine-se: tinha telemóvel! Pas possible! Sei também que, paradoxalmente, estas meninas idolatrarão o Quaresma, mas ouvem os pais chamá-lo de cigano, e chamar é muito diferente de designar, tem conotações, maledicências, preconceitos e medos pendurados em cada uma das letrinhas que compõem a palavra.
Não acompanhei o jogo, mas julgo que lhe correu bem, falaram com ele no fim. O que quer dizer que amanhã virá nos jornais e toda a gente falará no cigano. Não no miúdo que sonha e faz arte com os pés, no Quaresma que tantas vezes joga por toda uma equipa, no Ricardo que é juvenilmente caloroso nas celebrações de golo e que é nosso e que é bom. Não. O cigano é que andará em todas as bocas grandes deste país pequeno. O cigano.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Bilhetinho de Natal - the american way


JJ's last X-Mas surprise, Rice Univeristy, Houston, 10/12/2006

Sabia que tinha guardado esta fotografia algures. Faz hoje um ano, curiosamente. Poucas coisas me surpreendem, mas esta além de conseguir a proeza de o fazer, encantou-me. O meu colega de gabinete, que me cedeu a sua secretária o ano todo, foi entregar uns livros à biblioteca e ao passar pelo "nosso" cantinho colou-me no portátil esta surpresa.
Inusitado para um europeu. Para mim. Regular. To americans. Acreditem.

Um abraço dentro de um envelope...



JJ's messy kitchen table this afternoon


Este não é só um postal de Natal... (...) ... é um abraço dentro de um envelope.

É o que se pode ler num dos postais que acabo de selar. Acho que todos os postais, todas as cartas, todos os bilhetinhos e todos os livros são assim. Mesmo o que disso não fazem menção. Especialmente os que disso não fazem menção. Tudo o que escrevemos é assim. Toca o outro. Como num abraço. Ou num estalo. Ninguém devia escrever de ânimo leve. Ninguém escreverá, possivelmente.
Numa época em que é fácil e cómodo e barato, perdão, gratuito, mandar um mail ou uma sms (antes do fim desta semana para de e para TMN), e há tão tocantes, nada se comparará à prenda que um postal de Natal pode ser. Porque, como as coisas mais bonitas, levou tempo. Passou por uma escolha de tamanho, cor, textura, da imagem que mais paz dará ao outro. Passou por um crivo, outro, o da escrita, da busca das expressões, das palavras que se quer oferecer e que faz bem ao outro ler, por conhecimento de causa. Palavras que passaram do coração à cabeça, da cabeça aos dedos, dos dedos à caneta, da caneta ao papel. Sem hesitações, sem borrões, sem rabiscos, palavras mais imaculadas que o papel, puras como o supremo bem que se deseja ao outro. Sempre. Mas que se diz mais no Natal.

Passei os meus dois últimos natais nos EUA. Conheci muita gente e aprendi muita coisa nos EUA. Lembro-me disso todos os dias, é inevitável: foi lá que comecei o meu trabalho, foi lá que discuti as minhas ideias e obtive outras tantas a respeito do mesmo. É a modos que automático...
Mas ainda há pouco, quando abria o postal da minha amiga, lembrei-me de algo muito maior: o abraço americano.
Os americanos desconhecem os dois beijinhos: cumprimentam os conhecidos com a mão e reservam para os amigos os abraços. Agora acho bonito, recomendo até, mas no início, horrivelmente constrangedor: ter os braços de pessoas que não considerava íntimas à volta do meu corpo era muito estranho, muito embora o importante mesmo fosse o significado do gesto. Friends we were!
Os americanos são um povo sui generis. Gosto muito de todos com quem tive a sorte de conviver de perto, mas continuo a achar que, na generalidade, como me disse o Manu um dia, vêem demasiada televisão. Para o bem e para o mal. Para o sonho e para a violência. Para o amor e para a morte. Os americanos são a televisão que vêem e pouco mais.
No entanto, quem tem a sorte de ter um amigo americano, amigo mesmo amigo, americano mesmo americano, é incapaz de ficar indiferente ao seu abraço, de não se deliciar com a flor que nos põe no cabelo porque estamos tristes, com o bilhetinho na secretária porque está sol ou é Natal, com o colinho, com a festa-surpresa, com tudo o que um abraço de Natal, de oceano a oceano, nunca conseguirá igualar; mas, nem que seja pela evocação desses abraços passados, tentará...

quarta-feira, dezembro 05, 2007

O Natal da Webboom

Gosto de livros. Gosto do Amazon, da FNAC, da Assírio e da Webboom.
E eles sabem que gosto. Em especial de descontos. Até dos descontos de Natal da Webboom. Não gosto é que os ditos me cheguem ao mail através de uma mensagem com o título que enunciarei ipsis verbis: "Um Natal porreiro, pá! - é o que lhe deseja a Webboom..."
Gosto de me rir aos Domingos à noite com os Gato. Reconheço-lhes graça e mérito e inteligência, mas não encontro nada disso na publicidade da Webboom. Pelo contrário, chocou-me. Tal como há dois minutos, quando ouvi na rádio um anúncio de uma nova rede móvel em que um avô, note-se, reagia ao anúncio de casamento da neta com um sonoro "Phooooooonix!"
Não tenho nada contra o trabalho dos publicitários, não tenho nada contra a apropriação de frases feitas, não tenho nada contra a adopção de um registo de pendor mais oralizante, muito pelo contrário: percebo que na generalidade dos casos tudo se conjugue para o estabelecimento de uma empatia quase imediata com o target, afinal é de marketing que se trata, pelo desencadear da emoção, do riso, mais ou menos fácil. O que me preocupa aqui, e me choca, é puxar-se dos galões da assimetria emissor da mensagem/registo para (se) fazer (notar), rir, comprar. Pode ser de mim, mas não conheço qualquer editor que faça votos de festas felizes assim, nem avô nenhum que reaja daquela maneira.
É claro que não se exige a um publicitário que seja linguista, mas eu, se pudesse ser Pai Natal, pedia que pusesses em alguns sapatinhos, perdão, cabeças, pretensamente pensantes, uma coisa que se chama bom-senso.

Não gosto do apelo consumista que se faz sempre por alturas do Natal, mas, boas notícias para mim, com anúncios destes, acho que consigo controlar os meus ímpetos...

terça-feira, dezembro 04, 2007

Santa Claus is coming to town!


X-mas boot at JJ's kitchen

Feita (há que tempos!) por mim e pela minha mãe. Para colorir o Natal portuense.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

domingo, dezembro 02, 2007

A mais bonita época do ano...


