Coisas que eu não percebo. Porque é que as palavras que deviam ficar connosco para sempre, no coração, na cabeça, nas mãos, em cima da secretária, no espelho da casa de banho, em post-its no frigorífico, no ligar o telemóvel, aquelas sensatas, amigas, e as outras, igualmente sensatas, mas repreensivas, do tipo abanão, tão ou mais amigas, todas, de anos e anos de vida e de mundo, porque as leva o vento as mais das vezes? Porque prefere essas e não outras, as más, porventura mais leves: as más mesmo-más e as más que-quê-são-nada-tão-puras, lindas!: as más mas só depois de muito, porque só em potência, as perigosas, as que abrem buracos em músculos vitais, aquelas que são vazias e informes e que por isso se nos colam por uma eternidade – até desbotar enfim a cor, o peso, a importância, a verdade, o valor que lhes dermos...?
Não percebo o vento. Nem esta chuva de Agosto. Nem as pessoas. Não percebo as pessoas que se sentam bem ao meu lado, me olham bem de frente, e logo, uma palavrinha e outra e ainda outra e outra, todas as palavrinhas a serem ditas, todas a sairem-lhes dos olhos, da boca, todas para mim, todas em fila, encadeadas, a chegarem aos meus olhos, aos meus ouvidos, e eu a não saber que dizer, eu a não saber como replicar. Eu a sorrir e a prosseguir o que estava a fazer normalmente. E a dizer de mim para mim Outra! e a fugir a dizer Não esquecer!, porque isso, oh boy, devo ser a pessoa mais rancorosa do Universo, Não esquecer! nem é preciso dizer.
E depois esqueço. O dia seguinte é sempre outro dia, eu sou sempre outra, as pessoas, outras também certamente. O pior é quando chega ao dia, sempre um hoje, mas sempre terrivelmente longínquo do dia em que se sentaram bem ao meu lado e me olharam bem de frente, quando chega o dia, contava, em que não se sentando perto, nem olhando muito, as palavrinhas que lhes saem são outras muito-outras, quase ternas e absolutamente diferentes e indiferentes de e àquelas palavras primeiras; como se aquelas palavras primeiras nunca tivessem existido ou então tivessem existido numa outra vida ou ainda com outras pessoas. E eu novamente sem saber o que dizer, eu novamente a não saber como replicar. Eu a sorrir e a pensar no quanto é ténue a linha que separa a sanidade da loucura, nunca sabendo qual de nós é o louco mais-louco, antes de desistir de saber o impossível e prosseguir o que estava a fazer o mais normalmente possível – que pensamentos destes absorvem-me quase completamente e... tão longe o trabalho ali tão perto.
Acho que, dos mil quatrocentos e noventa e sete, este é o meu pior sorriso. Cá para mim que nunca o vi e, a cada vez atordoada com a surpresa sempre nova, mal o sinto, nem deve chegar a ser sorriso: um rasgão pequenino a acompanhar um movimento de olhos indefinido, gestos que não querem dizer mais do que Esta agora! – expressão máxima do rancor joanino... –, gestos que na realidade não querem dizer nada. Que no meu mundo a generalidade das palavras, mas estas sobretudo, estas palavras, pagam-se com o silêncio. O mais absoluto silêncio é o melhor sítio para pensar no que fazer à vida.
Há também aquelas pessoas que são na vida da gente, na minha, um marco. Não por marcarem o que quer que seja, ou marcarem nesse aspecto pouco, mas porque entram na minha vida com uma missão para elas certamente oculta, mas óbvia para mim: a de determinarem, determinar-se, quem sou, que tipo de pessoa sou. Pessoas que são um desastre que soluça palavras e respinga momentos, estranhamente, só na nossa direcção, pessoas aos tropeços para se cumprirem, para nos cumprirem?..., pessoas que embrulham os nossos momentos felizes nas piores palavras, mas que também têm o condão de desembrulhar de momentos infelizes as palavras mais certas, todo o conforto no colo de uma palavra delas. E por isso enternecem-me, e por isso não as consigo relegar para a esfera segura do silêncio. Mas perturbam-me também: enternecem-me tanto quanto me perturbam. E confundem. E me deixam com poucas palavras, sem sorrisos, nem pensamentos mais ou menos profundos acerca da mente humana. Essas são as pessoas que me põem a escrever aqui agora, numa linha com mais dúvidas do que ternura, na seguinte com mais ternura do que dúvidas, quase esquecida do almoço que já não vai ser, quase trocando essa prioridade pelo peso, na memória, de palavras ditas, más - não sei, infelizes - talvez..., palavras ditas, num dia triste, distante, tão presente!, tão presentes, essas palavras que quase esqueço o almoço, a agenda para a tarde, tudo, e por isso maldigo o vento.
Levasse-as, o vento.
