segunda-feira, agosto 17, 2009

Não se come chocolate de manhã

Gosto destes pais que não querem dar de pequeno-almoço bollycao, ou afins, aos filhos. Gosto, pisco o meu olho mais divertido ao olhar choroso e loiro do miúdo, a ver se lhe arranco, e consigo, um quase sorriso, migro séria para o pai, para continuar a gostar do pai que possivelmente começou o dia a respirar, inspira, expira, tabaco, mas que, não senhor, não se come chocolate de manhã, come-se um croissant simples ou um pastel de massa tenra ou um bolo a abarrotar de creme, quase de certeza, que este bar da Biblioteca é disso que tem, além dos bollycaos, claro. E continuo a achar-lhe graça.

Hoje vou achar graça a tudo. Sei. Comecei assim às sete da manhã, bem, um nadinha antes. Ia depressa, mas não a correr, ia para o metro, segura, sem cantarinha e nunca pela verdura - por muito que se queira, não há verdura no Marquês. Ia para o metro, apressada, porque mais tarde que o normal dos dias, e não escorreguei, não me desequilibrei, nem sequer tropecei - que não havia em quê - mas dei um tralho, um malho, uma queda absolutamente patética – não serão patéticas todas as quedas...? E nos dois sentidos. Resultado: dois pés estragados – e este período que rima duas vezes, engraçado!, corrijo: três vezes.

Se a isso acrescentar que o meu tornozelo esquerdo e o hálux, esfoladíssimo, do meu pé direito andam a rivalizar um com o outro no desconforto que me possam causar todo o dia, a graça aumenta – nem que seja afinal, por esta dever ser porventura a primeira vez que escrevo hálux neste blog. E as sandálias? As minhas sandálias mais bonitas, rasteirinhas, douradas, à la romana, a esquerda intacta, a direita, à frente, na zona do hálux, aberta como uma boca num estertor de dor – e a rima, a graça, outra vez!...

Escrevo isto a pensar muito no principezinho choroso por ser de manhã, e não se comer chocolate de manhã, eu que comi cereais de chocolate esta manhã, às horas indecentes a que me levanto todas as manhãs, e nem cheguei a ficar chorosa depois da queda por achar graça, porque achar engraçado é uma forma mais bonita, menos principesca mas pelo menos mais adulta, de chorar, e se calhar a culpa nem foi minha, nem da pressa, nem das sandálias, e se calhar, na volta foi mesmo, se calhar, desorientou-me o chocapic!, eis então por que caí esta manhã, os pais sabem sempre tudo.

Os pais sabem sempre tudo. E pergunto-me o que achariam os meus acerca dos dois olhos que se passeiam lá em baixo, alheios como sempre às coisas do mundo, presos como nunca a esta janela do meu lado direito.

Engraçado!, quase de certeza.

6 comentários:

Vanessa disse...

« ... e nem cheguei a ficar chorosa porque achar engraçado é uma forma mais bonita, menos principesca mas pelo menos mais adulta, de chorar ... »

(eu, que acho muita coisa engraçada. mas agora que falas nisto, reparei que é bem verdade...)

*

Vanessa disse...

e espero que não te tenhas magoado na queda*

Joana disse...

Vanessa,

Pois é.

A idade, o sizo, têm modos, muito malcriados, não é? :D



Jinhos.

Joana disse...

Vanessa,

Quase nada. ;)





Jinhos, outra vez.

Maria Rita disse...

Ainda há pais conscienciosos :)

Espero que a queda tenha sido pequenina! Antes cair por fora do que por dentro. :)

Um beijinho*

Joana disse...

Frida,

;)

(Cair por dentro dava um tratado...)


Jinhos.