The setting up of the Christmas Tree, this morning, JJ's living room


... começa hoje, 1º Domingo do Advento. Para mim, claro.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Palavras Sem Remos para a 100Remos



You locked your heart
You wake up with tears and
stars in your eyes
You gave it all to someone that
Cannot love you back

Your days are packed
With wishes and hopes for the
love that you've got
You waste it all to someone that
Cannot love you back

Someone that cannot love

Love, ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more

You secretly made
Castles of sand that you
hide in the shade
But you cannot own the
tides that break them
And you build them all over again

You talk all these words
You make conversations
that cannot be heard
How long until you notice that
No one is answering back

Someone that cannot love

Love, aint this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more

Love, love, ain't this enough
This pushing around
To find little comfort in words
But words
They cannot love
Don't waste them like that
Cus they'll bruise you more

You know they'll bruise you more
Words they will hurt you more

quarta-feira, novembro 28, 2007

Logo


Enchanted

http://en.wikipedia.org/wiki/Enchanted_(2007_film)

Porque está aí a época do encantamento...

terça-feira, novembro 27, 2007

já viste como a ferida pode ser uma
boca de sangue, como se a faca lhe
criasse um beijo. já viste como o sorriso
pode ser uma arma de morte, como
se o coração lhe retirasse o amor.
já viste como a árvore pode ser um
estandarte de vento, como se as
cabeças mais vazias se lá pusessem a voar

Valter Hugo Mãe

quinta-feira, novembro 22, 2007

Linda's pumpkin pie

A memória é uma coisa estranha. Mais do que a partir de imagens, a memória constrói-se através de emoções: cheiros, sensações. A memória fala, sussurra-nos mundos ao ouvido. Sobretudo quando o corpo que sente, o ouvido que escuta, os olhos que se fecham para ver, estão longe do coração. Que o coração, às vezes, parte-se e reparte-se por muitos cantos do mundo.
Hoje é Dia de Acção de Graças, Thanksgiving, nos EUA. Há duas semanas que ando a falar nisto. Nunca me lembro do dia. Sei apenas que é uma quinta feira de Novembro e portanto a cada quinta aborreço toda a gente daqui a perguntar pelo Thanksgiving. É hoje. Entro no Facebook e o status da Linda diz-me que ela cozinha a sua deliciosa tarte de abóbora, o ex-libris da quadra festiva. O da Vica convida todos os amigos a mergulharem no perú, no puré e no cranberry sauce. Saudades!!!...
O Thanksgiving é culturalmente, objectivamente e para todo o americano que se preze, a primeira das comemorações mais ou menos familiares que anunciam o Natal. (Cá entre nós, porque entre eles também, bem bem no seio da festa, o Thanksgiving é a "consoada (que começa ao almoço e só termina com a ceia) dos amigos", claro que os pais fazem questão, claro que os filhos acabam por ir, mas na eventualidade de não se poder atravessar o estado, vários estados, o país para uns, um oceano para outros, não há ninguém que passe sozinho este dia! Mesmo aqueles que não têm amigos, que também os há, são sempre energicamente puxados para a casa de alguém. E acabam por surpreender-nos, os sozinhos, muitas vezes... E cozinha-se e fala-se e ri-se e joga-se e não se faz nada e a felicidade senta-se connosco nesse ócio tão americano.
Passei dois Thanksgiving nos E.U.A. e de ambos recordo com carinho, e saudade - admito -, da espontaneidade e da alegria com que se é recebido na típica casa americana. Sempre. Num tempo em que "americano" é tantas vezes sinónimo de "prepotente" (e "odioso" e "tirânico" e tudo o mais...) o que me apetecia mesmo agora era a pumpkin pie da Linda, enquanto olhava, divertida, o Pascal diligente na mui máscula tarefa de lavar a loiça às meninas. O que eu queria mesmo era a conversa de engate do Chris, o contínuo arrotar de saber enciclopédico do Schmitty, o ter que enxotar o Raj, podre de bêbado, do meu colo e apressar-me para a minha maratona de tricot com a Gu-Jing, enquanto a Vica se ri, desbragada, da minha saída estratégica.
Apetece-me hoje, Dia de Acção de Graças nos E.U.A., o mesmo que me apetecia quando estava lá e lembrava-me das castanhas do senhor das castanhas do Marquês, do cheiro das mãos da minha mãe ou do som dos meus beijos na sua pele, dos lanches especiais da Rua de Santa Catarina ou do cheiro a terra molhada depois de chover na Madeira.
O que me apetece e eu quero mesmo, queria muito, era ter o coração de volta, assim, aqui, todo inteiro, meu, muito meu.

quarta-feira, novembro 14, 2007

"Avisem os vossos amigos em Londres, por favor.


(Estou com medo que não apareça ninguém...)" JLP

Nenhum Olhar de José Luís Peixoto, com apresentação pelo próprio, daqui a menos de 15 dias em Londres. A não perder.

terça-feira, novembro 13, 2007

O que é....

"Uma avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.
As avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas, nem as lagartas.

Nunca dizem "Despacha-te!".

Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.

Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.

As avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.

Quando contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.

As avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.

Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes que nós.

Toda a gente deve fazer o possível por ter uma avó, sobretudo se não tiver televisão."


*Definição de avó redigida por uma menina de 8 anos e publicada no jornal do Cartaxo.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sobre o lado esquerdo

"(...) o homem que não dorme pensa: «o melhor é
voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando
todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do
meu corpo, esmagar o coração".

Carlos Oliveira


domingo, novembro 11, 2007

Dia de São Martinho.






Domingo. Hoje. Não há nada como um dia atrás do outro.

