São engraçadas, as pessoas, todas as pessoas, se lhes prestarmos um bocadinho de atenção. São engraçadas as pessoas, nos olhares, nos sorrisos, nos não-olhares, nos quase-sorrisos, na cabeça ao fundo para não olhar, nos lábios apertados para não sorrir, o corpo todo remetendo-se à concha, para não falar, o corpo todo curvado, encaracolado, os bons-dias e o olá, inteiros, presos no bolso enquanto fogem para dentro, as pessoas.
Síndrome de todos os dias da semana, durante o dia, que à sexta-feira à noite, ao sábado à noite, de vez em quando a meio da semana, uma ou outra noite, as pessoas, as que são engraçadas e se encaracolam mais facilmente até do que respiram, são pessoas diferentes: de cumprimentos fáceis, múltiplos sorrisos e olhares que sobram. Às vezes são-no porque saem, quando saem; outras vezes, porque em casa, quando em casa há amigos e copos, amigos e música, amigos e risos, amigos e comida, amigos e grades de liberdade enfim, amigos e tudo o que durante a semana, de dia, não há tempo de haver.
Pergunto-me onde está a autenticidade do que somos, sem saber sequer definir ‘autenticidade’. Pergunto-me onde está a autenticidade do que somos a pensar em todo o cinzento que somos, eu primeiro que toda a gente. Pergunto-me onde está autenticidade, que é humanidade e divindade, sensibilidade e força, dias bons e maus, pessoas e coisas, passados e medos, circunstâncias e surpresas, onde está a autenticidade do que somos?, eu a pensar enquanto imagino balanças e pesos e medidas, coisas para enganar o mais óbvio: o imensurável que somos. O que é ser autêntico? Seremos mais autênticos quando somos o que somos todos os dias, ou somos autênticos quando o álcool e os amigos toldam aquilo que somos todos os dias, e nos permitimos finalmente ser só, sem pensar, sem temer, sem remoer, e somos aquilo que aquela brecha revela, e somos aquela ferida que se abre e somos, do vaso de Pandora, todas as lágrimas a inundarem o mundo dos amigos, nós outros, mais ou menos nós?, um dia, ou menos, por semana.
São engraçadas as pessoas que, bem a meio da semana, bem no final da noite, nos batem à porta, pessoas amigas, pessoas que o serão sempre, amigas, mesmo quando já deixaram de o ser há muito. Culpa minha, culpa delas, culpa de outras pessoas, igualmente amigas, culpa do tempo, culpa das palavras, culpa de circunstâncias, culpa da vida, culpa minha – no príncipio e no fim de tudo estamos nós, e estamos sós.
Engraçadas, as pessoas que regressam aos lugares que foram nossos, que o serão sempre, mesmo quando não o serão jamais; engraçadas na alegria deste regresso inusitado, pelo caminho mais longo e de olhos fechados; engraçadas quando os abrem e tropeçam nas palavras; engraçadas quando acusam o esforço e se desengonçam nos sorrisos; engraçadas até quando disparam cumprimentos a velocidades em que é impossível retribuir, um após outro, após outro, após outro, mimos para disfarçar a atrapalhação, para esconder a precipitação do gesto, o desconforto do corpo em cada movimento, o medo a prender o olhar, a fuga a tornar-se urgente por qualquer meio, o cansaço, o regresso à fuga, o cansaço à frente de tudo.
Tenho andado a pensar nisto. Nisto e no quanto as pessoas engraçadas não me conhecem. Não sabem da minha infeliz caninicidade, da minha memória curtíssima para aquelas coisas dos amigos, dos meus dias cheios de outros dias, pontinhos de luz, uma chama pequenina que não apagarei nunca no que de bom me trouxe, um fogo que alimento, conservo, a alumiar cada manhã de renovada esperança na minha sempre completa alegria.
No train is a runaway train.
Síndrome de todos os dias da semana, durante o dia, que à sexta-feira à noite, ao sábado à noite, de vez em quando a meio da semana, uma ou outra noite, as pessoas, as que são engraçadas e se encaracolam mais facilmente até do que respiram, são pessoas diferentes: de cumprimentos fáceis, múltiplos sorrisos e olhares que sobram. Às vezes são-no porque saem, quando saem; outras vezes, porque em casa, quando em casa há amigos e copos, amigos e música, amigos e risos, amigos e comida, amigos e grades de liberdade enfim, amigos e tudo o que durante a semana, de dia, não há tempo de haver.
Pergunto-me onde está a autenticidade do que somos, sem saber sequer definir ‘autenticidade’. Pergunto-me onde está a autenticidade do que somos a pensar em todo o cinzento que somos, eu primeiro que toda a gente. Pergunto-me onde está autenticidade, que é humanidade e divindade, sensibilidade e força, dias bons e maus, pessoas e coisas, passados e medos, circunstâncias e surpresas, onde está a autenticidade do que somos?, eu a pensar enquanto imagino balanças e pesos e medidas, coisas para enganar o mais óbvio: o imensurável que somos. O que é ser autêntico? Seremos mais autênticos quando somos o que somos todos os dias, ou somos autênticos quando o álcool e os amigos toldam aquilo que somos todos os dias, e nos permitimos finalmente ser só, sem pensar, sem temer, sem remoer, e somos aquilo que aquela brecha revela, e somos aquela ferida que se abre e somos, do vaso de Pandora, todas as lágrimas a inundarem o mundo dos amigos, nós outros, mais ou menos nós?, um dia, ou menos, por semana.
São engraçadas as pessoas que, bem a meio da semana, bem no final da noite, nos batem à porta, pessoas amigas, pessoas que o serão sempre, amigas, mesmo quando já deixaram de o ser há muito. Culpa minha, culpa delas, culpa de outras pessoas, igualmente amigas, culpa do tempo, culpa das palavras, culpa de circunstâncias, culpa da vida, culpa minha – no príncipio e no fim de tudo estamos nós, e estamos sós.
Engraçadas, as pessoas que regressam aos lugares que foram nossos, que o serão sempre, mesmo quando não o serão jamais; engraçadas na alegria deste regresso inusitado, pelo caminho mais longo e de olhos fechados; engraçadas quando os abrem e tropeçam nas palavras; engraçadas quando acusam o esforço e se desengonçam nos sorrisos; engraçadas até quando disparam cumprimentos a velocidades em que é impossível retribuir, um após outro, após outro, após outro, mimos para disfarçar a atrapalhação, para esconder a precipitação do gesto, o desconforto do corpo em cada movimento, o medo a prender o olhar, a fuga a tornar-se urgente por qualquer meio, o cansaço, o regresso à fuga, o cansaço à frente de tudo.
Tenho andado a pensar nisto. Nisto e no quanto as pessoas engraçadas não me conhecem. Não sabem da minha infeliz caninicidade, da minha memória curtíssima para aquelas coisas dos amigos, dos meus dias cheios de outros dias, pontinhos de luz, uma chama pequenina que não apagarei nunca no que de bom me trouxe, um fogo que alimento, conservo, a alumiar cada manhã de renovada esperança na minha sempre completa alegria.
No train is a runaway train.