Não percebo o vento. Nem esta chuva de Agosto. Nem as pessoas. Não percebo as pessoas que se sentam bem ao meu lado, me olham bem de frente, e logo, uma palavrinha e outra e ainda outra e outra, todas as palavrinhas a serem ditas, todas a sairem-lhes dos olhos, da boca, todas para mim, todas em fila, encadeadas, a chegarem aos meus olhos, aos meus ouvidos, e eu a não saber que dizer, eu a não saber como replicar. Eu a sorrir e a prosseguir o que estava a fazer normalmente. E a dizer de mim para mim Outra! e a fugir a dizer Não esquecer!, porque isso, oh boy, devo ser a pessoa mais rancorosa do Universo, Não esquecer! nem é preciso dizer.
E depois esqueço. O dia seguinte é sempre outro dia, eu sou sempre outra, as pessoas, outras também certamente. O pior é quando chega ao dia, sempre um hoje, mas sempre terrivelmente longínquo do dia em que se sentaram bem ao meu lado e me olharam bem de frente, quando chega o dia, contava, em que não se sentando perto, nem olhando muito, as palavrinhas que lhes saem são outras muito-outras, quase ternas e absolutamente diferentes e indiferentes de e àquelas palavras primeiras; como se aquelas palavras primeiras nunca tivessem existido ou então tivessem existido numa outra vida ou ainda com outras pessoas. E eu novamente sem saber o que dizer, eu novamente a não saber como replicar. Eu a sorrir e a pensar no quanto é ténue a linha que separa a sanidade da loucura, nunca sabendo qual de nós é o louco mais-louco, antes de desistir de saber o impossível e prosseguir o que estava a fazer o mais normalmente possível – que pensamentos destes absorvem-me quase completamente e... tão longe o trabalho ali tão perto.
Acho que, dos mil quatrocentos e noventa e sete, este é o meu pior sorriso. Cá para mim que nunca o vi e, a cada vez atordoada com a surpresa sempre nova, mal o sinto, nem deve chegar a ser sorriso: um rasgão pequenino a acompanhar um movimento de olhos indefinido, gestos que não querem dizer mais do que Esta agora! – expressão máxima do rancor joanino... –, gestos que na realidade não querem dizer nada. Que no meu mundo a generalidade das palavras, mas estas sobretudo, estas palavras, pagam-se com o silêncio. O mais absoluto silêncio é o melhor sítio para pensar no que fazer à vida.
Há também aquelas pessoas que são na vida da gente, na minha, um marco. Não por marcarem o que quer que seja, ou marcarem nesse aspecto pouco, mas porque entram na minha vida com uma missão para elas certamente oculta, mas óbvia para mim: a de determinarem, determinar-se, quem sou, que tipo de pessoa sou. Pessoas que são um desastre que soluça palavras e respinga momentos, estranhamente, só na nossa direcção, pessoas aos tropeços para se cumprirem, para nos cumprirem?..., pessoas que embrulham os nossos momentos felizes nas piores palavras, mas que também têm o condão de desembrulhar de momentos infelizes as palavras mais certas, todo o conforto no colo de uma palavra delas. E por isso enternecem-me, e por isso não as consigo relegar para a esfera segura do silêncio. Mas perturbam-me também: enternecem-me tanto quanto me perturbam. E confundem. E me deixam com poucas palavras, sem sorrisos, nem pensamentos mais ou menos profundos acerca da mente humana. Essas são as pessoas que me põem a escrever aqui agora, numa linha com mais dúvidas do que ternura, na seguinte com mais ternura do que dúvidas, quase esquecida do almoço que já não vai ser, quase trocando essa prioridade pelo peso, na memória, de palavras ditas, más - não sei, infelizes - talvez..., palavras ditas, num dia triste, distante, tão presente!, tão presentes, essas palavras que quase esqueço o almoço, a agenda para a tarde, tudo, e por isso maldigo o vento.
Levasse-as, o vento.
8 comentários:
o meu silêncio também. que agora fiquei caladinha...
*
Vanessa,
O *nosso* silêncio hoje, que amanhã...
:D
Jinhos.
Consegues, tão bem, embalar-me nas tuas palavras, que espero, estas, que o vento nunca as leve. :)
Um beijinho*
Frida,
Não as leva não. :D
Estarão sempre aqui - enquanto o Blogger quiser - ihihi! - e estarão *para sempre* cá dentro, mais dentro no teu cantinho meu. :))))))
Jinhos, Rita.
Os sorrisos deviam ser sempre plataformas para a felicidade das pessoas! E as tuas palavras, magicamente embrulhadas num papel suave e requintado, enchem-nos os ouvidos (ou os olhos =) ) de uma maneira sofisticada.
Beijinhos*
Pedro,
Tal como as tuas. :))))))))))))
Tal como as tuas, palavras, amigas, enchem este espaço e e outro mais dentro e fazem renascer sorrisos no dia.
;)
Jinhos.
um dia dou-te um tambor
para uma celebraçao de lux
ta muito serio :))))))
muuuuuuuuuito serio
bjos
cesar
Observatory,
Sério, e muuuuuito?!... A sério? ;)
Venha daí o tambor!
Jinhos.
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