Coisas que me põem fora de mim


O meu professor de EC dizia-me hoje que só comprou televisão há pouco tempo e contrafeito. O meu professor de EC é uma pessoa muito especial, daquelas que devia haver em todas as casas, todas as escolas, todas as igrejas, todas as repartições públicas, todos os sítios onde houvesse gente. Porque nunca ofende, nunca interrompe, nunca magoa, ninguém; pelo contrário trata cada pessoa com um cuidado e uma doçura... como se cada um de nós fosse de tal maneira frágil e especial que qualquer palavra ao acaso poder-nos-ia retirar o chão para sempre. (E tiram-nos tantos, para sempre, tantas vezes!) Mas não era nisso que estava a pensar há pouco, estava justamente a pensar se seria muito difícil arrancar a televisão e deitá-la pela janela fora. Passa da meia noite, não ia aleijar ninguém, aliás era um favor que fazia a todos, à humanidade.
Ninguém nas televisões pensa nas pessoas que não têm casas de fim de semana, nem jactos particulares, nem viagens pagas, nem programas a dois, nem nada. Enchem-nos disso, nadas, impingem-nos grandes e pequenos nadas. Deformam, facilmente, confortavelmente, impunemente, um país que se enterra cada vez mais na ignorância e no sofá.
Sensivelmente a meio da OT2 optei por não desperdiçar mais tempo útil de leitura ou audição musical, em virtude de uma injustiça feita despudoradamente de tão às claras em relação a uma concorrente de Braga - que não conheço, nunca vi sequer. Voltei atrás nessa tão acertada decisão, o Francisco - valente! - fez saber, a quem de direito, da sua desolação, ainda por cima em directo para todo o país - isto nos tempos em que depois das galas, havia um directo para os estúdios, directo durante o qual os concorrentes respondiam a algumas sms mandadas pelo público.
Desde o início disse que não veria a OT3, mas tenho sido mais assídua do que intentara. Há uma conterrânea nossa que é amiga, mesmo mesmo amiga, dos meus irmãos. Não vou discorrer acerca do ênfase dado à imagem, vulgo peso, da menina em detrimento do mérito que inegavelmente possui a melhor aluna do Curso Superior de Canto da melhor Escola de Ensino Superior Artístico do país, nem sequer vou debruçar-me sobre o desempenho, a cada semana desolador, da apresentadora. Não tecerei conclusões acerca de uma cantora-professora que diz que "o mais importante para um cantor não é a voz que tem, mas o que faz com ela" - muito me conta, quer dizer que eu sendo especialista tão só em Semântica histórica, posso ser professora de Linguística (i.e. conjunto da Sintaxe, Semântica, Morfologia, Prosódia e Pragmática) Portuguesa?, só porque é a minha especialidade(?) - não terão feito todos aqueles que já saíram o melhor que puderam com o seu instrumento vocal?
Bem, a razão que me leva a querer atirar todas as televisões do mundo às cabecinhas pensadoras que mandam nas televisões, programações de fim de semana especialmente, os écrans mais pesados direitinhos à tola dos que conceberam a OT é pura e simplesmente a do Regulamento.
Aparentemente, um Regulamento que nunca me foi dado a conhecer, nem podia, não está disponível online na página do programa diz(?) que "em caso de empate é o voto do favorito do público que decide quem fica na Escola". Hoje o favorito do público votou numa pessoa que não era nenhuma das duas empatadas. (A situação é de facto estranha confesso, mas não incómoda como fez transparecer a máquina do programa. Quem escreveu esse Regulamento que não contemplou esta eventualidade?) Hoje o favorito do público foi obrigado a mudar o seu voto PARA DESFAZER O EMPATE. A mim caiu-me mal. Muito mal.
Dura lex sed lex.
Era o lema da Comissão de Praxe na minha Faculdade. E nunca senti perante isso o desconforto que senti depois, face a situações que considero injustas. Como a de hoje. Não sei o que é que os legisladores teriam a dizer sobre isto, mas tenho para mim que se agarrariam o mais que pudessem ao aforismo latino para dizer a mesma coisa que nos dão as tvs sábados atrás de sábados, domingo após domingo: nada.

Um dos muitos tristes que teve o azar de ser meu professor de Educação Física passou o décimo segundo ano a (tentar) convencer-me a ingressar na magistratura. Não o fiz. Não lhe dava qualquer tipo de crédito, além do que Educação Física foi a disciplina que mais detestei - desde sempre - na vida. (Ainda hoje sou apologista dum currículo, constante de oficina de escrita, atelier de arte, música e teatro, alternativo a essa disciplina. Por outro lado, sempre me fez confusão o defender-se alguém que grosso modo já se sabe culpado. Acho que sou demasiado básica para os melindres e os bastidores do Direito.
Devia decidir quem fica na Escola, o voto do favorito do público, sem mais. Assim, evitava-se o silêncio interminável que tentou cortar o ar pesado de um estúdio que pura e simplesmente não sabia que dizer ou fazer. Assim evitava-se os terivelmente infelizes "A tua votação não interessa, tens é de escolher um de entre os dois empatados", "E está decididio, o favorito do público decidiu, quem fica na Escola é ..." da apresentadora. E não, o injustiçado desta noite não foi a nossa conterrânea.


Ai, nunca mais acaba o fim-de-semana para ver os Gato Fedorento! Antes ver quatro gatinhos, dois que se prendem ocasionalmente no trânsito, mas que são gatos e sabem ser palhaços, do que uma palhaçada a fingir, disfarçada de gala de cantigas - a fingir!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Chuva Oblíqua

VI

O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...

Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé de um muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)

Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...

Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há arvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...

E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,

E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

Fernando Pessoa

quinta-feira, novembro 08, 2007

E ao quarto dia...


... descanso?
Três dias em Lisboa.
Segunda. Acordo às sete, saio às nove. Meio dia, furo no pneu, uma hora em Fátima, duas em Lisboa. Apresentação de poster às três, almoço perdido, almoço esquecido, táxi, uma indicação que se pede, o taxista, não eu, phones que se tiram e voltam a colocar (!) ao ouvir a palavra "informação", um Complexo Interdisciplinar escondido nas traseiras do Santa Maria, o BI que se tem de apresentar a um segurança que não existe à entrada. Uma entrada que tarda e só se efectiva atrás de outros. E o poster para afixar. Pessoas que almoçam, ninguém na recepção, pessoas que tomam café, ninguém na recepção, pessoas que descem para a recepção e só falam; falam, falam, ninguém na recepção. E o poster para afixar. O bostick que chega finalmente, junto com a fita-cola e com indicações já sabidas. O poster que se afixa a quatro mãos. A conferência plenária num auditório minúsculo, quarenta lugares, ocupação a cinquenta por cento. Fim. Lanche - A Sessão de Posters. Ou Sessão de Posters - Lanche. Linguística por entre rissóis de carne, pastéis de nata, sumo e café. Alguns linguistas, alguma, linguística. Mesa-Redonda de Encerramento. Linguística de café. Vinte minutos à espera de dois Gato(s). O publicitário da Super-Bock pontualíssimo, o escritor pontualíssimo, dois Gato(s) presos no trânsito. Um auditório minúsculo, quarenta lugares, ocupação a mil por centro. Gatices. Publicidade, literatura, humor... de linguagem.
Terça. Um dia na Biblioteca. Do Complexo Interdisciplinar, já conhecido. Ida sem fretes para lisbonenses de phones. Livros, revistas, separatas, cópias, mil e uma, o pescoço que pesa e as costas que doem. Escapadela ao fim do dia, o livro e o dvd da lista de há séculos.
Quarta. As saudades. De três dias que passaram num sopro. Do acolhimento feito mimo. Das conversas. Das refeições. Do cházinho antes de dormir. Da companhia. Da casa feita lar. De uma amiga de sempre, e para sempre. O até já. Ao mundo perfeito do número 60 da Avenida.
Quarta ainda. A atribuição do prémio, não a mim. A menção do meu nome - verdadeiro prémio. O contentamento. A celebração. O jantar. O regresso.
O (des)cans(aç)o.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Dia de Pão-Por-Deus


Foto JJ, 01/11/2007

Hoje. No Porto. Exactamente tal como fazia a minha Mãe na Madeira da minha infância.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Happy Halloween!

O ano passado foi assim...
http://substante.blogspot.com/2006/11/halloween-at-rice-linguistics_03.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/white-sleeve-of-nutty-scientist-corpse.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/goodies-brought-by-nutty-scientist.html

Estava nos EUA... Este ano, por cá, há demasiado para fazer... Fica a lembrança.

terça-feira, outubro 30, 2007

sexta-feira, outubro 26, 2007

Gosto

Ia a subir a Rua de Santa Catarina. Já estava bem lá no topo. Ia para casa. Do nada, do outro lado da rua, gritam: "Oh não-sei-dos-quantos estás a roubar o stôr?" À minha frente um acanhado adolescente, acanhado e encolhido dentro de um casaco caqui, encapuzado dentro do mesmo - andam todos assim agora - fala com um homem relativamente jovem. Insistem os brincalhões do outro lado: "Oh stôr, o não-sei-dos-quantos anda a roubá-lo?" Riem-se. "Nada disso, nada disso." Ri-se. Volta à conversa. (...) "Mas stôr ela não gosta de mim, não gosta, stôr." "Está bem, mas ouve..."

Gosto de stôres assim.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Todos Iguais, quando?


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio

António Gedeão

Lemos vezes sem conta o poema. Inicialmente os miúdos não percebem, os miúdos. A miúdas emocionam-se logo, à primeira leitura, emocionam-se, relêem, trelêem. Querem explicar aos colegas. Querem falar. Têm muito para dizer. Coisas de mulher, acho eu. Volta-se a ler, explica-se, as meninas ajudam, toda a gente se rende. No fim. A questão é importante, não passa despercebida, nem mesmo num meio tão pouco cosmopolita como é o do interior norte. Rendem-se sempre. Nunca o contrário me aconteceu numa turma. Rendem-se às palavras. Por atitudes. Não passam a ver diferente, mas vêem mais além. É o bom de se ler este poema na altura certa, no sétimo ano, ou no oitavo – já nem sei bem... Não sei como fazem em casa, com os pais, os primos, os amigos mais velhos, se calhar não fazem nada, manda a lei do mais forte, mas se se lembrarem do poema quando forem eles os mais fortes cumpri a minha função. Social.

Às vezes penso que já fui alvo de racismo: no meu semestre em Paris quando milhentos alguéns se surpreendiam porque o nível do meu francês era excelente e isso não era “português”, ou quando um outro alguém execrável, perdão uma renomadíssima, professora de Latim da Sorbonne se recusou a aceitar que eu tivesse telemóvel e vivesse em Montparnasse porque isso não era de todo “português” e o nome não engana. Ou quando estive em Londres e a companhia aérea achou de arrumar os únicos três portugueses do voo no fim do avião, uma filinha só para nós, bem juntinhos, longe dos brits. Se calhar foi só discriminação – não o será toda a forma de racismo? Se calhar estou a fazer um filme – faço muitos, é do que faço mais e melhor. Mas no meu íntimo jaz aquele incómodo perene do “E se...” que é bem capaz de ter sido.

Tenho uma simpatia especial pela diáspora. Portuguesa, claro, mas por toda e qualquer uma. Já vivi em muitos sítios. Já estive muito tempo fora de casa. Já passei por muitas situações e já vi muita coisa. Não acredito que alguém saia da sua casa, da sua cidade, do seu país porque quer. Não acredito mesmo. Não há lugar como a nossa casa. Esteja ela na nossa cidade natal ou noutro qualquer recanto do país ou do mundo. Não acredito que uma pessoa que saia da sua casa porque quer. Sai porque precisa. Porque a sua casa não lhe dá as condições que merece, as possibilidades a que aspira, o direito ao sonho. Condições, direitos e possibilidades que ninguém, em nenhum lugar do mundo, tem o poder, não falemos sequer em direito, de dissipar. E não se trata de demagogia, o El-Dorado existe mesmo – pode não ser (apenas) os EUA, curiosamente nos dois semestres que lá passei, no estado mais conservador da nação, fui optimamente acolhida –, mas lá que existe, existe – acredito mesmo nisto.

Somos todos feitos do mesmo. Um homem, a Humanidade. O bem de um é o bem de todos, o mal de um, o de todos.

Não será possível ler ao rufia que agrediu gratuitamente uma miúda, adolescente, no metro de Barcelona o poema de António Gedeão, já não tem treze anos, é porventura tarde; de resto devem libertá-lo hoje, daqui a umas horas, antes ou depois disso ponham-no, ao menos, a ver o América Proibida, por favor. A bem da Humanidade.

http://pt.wikipedia.org/wiki/American_History_X

terça-feira, outubro 23, 2007

Duas pessoas, um segredo de palavras

Aquelas palavras eram minhas e eram dela. Aqueles nomes eram meus e estavam dentro de mim, como estavam dentro dela. Éramos duas pessoas que tinham um segredo de palavras. Éramos duas pessoas que, ao longe, tinham partilhado um instante. Éramos duas pessoas. Tudo em nós era igual. Se a língua que aprendêramos em crianças era diferente, esse era um detalhe muito pequeno, porque partilhávamos o mundo e o significado das palavras. E, no entanto, as palavras que eu dissera, que eu escrevera, eram diferentes das palavras que ela entendera, longe, num país distante, porque éramos duas pessoas e as pessoas são diferentes, mas partilham o mundo, o significado das palavras, e essa partilha tem exactamente a mesma importância para todos os que são felizes e são tristes.


José Luis Peixoto, A Casa, A Escuridão

segunda-feira, outubro 22, 2007

Sem tempo

O tempo pergunta ao tempo
quanto tempo o tempo tem.
E o tempo responde ao tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem.

sábado, outubro 20, 2007

Cantar?




Só se for isto.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Haja bom juízo!


Foto: Raul Marinho


Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.


São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.


Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.


São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.


Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.


Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

in, Garras dos sentidos, Agustina Bessa-Luís

quarta-feira, outubro 17, 2007

2 em cada 6 pessoas morrem à fome, hoje....


... LEVANTA-TE CONTRA A POBREZA!


O Município de Braga é uma das entidades parceiras da organização da "Semana Objectivo 2015", iniciativa que procura impulsionar os cidadãos a exigir aos seus líderes políticos o cumprimento, até aquela data, dos compromissos assumidos na designada "Declaração do Milénio", ou seja, incentivar políticas públicas, tanto em países ricos como em países pobres, que tenham impacto positivo no desenvolvimento sustentável dos países mais desfavorecidos.



A "Semana Objectivo 2015", a primeira do género em Portugal, decorre até 17 de Outubro, sendo promovida localmente, além da Câmara Municipal de Braga, pela Comissão Justiça e Paz, Associação Académica da Universidade do Minho, Caritas Diocesana, Confederação Nacional de Acção sobre o Trabalho Infantil, Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa e Federação das Associações Juvenis de Braga.

Neste contexto, várias escolas do concelho vão marcar esta acção com a exibição de faixas brancas – símbolo do combate à pobreza global – e com outras actividades.

No âmbito de uma mostra de cinema documental, que tem por palco a Videoteca Municipal, alguma escolas secundárias participam igualmente nas sessões da tarde, assistindo a documentários que vão servir de tema para posterior trabalho escolar.

De igual forma, estão previstos passeios, bailes e festas em que o combate à pobreza será devidamente assinalado.

A "Semana Objectivo 2015" culmina no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, com a iniciativa global "Levanta-te e Faz-te Ouvir Contra a Pobreza e Pelos Objectivos do Milénio" (17 de Outubro, 10h00, Avenida Central).

Os eventos do "Levanta-te e Faz-te Ouvir" serão espontaneamente organizados por grupos de pessoas que vão levantar-se e fazer-se ouvir, entre as 21h00 de 16 de Outubro e as 21h00 do dia seguinte, demonstrando, assim, o seu apoio através da participação num movimento social que se propõe juntar milhões de vozes a nível global.

No ano passado, mais de 23 milhões de pessoas associaram-se a este momento, o que permitiu estabelecer um novo recorde mundial, que se pretende seja ultrapassado este

Para conhecer a programação das várias iniciativas a desenvolver neste contexto, aceda a:

http://www.objectivo2015.org/pdf/programa.pdf .

terça-feira, outubro 16, 2007

Proibido esquecer



Quando o poeta disse: "As palavras estão gastas" não se enganava. As palavras estão gastas. Na verdade, as palavras sempre estiveram gastas. São gastas, as palavras. São gastas, são ocas, são vazias, são etéreas, são barro, são pó, são nada. Nada. Nada são, nada valem. De nada servem. Para nada servem. Totalmente desprovidas de valor em si, geradas por justaposição, uma amálgama de signos miserável. Um nada.
E no entanto, um dia, decerto no início dos tempos, convencionou-se o oposto. São tudo: sol, céu, colo, revolta, sopro de vida, esperança, amparo, luta, sonho... Depois desse dia, muitas e muitas vezes, as palavras regressaram à sua original vaguidade. Sinais dos tempos.
Porque agora poucas vozes são capazes de encher as palavras de valor, é proibido esquecer Adriano Correia de Oliveira.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Blog Action Day



On October 15th, bloggers around the web will unite to put a single important issue on everyone’s mind - the environment. Every blogger will post about the environment in their own way and relating to their own topic. Our aim is to get everyone talking towards a better future.

Alguns dias deviam ser feriado.
O dia de aniversário da minha mãe devia ser feriado. (Já o disse.) O dia do meu aniversário devia ser feriado. (Digo-o agora.) E hoje. Hoje devia ser feriado. (Digo-o todos os anos durante mais de uma semana.) Hoje, 15 de Outubro, dia do nascimento do Baía, dia do nascimento do Nietzsche. (Bem, dia do nascimento de tantos outras figuras, anónimas ou não, mas que não me dizem tanto como estes dois.)
O Nietzsche caiu-me ao colo no décimo segundo ano. A Origem da Tragédia. Em Filosofia. Desde esse Março de 98 esse Nietzsche, de vinte e um anos, idealista, absolutamente apaixonado pela cultura clássica e apaixonante permanece, não à cabeceira, mas quase, na mesa de trabalho.
Do Baía, do Baía já escrevi muito por aqui. Para não me repetir...

http://substante.blogspot.com/2006/03/maxime-gnoto-deo.html

Quanto ao ambiente - o ambiente não faz anos hoje, fez há dias, graças ao Mr. Al Gore - aposto que vai ser mais falado que todos os nados neste dia, e muito melhor do que eu em relação aos senhores acima!

Duvidam? Então, passem por aqui:

http://testaravida.com/2007/10/15/blog-action-day/#comment-10363

quinta-feira, outubro 11, 2007

Do Outono


Os Outonos da minha vida misturam-se com os Outubros-começo-de-aulas da minha infância. Na Madeira, as aulas começavam sempre em Outubro, agora já não, mas há vinte e um anos atrás foi em Outubro que fui para a escola pela primeira vez.
Foi em Outubro que calcei as minhas primeiras galochas, cor de rosa clarinho, bem bonitas por sinal, foi em Outubro que estreei o meu guarda-chuva cor de laranja, único companheiro de brincadeiras infantis - que eu nunca fui menina de bonecas, nem peluches, nem carinhos, nem chávenas, bules e fogões; só livros e tintas e o dito guarda-chuva. E era em Outubro, a cada Outubro, que surgia um impermeável novo. Logo, Outubro é sinónimo de chuva, lama, muita lama, que há vinte anos atrás as estradas já eram boas, mas não são o que são hoje, vento muito vento, vento que uiva e fustiga as árvores que balançam exageradamente para me saudar, guarda-chuvas que se viram ao contrário em protesto, bátegas de água que me molham o cabelo e descompõem as tranças, cabelos que se soltam e, inquietos, se encaracolam com medo do cinzento do dia, ou da chuva, ou do vento, ou de tudo, mesmo no interior quentinho da sala de aula.
Não é a minha estação do ano predilecta, o Outono. Mas tem castanhas. E por elas tenho especial adoração. Porque o Outono não é apenas uma sucessão de Outubros pelos tempos dos tempos. Não. O Outono dá-me Novembros de castanhas a estalar de mãos escurecidas, mas sempre quentinhas para as minhas, quase sempre frias, impacientes, à espera daquele aconchego aninhado, escondido, no interior das páginas amarelas de uma antiga lista telefónica, tal como me aninho e me encolho dentro do casaco ou da sobreposição deles, depende do dia. E assim o triste Outono, pequeno, frio, despido de folhas, enche-se de cor, bem, pelo menos de sabor. E calor. E o calor sabe sempre ao sítio em que deixámos o coração, a nossa casa, feita de pais e irmãos ou namorados ou amigos, ou, se tivermos sorte, todos eles, e isso torna-o quase a melhor estação do ano. (E tudo graças às castanhas!)
Mas um dia, é sempre assim, um belo dia, num dia específico lá para os finais de um Setembro que já foi mas não esqueço, o meu Outono transfigurou-se. Arrumou a tristeza, pôs as castanhas assadas no fundo da prateleira das coisas que dão graça às estações do ano, e, à sua frente, bem à vista de todos, colocou os beijos. Ele dizia que os dele eram melhores no Outono, viciavam, e que achava que os meus olhos lhe lembravam o Outono e não via tristeza nas folhas que voavam ao vento no Outono, nem no frio do Outono, nem nas tardes cinzentas de Outono passadas na companhia de uma certa rapariga de olhos castanhos, cor de Outono!... Depois ria-se, baixinho às vezes, e acrescentava que quando mudasse a estação, haveria de proclamar o mesmo. "Mas no fundo tenho razão." - concluia. "Razão? Acerca de quê?" "Acerca dos beijos!"

E os meus Outonos continuam pequenos, frios, cinzentos, despidos de folhas, repletos de castanhas quentinhas. E, todavia, desde então, nunca mais, iguais.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Mundos e cheiros


Regressei hoje. De casa, da ilha, para o trabalho, para Braga, para a Universidade, para as correrias, o metro, o comboio, para cá. Para o corre-corre de sempre com retorno certo no fim do dia à cidade onde teimo em deixar o coração.

De casa trago uma data de recordações - acontece invariavelmente assim quando venho da ilha: lá, a cada esquina dobrada surge um amigo, um conhecido, uma colega de escola, os amigos das irmãs, os amigos recentes mas grandes, a educadora favorita do infantário, o filho da professora-inspiração do sétimo ano, enfim um sem número de pessoas que formam a manta de retalhos a que chamamos vida, por vezes demasiado curta para nos cobrirmos, por vezes demasiado pesada para levarmos connosco para todo o lado, todavia sempre única, sempre nossa, para o bem e para o mal.

Nestas minhas escapadelas até à ilha, quando a saúde da minha mãe não nos prega uma partida, costumamos, eu e ela, fazer uns trabalhinhos de mãos na varanda ao fim da tarde, porque o tempo convida, a vista da nossa varanda, o pôr-do-sol e o mar também. Trabalhos que eu acho lindíssimos e que ela repudia consideravelmente porque teve que fazer muitos, a contra-gosto, na juventude. Mas, porque eu gosto, me relaxa e me distrai, ela lá vai me acompanhando. Desta vez não foi excepção e acabadas as linhas, e porque ela estava a trabalhar, indicou-me a loja mais indicada para comprar as ditas, fez-me decorar o número e a marca, porque um bordado-madeira só é digno desse nome se uma data de coisas estiver nos conformes, entre as quais obviamente as linhas. facilmente encontrei a tal loja. Uma lojinha situada numa célebre rua do centro do Funchal, comércio tradicional no seu melhor, entro, acabo rapidamente a conversa que estava a ter ao telemóvel, dirijo-me ao balcão e dou de caras com a Isabel.

Muita, boa e má, Isabel há na minha vida, mas de todas esta foi a primeira que conheci, minha coleguinha do quinto ano, nunca mais me esqueci dela, até porque por uma palermice, nem sei qual agora, incompatibilizou-se comigo a meados daquele ano escolar. Resultado: sempre que nos cruzávamos ela emitia um som muito característico, igualzinho ao de um spray em utilização. A claríssima e pérfida alusão não colhia - se há coisa que me caracteriza é a ausência de maus odores corporais, sempre foi assim, toda a gente se admira, ninguém sabe explicar, mas enfim... coisas estranhas - Por isso, pela injustiça, pela ignomínia, magoou-me profundamente. E nunca chegámos a resolver o nosso diferendo - esse ano na escola pública justifcava-se pela exiguidade de vagas no Colégio onde haveria de ingressar no sexto ano e permaneceria.

Agora, ali, frente a ela, morena, pequenina, igualzinha, tudo isto me veio ao pensamento, num ápice, milhões de imagens a desfilar; o mesmo se passaria com ela, tive quase a certeza ao sorrir-lhe, não me retribui, encaracola-se, olha para baixo, ocupa-se com uma minudência qualquer; respeito o constrangimento, entendo-o, espero por uma outra funcionária, faço o pedido, obtenho o que quero, pago, saio. Não olho para trás, não gosto disso. Tudo tem um timing, o que é importante tem um timing e é dito, preferencialmente, olhos nos olhos, em alguns casos, mão na mão. Este não era um desses casos, em definitivo.

No entanto, fiquei triste. Foi muito triste toda a situação actual, muito mais, mil vezes mais que o nosso passado. Ainda agora revejo aquele encaracolar-se, aquele meter-se no seu mundo pequenino por causa de um meu, maior apenas na cabeça dela, vejo aquela fronteira a traçar-se, quase palpável entre nós, vejo, vezes sem conta. Como se habitássemos mundos diferentes, para a eternidade irreconciliáveis. Não gosto disso. É como a história da esperteza saloia que erradica as diferenças entre brancos e pretos numa sala de aula para a substituir pelos meninos mais azuis e os menos azuis. O azul é uma cor linda, mas somos todos feitos do mesmo, devíamos ser todos um - digo eu.

Esta noite, sensivelmente a meio do trajecto entre Braga e Porto, entra no comboio um grupo de romenos. Os homens juntam-se a outros dois que já estavam sentados há duas ou três paragens nas quatro cadeiras opostas às em que me encontrava eu e a minha mala, que também necessita de assento, mercê do peso das fotocópias. As mulheres, querendo também participar da conversa e da risota, normal entre conterrâneos em terra alheia, que haveria de tomar lugar ali, sentam-se comigo. Não tenho nada contra os romenos, tenho muito carinho por todos os emigrantes e qualquer pessoa que não esteja no seu país pelas mais variadas razões porque não há lugar como a nossa casa, ou pelo menos aquele cantinho onde nos ficou o coração, mas uma coisa é certa: aquelas pessoas tresandavam a lixo. Lixo, não suor, não falta de banho, lixo. Não sei se era lixo o que transportavam nos sacos imensos que traziam, a custo, às costas, mas era esse o odor que exalavam e que se pespegou à nossa carruagem até ao fim da viagem. Sei que podia ter mudado de sítio, devia - dizem-me. De facto teria evitado um mal-estar, um constrangimento, um hercúleo trabalho de auto-controlo para não vomitar, nem fazer cara feia, três coisas e meia que não me foram muito leves.

No entanto, gosto de entender, quis tentar perceber o porquê daquilo. Razões culturais, problemas sociais, motivações pessoais... (No fim, não consegui perceber.) Quatro homens que falam muito e se riem ainda mais, um que vai repetindo o nome de cada apeadeiro no seu melhor português, uma mulher sem rosto, só com costas, ao meu lado; um olhar quase infantil, frontal mas triste, pintado por um indisfarçável lampejo de cobiça em relação ao meu Swatch Scuba, efectivamente já velhote, que eu podia de boa vontade dar, tenho outro, mais bonito até, cor de rosa, mas até dava os dois, conheço-me: daqui a nada compro outro, posso dar, ao contrário da menina, que tem no pulso um branquinho, bonito até, cor e bracelete da moda, mas parado.

Não percebi muito, mas tenho para mim que o mundo que eu utopicamente pretendo único para todos não existe - a não ser para mim -, porque as pessoas preferem criar mundos próprios, do tipo bola de sabão gigante acabadinha de soprar em redor, que nada têm a ver com os mundos interiores que habitam toda a alma humana, mas que dão jeito quando o medo seca a saliva e as palavras e que, ocasionalmente, impõem, tipo bolha que se rebenta para os devidos efeitos, aos outros quando se crêem destituídos de tudo.

terça-feira, outubro 09, 2007

"Telefonaste, bebé?"

Há dias assim. Bons.

quinta-feira, outubro 04, 2007

HOJE

Hoje a minha mãe faz anos.
Devia ser feriado, regional pelo menos. Mas não. Foi trabalhar de manhã, teve chatices - como sempre quando se trabalha com gente, seis dezenas de adolescentes para ser mais precisa - voltou a casa à hora do almoço, comemos a sopinha que eu preparei - estamos de dieta as duas - (especialmente porque logo há lauto banquete e bolinho de aniversário com creme, muito creme, até mais não.)
Hoje a minha mãe faz anos.
E depois do jantar vou ver o David. A minha mãe não entende, mas o meu pai agradece o serão a dois. Agradece muito. Ao David, especialmente.
Hoje a minha mãe faz anos.
E vou chegar tarde a casa. E amanhã vamos de fim de semana prolongado não sei para onde. O meu pai é que sabe. Porque não aceitou nenhuma das minhas sugestões. Deve ter alguma coisa em mente. Ou se calhar coisa nenhuma e ficamos em casa os três os três dias.
Hoje a minha mãe faz anos.
E toda esta semana me tenho sentido criança. Feliiiiiiiiiiiiiiiiiiiizzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!!!!!!!!!!!! Como só em criança se pode ser. Com direito a bolinho predilecto trazido, quentinho, todos os dias pela mamã. Com direito a pratos predilectos confeccionados pelo papá. Com direito a preguiça e chocolates, e mimo, mimo e ainda mais... mimo.
Hoje a minha mãe faz anos.
E tenho de me ir embora porque tenho uma série de coisas, bonitas, para fazer antes de ela chegar, daqui a menos de três horas.
E, depois de ler este post na horizontal, é óbvio, sou muito totó, mas... fazer o quê? Além do que, nisto de totice, saio toda à minha mãe. Que faz anos HOJE.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Amanhã.


Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.

terça-feira, outubro 02, 2007

Por causa de ontem

AJ, Funchal, 2003
NJ, AJ e PC, Castelo Branco, 2003

NJ, Castelo Branco 2003

AJ, Castelo Branco, 2003


Do fundo do baú. E da memória.


segunda-feira, outubro 01, 2007

Delicioso

Saudações musicais??? Que foleiro! Eu queria era um beijo!

sexta-feira, setembro 28, 2007

Schmoozed!

Fui schmoozada. Fui schmoozada pela Cientista. http://testaravida.com/
E apesar de não ser mau, isto de ser schmoozada, schmooze é das palavras mais horríveis que ouvi/li nos últimos tempos. Paradoxalmente é das melhores coisas que se pode dizer de um blogger. Pelo que, apesar de soar mal, vindo de quem veio SEI que vem com um selo de carinho.
As palavras, soando bem ou mal, não nos pertencem - aprendi há bem pouco. Nossos, apenas os sentimentos com que as pintamos. Dos dois lados do arco-íris.
Então, esta onda do schmooze, que é um verbo note-se, começou com o Mike http://thingsbymike.com/power-of-schmooze-award/, seu autor, e é uma espécie de reconhecimento, prémio se quiserem, que tem por objectivo "... reunir os blogs que são adeptos dos relacionamentos "inter-blogs" fazendo um esforço para ser parte de uma conversação e não de um monólogo."
(Acho que toda a blogosfera schmoozes, ou schmooza à portuguesa, porque não conheço blogger nenhum que não tenha os seus blogamigos, dia- ou mono- logando, desconfio até que muito boa gente vem para cá porque acha que conseguir amigos aqui é mais fácil, há portanto, quanto a mim, um schmoozer dentro de cada blogger, para o melhor e para o pior.)
De qualquer dos modos, como devo indicar cinco outros schmoozers, cá vai:
Done.

quinta-feira, setembro 27, 2007

O cheiro do doce

É Outono. Estou em casa. O meu pai fez esta manhã a vindima. Eu ajudei. Ajudo sempre. Se há coisa de que gosto realmente é podar as uvas, inspirar o doce cheiro que exalam. Por isso é que o sonho de uma vida, a minha, é acabar os meus dias numa quinta no Douro, com quinhentos netos debaixo do alpendre, com o rio por cor, a uva por sabor e o doce por cheiro.
Fez-se num instante, num sopro, enquanto esteve sol. Que agora o dia entristeceu e ameaça chover. Lembrei-me do meu avô, recordei vindimas passadas, quando um fim de semana inteirinho quase não chegava para tudo o que se tinha que fazer, quando eu era pequenina e olhava tanta gente, alegre: a minha mãe e a minha avó atarefadíssimas, os meus irmãos mais novos sujos de mosto da ponta dos cabelos aos pés, quando eu era pequenina e olhava.
Hoje não tive tempo para ser pequenina e olhei pouco, muito embora o cheiro doce fosse o mesmo de há anos atrás. O cheiro do doce da memória, o cheiro doce de calor e cor... das uvas.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Do Julgamento

"Não julgues. A vida é um mistério, cada um obedece a leis diferentes. Conheces porventura a força das coisas que os conduziram, os sofrimentos e os desejos que cavaram o seu caminho? Supreendestes porventura a voz da sua consciência a revelar-lhes em voz baixa o segredo do seu destino? Não julgues; olha o lago puro e a água tranquila onde vêm quebrar-se as mil vagas que varrem o universo... É preciso que aconteça tudo aquilo que vês. Todas as ondas do oceano são precisas para levar ao porto o navio da verdade. Acredita na eficácia da morte do que queres para participares do triunfo do que deve ser. "

Jeanne Vietinghoff (citado em "In Memoriam", por Marguerite Yourcenar)

terça-feira, setembro 25, 2007

sexta-feira, setembro 14, 2007

Chatites


Primeiro, primeiro foi o ter que vir a correr do Reino Unido para cá, porque a minha entidade patronal tirou da gaveta, bem do fundinho - tenho por certo, a papelada que lhe mandara desde Julho e achou de exigir, mal e intransigentemente, uma assinatura minha, o quanto antes - pois claro! E os meus cinco dias de férias, exaustivamente, esperançosamente, carinhosamente planeados, com visitinha a Buckingnham e London brigde, e Big Ben, e Convent Garden, e os museus e a National Gallery e a Madam Tussaud e a visita à amiga Keela em Bath com cafézinho "científico" pelo meio... e... e tudo o mais de que já não me lembro!? Tudo para trás das costas. Primeiro dia de férias, meaning: primeiro dia depois do fim da conferência teve a Jo que madrugar para o aeroporto para arranjar um regresso a Portugal o quanto antes. Primeiro dia de férias adiadas, primeiro dia de suplício. Não havia volta. Ou melhor, só havia meia volta: até Amsterdão, sem problemas, certainly Ms. J., daí para Lisboa é que não, not in a couple of days, well, three days to be exact. Três dias. T-r-ê-s dias. Lembrei-me do simpatiquíssimo senhor do táxi que me tinha levado para o centro quando cheguei: Então e se for para Faro? Cardiff-Faro?
Havia. Havia mesmo! E vim, nessa manhã de sexta e cheguei a Faro à hora de um almoço que não tive tempo de comprar e apanhei o expresso para Braga e lá assinei ao fim do dia o que tinha a assinar e quando por fim regressei a casa, estava cansada demais para fazer o que quer que fosse. Fui dormir.

E no dia seguinte tinha dores de garganta. Tenho sempre dores de garganta quando chego. Do Porto para o Funchal: dores de garganta. (De todas as vezes). De Cardiff para o Porto - agora - dores de garganta. Nada mais dentro da normalidade, dadas as circunstâncias. Pastilhas para a garganta, que isto de ser filha de enfermeiro e irmã de médica até tem vantagens, dor mais ou menos controlada, ler que é para isso que servem as férias. Adormecer ao ler é que já não seria assim tão normal, mas o cansaço das viagem explica e explica bem, já acordar com a maior dor de ouvidos da Humanidade não há cansaço, por muito eloquente que seja, que consiga explicar, se bem que o meu pai - e o meu amigo Alter - têm umas teorias bem interessantes sobre a frequência das viagens, o cansaço e a gripe... Bem, não houve maneira de controlar - nem me atrevo a dizer curar, notem! - a otite, ou melhor o vírus, porque nesse dia foi otite, no seguinte, faringite, dois dias depois laringite, e por fim, já se estava à espera, uma maleita qualquer que eu acho que foi a personificação da morte, vá uma gripe, mas que todos me dizem que foi constipação - como o "todos" é a soma de uma médica e um enfermeiro, acho que tenho que me resignar...

Existem outras teorias acerca do caso, algumas bem engraçadas.

A teoria da mãe: excesso de trabalho. Excesso de trabalho dá stress, o stress baixa as defesas do organismo... et voilá!

A teoria dos amigos: falta de tempo. Não tens tempo para o café, nem para os nossos almoços, não vens connosco à praia, não sais connosco, não nos vês, ficas triste, tristinha ficas sem defesas... et voilá!

A teoria dos irmãos mais novos: (é parecida à do pai, mas não tão generosa), andas sempre por fora, só viajas, que queres, nem tudo pode ser bom!

A teoria da irmã a seguir (é parecida à teoria da mãe, partilham o nome, partilharão ideias também...): Chegaste dos EUA em Janeiro, entretanto, Santiago, Bruxelas, Leuven, Cracóvia, Cardiff, três idas à Madeira pelo meio, a última das quais only God and you know, mais trabalho, mais stress, mais a tua vida pessoal, mais as vidas dos amigos, mais... Férias! Férias é o que tu precisas!

Férias, este ano já não há. Foram-se. Como os cinco dias a mais no UK, como o cafézinho "teste de vida", como a confraternização com os amigos e a visitinha à melhor amiga, como a actuação da minha irmã mais nova ontem na abertura do CCB, como tantas outras coisas que podiam ser, mas não serão jamais...

Este Verão foi para esquecer. Nunca mais chega o Outono!

segunda-feira, setembro 03, 2007

Só escrevo...

... quando conseguir voltar a engolir de novo.

Tenho dito.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Bogus!

Da relacao entre os nomes e as pessoas.
Gosto de nomes, pessoalmente, gosto mesmo muito de nomes. Tenho diversas teorias acerca deles: dos proprios - que estabelecem, regra geral, uma especie de solidariedade tacita entre homonimos; dos comuns - que nao tem, em rigor, sinonimos; dos abstractos - que pouco tem de nao-sensivel, dos concretos - que variam demasiado na concretude, enfim... Por acaso, ou talvez nao, porque trabalho com linguagem, passam-me milhares de nomes todos os dias pela retina - passam-me milhares de coisas pela cabeca tambem, por causa deles precisamente. Retenho alguns: primeiro, os que preciso de saber, depois os que me interessam pessoalmente, mas alem destes, nao sei se antes, se depois, tenho uma especial aptencia, termos todos porventura, para memorizar os que deixam uma marca profunda (ou seja: normalmente, os que nao devia saber e a quase ninguem interessam).
Porque a conferencia termina esta tarde, porque ja faz parte das convencoes instituidas, lei nestas coisas, ontem a noite decidimos ir explorar o centro da cidade - 'explorar' aqui significa jantar e ir a um pub depois - ate aqui nada de extraordinario, nao fossem os comentarios do costume, como e possivel que tu que es a mais nova, sejas precisamente aquela que doesn't drink, nor gets crazy or wild. Bem, as respostas surgiram naturais - depois de mais de um quarto de seculo a ouvir os mesmos comentarios, outra coisa nao seria de esperar.
O lider do grupo, lider apenas porque se tinha dado ao trabalho de na vespera explorar o centro da cidade em busca dos sitios mais interessantes, tipicos e divertidos, para nos levar, foi um polaco, dos seus cinquenta e muitos anos, cujo nome se presta a um diminutivo muito engracado em ingles (e obvio, muito especialmente para todos os nao-Polacos): Bogus.
Bem, o Bogus levou-nos entao ate um restaurante tipico, com uma decoracao interior muito galesa, bom ambiente, boa comida e bom servico. Ate ai tudo muito bem, conversamos, rimo-nos, fartamo-nos de rir - o Bogus e muito espalhafatoso, ou melhor, gosta de ver toda a gente a rir, o tempo plantou sorrisos e passou rapido. Ok, so we have to go, because the karaoke at this pub, you have to see it, it's unbelievable, they're really very good! Fomos para o tal pub que nao era pub nenhum, mas um bar gay que tenho a certeza que nem o Bogus, nem nenhum dos outros da mesma faixa etaria (e nacionalidade - porque tambem havia pessoas da nossa idade), nao faziam ideia do que se tratava. De qualquer dos modos, os outros nao queriam ficar ali, sentiam-se desconfortaveis, o Bogus nao percebia porque. Eu olhava para a alema e ria-me, ela olhava para mim e ria-se. (A Polonia deve ser um pais muito sao.) Entao, retiramo-nos mais ou menos estrategicamente e arrastamos connosco um Bogus super-ofendido. I don't understand. I really don't understand. O ressentimento parecia ser tal que rapidamente abandonamos a ideia de sermos nos - eu e a alema - a escolher o sitio, e deixamo-lo levar-nos para outro pub desde que longe dali. Dito e feito. La entramos no segundo pub da noite, um sitio em tudo normal, excepto na clientela - absolutamente inexistente a excepcao de uma pessoa com muito mau aspecto. Ele era so um, nos oito. E a noite os aspectos diluem-se de uma maneira... Toda a gente pediu, toda a gente pagou, entram outros dois clientes, (quase) toda a gente estava a beber quando um rufia qualquer comeca a provocar o barman. Entorna-lhe a bebida em cima, empurra-o, quase o esmurra, ninguem se apercebe, estao todos de costas para o balcao excepto eu, toda a gente continua a beber e conversar, e eu, naturalmente sem beber, a ver. O barman, novinho, parecidissimo ao Chaplin dos Keane, nao sabia como fazer, mas tentava nao perder o controlo, quer por o rufia na rua, quase consegue, gracas a imponencia de dois outros clientes. Alguem me pergunta alguma coisa, respondo, quando volto a observacao da cena, ja esta o incidente sanado, tendo o barman incrivelmente servido uma outra bebida ao rufia. Dai a nada, o dito provoca o outro - o cliente que salvou o sosia do vocalista dos K. por detras do balcao, o grande que quase o tinha posto na rua. O grande nao tinha a paciencia do barman. Insulto para ca, tentativa de pontape para la, o rufia cada vez mais proximo da nossa mesa, eu a ver tudo, eu a pensar tudo - a pensar especialmente nos segurancas que nao existem e na policia que ninguem chama, e toda a gente, animada, na conversa. Eu a querer ir-me embora, porque ja vi este filme - por isso e que sair a noite is not my cup of tea - toda a gente a achar que eu sou uma freak, que estas coisas acontecem, faz parte. Eu a explicar que as coisas podem descontrolar-se, que somos todos estrangeiros, que nao ha o minimo de seguranca, que a diversao ja era, meia duzia de olhares de incompreensao e estupefaccao, eu pensar na minha cama e no meu quarto.
Quando estavamos prontos a sair, chegaram os segurancas. Quase me senti embaracada por ter feito o alarido que fiz, mas acho que nao exagerei. Nao percebo porque levaram os britanicos, tao eficientes em quase tudo, meia hora para remover um elemento perturbador de um sitio publico. Se calhar e por ter sido professora e estar habituada a sanar esses incidentes na hora. Ou se calhar a culpa e do Bogus. Da escolha bogus do Bogus.*
* Bogus - contra-feito, nao-autentico, foleiro.